Um filme simples e direto. Causa boas risadas e os efeitos computadorizados são perfeitos. Agrada a criançada e muitos adultos, pois se o roteiro não os atrai, o que dizer da computação gráfica empregada no filme?
É até apelação apresentar-me a um filme desse gênero. Sou viciado em animações desde os tempos do primeiro Toy Story. O ‘temido’ Buzz Lightyear e sua vontade desenfreada de voar, mesmo depois de ter se tocado que era somente mais um bonequinho. Inesquecível também é Woody, o cowboy de brinquedo que até hoje desperta risos quando suas frases são lembradas. Enfim, porque não gostar de filmes do tipo animação? Tudo bem que não é aceitável viver deles, mas de vez em quando assisti-los é deveras interessante, afinal de contas, filme vai, filme vem, nos deparamos com eles.
Quando falamos em imaginação, a melhor maneira que temos de liberá-la é mediante aos desenhos animados. É um corre pra lá, corre pra cá, saltos sobrenaturais, estiramentos de partes do corpo além do normal, animais falando, um bicho-preguiça fazendo snowboard, um esquilo caindo de um penhasco gigantesco para depois ser pisoteado por inúmeros animais, que nem o ratinho da folha… e porque não tentar imaginar um mamute caindo em um rio de lava para depois ser jogado para cima por um jato de ar quente? Dessa forma, fica fácil fazer crianças gargalharem e até alguns marmanjos, os quais ainda relutam em dar a velha desculpa: “Estou levando o meu filho (ou sobrinho, ou qualquer outro familiar menor de idade)”, mas na verdade querem ir e apreciar.
A Era do Gelo se destaca nobremente, até mesmo perante as recentes projeções, as quais apresentam um avanço tecnológico considerável. Na época, a FOX investiu pesado nas cenas; verdadeiras pinturas, tamanha riqueza de suas cores e a perfeição das paisagens construídas. Além do mais, tudo isso adaptado a um roteiro ágil, de personagens simples, mas que ficam guardados em nossa lembrança por um bom tempo.
O começo já exemplifica que o filme nos tirará boas risadas. Um esquilo tentando enterrar uma noz no chão, mas o que ele consegue é, no máximo, enfiar alguns centímetros na neve, mesmo assim, já causa desastres. Mire-se para o tamanho do animalzinho mediante o gigantesco estrago que ele faz. Uff! Depois do interessante prelúdio, vamos começar com o filme de fato.
Sid (John Leguizamo de “Efeito Colateral”) é um bicho-preguiça muito chato, que não pára de falar um instante sequer, de uma forma a ser abandonado pela família durante a imigração dos animais que vão para o sul, fugindo dessa terrível era glacial. O sortudo (sorte, ele vai demonstrar muito durante o filme), acaba sendo salvo de um ataque de rinocerontes por Manfred (Ray Romano de “Welcome to Mooseport”): rinoceronte mau-humorado e gigantesco que intimida seus inimigos com seu gênio rabugento e seu tamanho assustador. De tão agradecido, Sid decide acompanhar Manfred, mesmo contra sua vontade. Pelo caminho eles encontram um bebê humano sobrevivente de um ataque de tigres-dente-de-sabre a uma aldeia. Subitamente entra em cena o maquiavélico Diego (Denis Leary de “A Vida Secreta dos Dentistas”), um dos responsáveis pelo ataque, mas como falhou em não ter pegado o pequenino na hora do ataque, foi designado pelo chefe de seu grupo a cuidar da presa. Sid acaba convencendo Manfred a devolver o bebê para seus pais e Diego, intimidado pelo tamanho do mamute, aceita acompanhar na esperança de pegar o ‘tampinha’ quando todos estivessem distraídos. Inicia-se então uma jornada em que os três relutantes companheiros procuram pelo pai da criança e, proporcionalmente, tentam sobreviver.
O melhor de tudo no desenho é que ele não teve a vergonha de ser curto. Talvez até como uma estratégia, pois se fosse logo, possivelmente tornar-se-ia cansativo. Muitos filmes do gênero ficam envergonhados de não ultrapassar a barreira dos 90 minutos e criam situações sem muita utilidade ou enrolam para resolver algum desenlace da trama. Já “A Era Do Gelo” não é sucumbido a esse mal. O desenho apresenta um poder de síntese impressionante, ajudando manter um ritmo dinâmico.
Para se ter uma idéia, durante grande parte do filme, percebemos que o mamute Manfred possui algum trauma em seu passado, mas não sabemos do que se trata. Quando chega o momento de mostrar esse trauma, o diretor não apela para um longo e monótono flashback. Em vez disso, ele usa um recurso extremamente simples que possui uma beleza poética – usado também nas animações de Clone Wars (desenho animado feito para mostrar um trecho da trilogia de Star Wars que não foi explorado nos filmes, o qual foi exibido no Cartoon Network). Usando as pinturas que os homens deixaram na parede de uma caverna, ficamos sabendo em poucos segundos o que aconteceu. E a cena ainda imprime uma dimensão quase humana ao personagem Manny, ao mostrar sua tentativa de fazer exatamente aquilo que seus algozes foram incapazes de realizar por ele.
Fazendo uma análise da dublagem em inglês, me sinto plenamente satisfeito. Ray Romano faz Manny se enquadrar perfeitamente a sua voz, ou vice-versa. Pergunto: Você imaginaria outra voz para aquele gigantesco, porem afetivo, mamute? Eu não consegui. Tudo bem que podemos imaginar vários outros dubladores para Diego, logo temos muitos atores com vozes arrojadas para o personagem. De tal modo, foi escolhido Denis Leary, que cumpriu perfeitamente seu papel. O bando de Diego também ostentou vozes bem enquadradas, como as de Jack Black (“Escola de Rock”) que deu vida às cordas vocais do personagem Zeke e Goran Visnjic (“Elektra”), para as de Soto. Por sua vez Chris Wedge dubla Scrat. Chris já teve a experiência de ser dublador no também filme de animação “Robôs”. Como sempre deixo a melhor análise para o fim, vamos a Sid. Por trás de todo grande personagem de animações, temos um grande dublador. Eis John Leguizamo. Estupendo é a criatura preguiça e melhor ainda sua voz, a qual por se só, já dá pra causar algumas risadas. Talvez a melhor atuação de Leguizamo diante das telonas (calma gente, brincadeira!).
Agora, falando sobre a dublagem brasileira – que eu criei coragem para assistir e fazer essa parte da critica – teve seus bons e maus momentos. Marcos Garcia e Diogo Vilela não comprometeram o resultado final, porém, não acrescentaram nenhum tom cômico em seus personagens. Já Tadeu Mello resolveu colocar um sotaque nordestino no pobre bicho-preguiça Sid, causando uma tremenda desilusão em mim. Apesar de manter uma fala rápida e ágil, cada vez que Sid falava, tinha a impressão de estar assistindo a “O Auto da Compadecida”. Volta e meia me perguntava se o dublador não era Matheus Nachtergaele. Bom, ‘não sei, só sei que foi assim’.
Como se trata de algo voltado para o público infantil, o filme apela para algumas piadas fáceis, tentando forçar uma risada do espectador. Esse recurso funciona muito bem entre as crianças, que preferem uma piada mais visual, mas que se perde quando vista por uma platéia mais madura. Mas, no final das contas, “A Era do Gelo” é um filme visualmente maravilhoso, que possui uma agilidade invejável e personagens cativantes. Não precisa ter vergonha de assistir filmes do gênero, muito menos ter que levar e aturar um moleque para servir como desculpa.