Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Doze Homens e Outro Segredo (2004): divertido, mas com roteiro fraco

Esta "seqüência" fica muito aquém do original, mas, mesmo assim, em virtude do elenco galáctico, consegue fazer bem o seu papel de diversão. Afinal, uma das premissas do cinema é fazer você se divertir, não é verdade? Então vale a pena dar uma conferida, mas não espere muito ...

25 de dezembro de 2004 foi o dia do lançamento nacional do filme “Doze Homens e Outro Segredo”, “seqüência” do fantástico “Onze Homens e Um Segredo” (que é refilmagem de outro longa de 1960 com Frank Sinatra e Dean Martin nos papéis principais). É impressionante a quantidade pessoas que havia na sala do complexo em que assisti. Não sei se estavam ali pelo filme (dos atores, mais precisamente); pelas companhias ou porque no dia de Natal, onde ninguém comemora a data (temos o costume de comemorar na véspera e na virada, somente), está quase tudo fechado, com exceção do cinema.

A sala em que assisti tem capacidade para 446 pessoas, e TODOS os lugares estavam ocupados. Sala lotada é o que há de mais chique nesse mundo. Quando apareceu Brad Pitt, na primeira cena do filme, alguns assobios surgiram (mulheres taradas e encalhadas). E essa foi a tônica de toda a exibição. Mas, por incrível que pareça, o público estava comportado (e olha que eram 446 cabeças diferentes). Talvez eles estivessem comportados porque o filme conseguiu prender a atenção de todos, ou porque muitos dormiram, pois é o sonho de muitas mulheres (havia muitas no cinema) abrir o olho devagarzinho e ver na sua frente uma tela gigantesca com Brad Pitt, George Clooney, Matt Damon ou algo do gênero. Ou pro macharal, ver a beleza exótica de Catherine Zeta-Jones ou a maga véa de nariz empinado que é a Julia Roberts.

Após Danny Ocean (George Clooney) e seu bando roubarem US$ 160 milhões do Bellaggio, um hotel-cassino, e conseguir capturarem a esposa de Danny, Tess (Julia Roberts), que namorava Terry Benedict (Andy Garcia), o dono do Bellaggio, Danny reparte o dinheiro e cada um vai viver de forma discreta. Três anos depois Danny e Tess vivem tranqüilamente em Connecticut, mas esta paz é quebrada com o reaparecimento de Benedict, que quer a quantia roubada de volta, apesar de ter recebido esta quantia do seguro. Além disso, Benedict quer os juros de 3 anos, o que no total seria quase US$ 200 milhões.

Acontece que a quadrilha gastou dinheiro demais e agora precisa bolar um plano fantástico para levantar esta quantia em apenas duas semanas, ou então todos serão mortos. Danny e seu melhor amigo, Rusty Ryan (Brad Pitt), concluem que a melhor opção é roubar um raríssimo Ovo Fabergé, que está sendo exibido num museu de Roma e que vale o que eles precisam. Porém logo descobrem que François Toulour (Vincent Cassel), um milionário que gosta de praticar roubos impossíveis apenas para mostrar seu intelecto, também pretende roubar o Fabergé. O que o bando não sabia era que Isabel Lahiri (Catherine Zeta-Jones), agente da Europol e especialista em perseguir ladrões que aplicam grandes roubos, está na cola de todos a algum tempo.

Podemos perceber, no final da trama, vários problemas acarretados para que esta não seja uma seqüência do mesmo nível do original. Um deles é a quantidade de subtramas que acontecem no filme, pouco desenvolvidas. O diretor Steven Soderbergh (Traffic”, “Erin Brockovich”) e o roteirista George Nolfi tentaram criar um interatividade entre os acontecimentos do filme com o público, mas poucas vezes funciona. Aqueles letreiros são um porre e muitas vezes confundem o espectador. No primeiro filme nós nos sentíamos dentro do grupo: bolando, atuando e roubando. Já neste, o diretor optou por mostrar mais detalhes como romance entre os personagens de Brad Pitt e Zeta-Jones; historinhas paralelas (você vai saber pouco sobre o maior ladrão de todos os tempos, no qual eles só dão uma entrada e nada mais) e roubos mostrados com poucos detalhes (em forma de flashbacks, na maioria das vezes).

Um ponto bom que pode ser ressaltado é que neste filme o diretor exige mais do raciocínio do espectador, já que da vez anterior, o emocional falou mais alto. Por isso, algumas pessoas podem não gostar. Apesar de acontecerem algumas piadas ou cenas características de filmes antigos (músicas com estilos clássicos e tomadas de câmera com closes e paisagens), o que não faz o filme ser um sonífero. Se você reparar, não há um combate físico durante toda a exibição (mostrando que dá para entreter sem usar da violência). Isso só fortalece ainda mais que o diretor quis colocar o espectador para pensar, principalmente porque até algumas piadas estão mais inteligentes.

Os atores aproveitaram do carisma que TODOS possuem para transformar esse filme numa comédia, ao invés de um longa de ação. Eles têm capacidade para isso, afinal, juntos, eles são detentores da maior circulação de cachê de Hollywood. Na trupe de ladrões há muitos coadjuvantes que só engrandecem a produção, como o atrapalhado Linus Caldwell (Matt Damon); o engraçadinho chinês Yen (Shaobo Qin); os irmãos Virgil (Casey Affleck) e Tuck (Scott Caan); e o vaidoso Frank (Bernie Mac). Temos ainda o músico Basher (Don Cheadle), o velhinho Saul (Carl Reiner), o acomodado Livingston (Eddie Jemison) e o investidor Reuben (Elliott Gould), completando o elenco.

É injusto dizer quem se saiu melhor no filme, mesmo com este roteiro fraco. Importante é dizer que todos se completaram, e, juntos, conseguem fazer deste filme uma boa pedida como entretenimento. Sem falar de que há uma ponta com Bruce Willis (interpretando ele mesmo) em uma das cenas do filme, na qual Tess (Julia Roberts) tem que interpretar Julia Roberts (faz parte do plano deles). Bem divertido! São essas coisas que fazem deste filme, interessante, porque se não houvesse esse humor, seria uma produção totalmente descartável, mesmo com todo o contexto intelectual e elenco estelar.

Jurandir Filho
@jurandirfilho

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