Demora um pouco para o espectador se orientar na trama e entender o que se passa com o protagonista. A partir dessa “linearidade não-linear”, vamos entendendo que os fatos que nos são mostrados, estão na ordem cronológica inversa, mas que isso não elimina o elemento surpresa presente em cada momento da história. Muito pelo contrário, o estilo ousado da narrativa logo nos faz perceber que nada nesse filme é o que aparenta ser a princípio.

Leonard Shelby é um homem cuja mulher foi estuprada e assassinada em sua própria casa e esse fato desencadeou em sua cabeça uma espécie de doença – ele é incapaz de armazenar informações recentes – que atrapalha totalmente o seu plano de busca e vingança contra o assassino de sua esposa. Para compensar esse pequeno empecilho, Leonard grava todas as informações que consegue durante sua investigação no próprio corpo (tatuando nomes e fatos que o levarão á sua presa) e em forma de fotografias, nas quais ele escreve legendas relacionadas às imagens.

Não se pode desviar os olhos de Amnésia durante um segundo. Todos os detalhes e diálogos são primordiais para o entendimento total da trama, todos os conceitos mudam a todo instante e até o minuto final, não se pode definir certamente quem são os “bandidos” e os “mocinhos”.

Outros personagens surgem no caminho de Leonard: Teddy, um amigo que parece já estar ajudando o protagonista em sua investigação há algum tempo e Natalie, uma garçonete que também o ajuda, mas tem outros interesses envolvidos.

Outro elemento intrigante no filme é a inserção constante de flashes de um telefonema do protagonista, em que ele conta a história de Sammy Jankins, um homem que devido a um trauma, também desenvolveu sua mesma condição neurológica: perda de memória recente. A história de Sammy, a princípio, parece ser só um caso similar ao de Leonard, mas depois se revela algo muito mais intimamente ligado à história.

O roteiro de Amnésia, é baseado num conto de Jonathan Nolan (irmão do diretor do filme, Christopher Nolan) e foi recebido pela crítica como um dos mais inteligentes dos últimos tempos. Aliás, o filme é uma reunião de partes competentes, não só no aspecto do roteiro, mas também na montagem, direção e elenco (Guy Pearce como Leonard faz uma de suas melhores performances e Carrie-Anne Moss mostra que pode facilmente se livrar do estigma de “atriz de um papel só” que poderia a perseguir logo depois de “Matrix”).

O final do filme (ou o começo da história) ainda consegue ser surpreendente depois de quase 120 minutos de reviravoltas, e é do tipo que deixa o espectador pensando no que assistiu por ainda algum tempo. Até que não é fã do gênero – o filme fica entre o drama e, principalmente, o suspense – se rende à genialidade de Amnésia.

Enfim, em todos os aspectos, “Amnésia”, é um filme que todo amante (ou não necessariamente) de cinema deve assistir. Mais de uma vez se possível para que não “esqueça” o conceito de um bom filme.