Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 08 de julho de 2005

Galera do Mal, A

Contando uma história que pode ser clichê à primeira vista, mas que se configura como uma grande crítica aos preceitos e fanatismos cristãos, o filme acaba se tornando uma ótima dramédia adolescente.

“Por que Deus nos fez tão diferentes se deveríamos ser todos iguais?”, Mary em “A Galera do Mal”

Talvez seja esta pergunta a grande questão do filme. Porque diabos Deus, em toda sua supremacia, fez nós todos diferentes se, como prega muitas comunidades religiosas por ai, ele deixou uma série de regras pré-definidas para seguirmos? Sei que se entrarmos em qualquer questão que se refira a religião serei apedrejado aqui (“Pedro ou Barrabás?” “Barrabás! Barrabás!!”). Enfim… voltemos ao longa.

Contando com a presença da cantriz pop Mandy Moore (acho que a única cantora pop que realmente consegue transferir alguma tridimensionalidade ao seu personagem), o resgatado-do-limbo Macaulay Culkin, a intérprete de Gretchen no maravilhoso “Donnie Darko”, Jena Malone, e mais uma penca de atores de comédias românticas, o longa é um verdadeiro achado nas prateleiras das locadoras.

A história é centrada em Mary (Jena Malone). Sua vida, como ela atesta no início do longa, sempre foi marcada por muita religiosidade. Tudo vai indo bem até que Dean (Chad Faust), seu namorado seguidor dos preceitos cristãos, confessa que tem tendências homossexuais. Após o choque, Mary se vê na “missão divina” de deshomossexualizá-lo, e assim, resolve transar com ele antes do casamento (oh!). Neste ínterim, conhecemos Hilary Faye (Mandy Moore) e sua trupe que se auto-intitula “Jóias Cristãs” (um grupo de meninas que procuram seguir fielmente os preceitos cristãos), seu irmão deficiente Roland (Macaulay Culkin), a rebelde Cassandra (Eva Amurri) e o skatista Patrick (Patrick Fugit), filho do pastor e diretor do colégio onde estudam todos eles.

E assim, com esse argumento, o diretor Brian Dannely, criou uma interessante crítica à hipocrisia que impera nessas instituições. Ë uma pena que esta crítica seja rasa e genérica, onde tudo é tratado muito superficialmente e que, no máximo, pode provocar uma discussãozinha breve e passageira. Mas, mesmo assim, Brian conduz a obra de forma dinâmica, com uma edição que não torna o longa maçante e/ou moralista (algo que não agradaria o seu público-alvo: os adolescentes).

Agora, se o roteiro não se aprofunda nas questões levantadas, ele, em sua superficialidade, consegue muito bem passar o que quer. Em um dado momento, Mary questiona o porquê de tudo na Bíblia (nome que pode muito bem ser substituído por qualquer livro sagrado) é tratado como algo preto-e-branco (tese proferida pelo pastor do filme) se o mundo onde vivemos é cinza? E então, ela diz a frase que abriu esta crítica (se quiser ver de novo olhe lá em cima, ora bolas…) e, como diria os psicólogos, fecha a gestalt. (RISOS)

Enfim, este nova dramédia americana é uma verdadeira pérola desconhecida que está pronta para ser encontrada pelas pessoas que se propõem a pensar a sua fé de modo mais crítico, procurando sempre, ao invés de julgar e fazer com que todos ajam de acordo com ela, entender e respeitar as diferenças de todos nós. Cômico ao ponto de poder ser visto em galera e reflexivo ao ponto de poder ser visto sozinho; mas, acima de tudo, é entretenimento de primeira!

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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