Não gosto de sertanejo, não gosto de Zezé di Camargo & Luciano, não gosto de coisas muito regionais; mas ADOREI o filme! Como disse o cineasta Luiz Carlos Barreto: “Todos os brasileiros deveriam assistir a este filme. É uma verdadeira aula de brasilidade”.
Quem me conhece, sabe que eu tenho uma verdadeira aversão à música sertaneja. Acho uma coisa tão brega, clichê e mal-feita que, quando estou procurando algo para escutar no rádio e sem querer sintonizo em uma estação que esteja tocando música sertaneja, a minha primeira atitude é mudar o mais rápido possível. Assim, quando fiquei sabendo que iría ter que ver esse “2 Filhos de Francisco” para escrever essa matéria que você está lendo, fiquei triste por dois motivos: primeiro porque acreditava que iria falar mal de um filme brasileiro – algo que não gosto de fazer – e, segundo, porque iria ter que agüentar um pouco mais de duas horas em um cinema assistindo a história de Zezé di Camargo & Luciano, um dos ícones da música sertaneja.
E então, eis que me pego no meio da projeção torcendo pelos protagonistas e tirando o chapéu para a vida dos caras. Vou logo adiantando que eu, Pedro Marques, nunca imaginaria, em hipótese alguma, chorar ao som de ‘É o amor’. Sim, aquela música que todas as mulheres que gostam de música sertaneja gritam ‘Aii!!! Minha música!!’ ao ouvir ‘É o amooooorrr! Que mexe com a minha cabeça e me deixa assiiiimmmmm!!’. Mas deixemos para lá e vamos para o que interessa: o filme.
Puxa vida. Algo que está de parabéns é toda a produção do longa. Há tempos não víamos algo tão competente feito inteiramente em nossa terrinha. As locações, juntamente com a reconstituição dos locais, desde Pirinópolis – local onde a família Camargo iniciou sua vida –, até a periferia de São Paulo, passando por Goiânia são incríveis.
Contudo, o grande trunfo do filme se encontra no seu roteiro e nas interpretações, especialmente as do primeiro ato do filme, que se passa na cidade natal da família. O roteiro, assinado por Patrícia Andrade e Carolina Kotscho, conta com muita sensibilidade, como diz no subtítulo do longa, a história da dupla sertaneja de maior sucesso do Brasil. Seria muito fácil para as duas roteiristas apelar para o sentimentalismo barato – algo como aconteceu com o pavoroso “Olga” do diretor novelístico Jayme Monjardim –, mas, para alegria dos entusiastas e decepção dos pessimistas, o modo como foi condensada a história deles foi magnânimo (palavra bonita não é :-D), criando um dos melhores dramas familiares brasileiro em muito tempo.
Acerca das interpretações, a química dos personagens no início do longa é maravilhosa. As duas crianças que interpretam Mirosmar e Emival, Dablio Moreira e Marco Henrique respectivamente, são maravilhosas e demonstraram muita competência quanto aos seus papéis (repare na cena em que D. Helena Camargo (Dira Paes) chora ao constatar a situação em que sua família se encontra). Outro personagem que chama atenção e, na verdade, rouba as cenas – ou seja, quase o filme inteiro – quando surge na tela é Ângelo Antônio, o intérprete de Francisco Camargo, o pai da dupla. Sempre persistindo no sonho de fazer com que seus filhos possam ‘ser alguém na vida’, Francisco é a motivação em pessoa, mesmo que todas as forças concorram para não. Logo, é impossível para nós, expectadores, não se sentir motivado por um personagem tão cativante e extraordinário (simpatias à parte, nunca eu comeria um ovo cru, como ocorre em uma cena do longa). Então é algo altamente compreensível que o filme se chame “2 Filhos de Francisco”: antes deles serem conhecidos, eles foram primeiramente filhos de Francisco, e é este momento que o filme se enfoca mais.
Porém, nem tudo são flores neste filme. Dando uma leve derrapada na segunda metade do longa, o diretor estreante Breno Silveira – que já trabalhou com o competentíssimo Andrucha Washington, como diretor de fotografia de “Eu, Tu, Eles” – cai em alguns momentos no sentimentalismo (espero que vocês percebam estes momentos, porque seu eu falá-los, irei dizer alguns segredos da história), quase pedindo ‘Por favor! Chorem com essa cena!!’.
Em tempo: dispa-se de preconceitos e vá ao cinema ver a história de Zezé di Camargo e Luciano. E, como disse bem Zezé, em uma entrevista para promover o longa, sobre esses preconceitos com sua ‘música’ (sim, sou preconceituoso mesmo… Hehhehe): “Quem tinha de gostar, já gostou. Quem não tinha, não vai gostar nunca. O que estamos mostrando no filme não é a música de Zezé di Camargo e Luciano.”. Assim, concordo com o cantor: não virei fã de sertanejo, mas, indubitavelmente, irei admirá-los quando, zapeando a TV passar, pelo programa da Hebe e vê-los no palco. Se a música deles não é um primor – apesar de até o Caetano Veloso ter elogiado o agudo de Zezé em “É o Amor” – não podemos dizer o mesmo de sua história, altamente verossímil, humana e mágica. Parabéns à dupla e sucesso, ainda que eu nunca irei baixar uma mp3 ou comprar um Cd deles… 😀