Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 13 de abril de 2006

Albergue, O

Doentio. Essa é a palavra que pode descrever os quase 90 minutos do segundo filme de Eli Roth. Além do que, muitas informações enganosas.

Não há problema de se ver um pouco de violência nos cinemas. Afinal, o que seria de filmes como Clube da Luta, Seven, Jogos Mortais sem a violência? Mas o problema é que Eli Roth achou que um filme todo embasado numa violência excessiva seria o suficiente para sustentar sua segunda película.

Vindo de um filme que não foi tão bem aceito (Cabin Fever, 2002) e vale ressaltar, muito estranho, Eli Roth se apodera de um artifício já usado antes em Olhos Famintos (Jeepers Creepers): colocar um nome famoso na produção. Para quem não lembra, Jeepers Creepers teve o nome de Francis Ford Coppola na produção. O mesmo acontece nesse filme de Eli Roth (o nome de Quentin Tarantino é o primeiro que aparece nos créditos iniciais). Para quem assistiu ao trailer, deve ter visto a famosa frase “Inspired by true events” (Inspirado em acontecimentos reais), e que vale ressaltar que o próprio diretor admitiu que esses eventos são uma história que seu amigo contou que alguém disse que há um lugar onde você poderia matar pessoas, e as vítimas tem plena consciência disso.

A história a grosso modo: adolescentes americanos em viagem pela Europa na tentativa de pegar mulher vão a uma cidade onde eles acabam sendo seqüestrados e levados a um local onde pessoas torturam e matam por um preço.

Puritanismo à parte, há quem diga que Roth mostrou na tela dos cinemas o que alguns diretores não tiveram coragem de mostrar. Então acho que Jogos Mortais (tanto o primeiro quanto o segundo) são pequenos arranhões no que Roth deseja mostrar nesse filme. Na verdade, Roth não fez nada que o já citado Jogos Mortais não tenha feito, com uma única diferença: James Wan (diretor do primeiro filme) e Darren Lynn Bousman (diretor do segundo) tiveram pelo menos o bom gosto e a noção de que um filme se faz com história (mesmo os de terror) e não com o revirar dos estômagos dos espectadores quando se vê um pus escorrer das órbitas depois que o olho é arrancado.

O Albergue, com certeza terá um público. Aliás, muitas pessoas deverão ir ao filme só pra testarem o seu nível de tolerância a cenas de violência, e acredite, boa parte do público sairá das salas antes mesmo que o filme termine.

O mais estranho é ver Roth se gabar dizendo que pessoas chegaram a ele dizendo que finalmente alguém teve coragem de mostrar os jovens como ele são: bêbados, loucos por sexo, que adoram se drogar (segundo seu filme). Será que alguém já assistiu algum filme de comédia adolescente? Não são as mesmas características das personagens, com a diferença que as cenas são cômicas?

Interessante reparar também que além de caricaturar a adolescência dos jovens americanos (que acredite, boa parte deles não entendem por que são caracterizados assim, já que esse não é exatamente o quadro existente por lá), ele faz questão de levar a violência bem para longe de seu país. Percebendo a discriminação que estaria fazendo (todo mundo é louco e sádico, menos os americanos!) ele tenta consertar isso, mas cinco minutos em comparação com os 90 da película por completo seria quase que uma desculpa, como se dissesse: “os americanos são loucos, mesmo que por cinco minutos!”. E mesmo que por um momento pensemos: bom, ele colocou na Europa, num lugar bem devastado porque ninguém deve procurar por lá um lugar desses, é um lugar onde isso pode existir realmente, não? Diversos filmes americanos que retratam o tema da violência excessiva não foram hipócritas o suficiente e mostraram locais como O Albergue (não no nível de violência que Roth abusa) dentro do solo americano. Outra discrepância se encontra no fraco roteiro de Roth, um erro gravíssimo próximo ao final do filme, onde um personagem faz uma determinada atitude (não posso falar qual, com receio de estragar o final – mesmo que ele seja muito previsível) que não haveria como o personagem saber que esse cara é o responsável por um determinado acontecimento do filme (é complicado falar sobre isso sem tentar revelar nada!)

Acredito que muitos aficionados pelo gênero de terror pela primeira vez irão pensar: qual a finalidade desse filme? Violência barata por um preço barato (se é que cinema pode ser considerado uma diversão barata hoje em dia). E para quem sair do cinema antes do filme acabar, um consolo: vocês não terão perdido nada. A não ser o dinheiro do ingresso.

Leonardo Heffer
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