Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 11 de julho de 2005

Homem Que Não Estava Lá, O

Já ouviram no ditado: "Beleza não põe mesa"? Pois bem, o mesmo se aplica a este filme: bezela não é sinônimo de filme bom.

Os irmãos Coen já produziram pequenas gemas cinematográficas. “Fargo – Uma Comédia de Erros” é considerado por muitos como seu melhor filme, apesar de “Matadores de Velhinhas” ser uma pequena pérola do humor-negro e “O Amor Custa Caro” ser um filme com um tema batido (comédia romântica) mas que foi tratado com muita elegância e cinismo (assistam e vocês me entenderão). Apesar de seus filmes serem altamente ácidos e pejorativos com alguns setores da sociedade, mas, concomitantemente, engraçados, os diretores não é o que podemos chamar de `Diretor do Povão`, suas obras são um ótimo exemplo de humor refinado e inteligente, algo que se contrapõe completamente ao que as pessoas estão acostumadas a assistir.

Mas, infelizmente, esses mesmos diretores, assim como todo mundo, não são infalíveis. Apesar de terem feito excelentes filmes, seus nomes na produção não é garantia de filme bom. Pude perceber isso quando vi esse “O Homem Que Não Estava Lá”. O filme é um drama incrivelmente pretensioso. Porque digo isso acerca do “O Homem Que Não Estava Lá”? Simples. Assista e veja o quão o filme se perde no seu próprio ego, assim, deixando de conseguir levar o expectador a uma maior identificação.

Contando um história bastante simples sobre um barbeiro chamado Ed Craine (Billy Bob Thornton) que tem uma vidinha mais do que medíocre. Sempre naquela rotina casa-trabalho-casa ele vê na traição de sua mulher um excelente oportunidade para dar uma guinada na vida que leva. Sendo que essa suposta `oportunidade` acaba saindo dos eixos e ele passar por momentos que não são nem um pingo agradáveis para alguém em sã consciência. É lógico que não citarei as coisas, reviravoltas e personagens que surgem em cena, mas aviso de antemão que elas não tem nada demais e ainda é inserido na história uma sub-trama altamente desnecessária que envolve extraterrestres (como assim??).

Ainda que seja um notório exercício de como se fazer um filme bonito, com uma excelente fotografia em preto e branco (algo que não é todo mundo que tem coragem de tentar fazer) um filme não pode se sustentar somente pela sua beleza plástica, mas sim pelo conjunto todo, tanto acerca da parte técnica como da sensibilidade dos diretores e dos atores.

Já que citei os atores, os grandes destaques desse filme pretensioso são Billy Bob Thornton e Frances McDormand (Doris Crane, a esposa do barbeiro). Thornton dá um excelente exemplo de como interpretar o tipo `homem comum`, ou seja, um Zé-Ninguem que não tem sonhos para alcançar nem expectativa de vida para superar, mas, em contraponto, almeja (estaticamente) que surja uma oportunidade para ele pode mudar o rumo de sua vida. Um autêntico acomodado. Frances McDormand, fazendo par com Thornton, exemplifica como maestria o papel de uma esposa que gosta do marido mas que tem interesse nenhum de ficar com ele. Digamos que é quase como se fosse aquele `amor de irmão` que as pessoas falam tanto quando esta na iminência de dar um fora em alguém (`Gostar de você eu gosto, mas entenda, é um gostar como se fosse de irmão para irmão.`)

Se as atuações e a parte técnica do filme são muito boas, (ressaltando-se a fotografia, nos deixa boquiabertos com a maestria que foi utilizada as nuances de penumbras proporcionadas por uma obra inteiramente em preto e branco) o mesmo não podemos dizer acerca de seu roteiro. Contribuindo majoritariamente para o ritmo do filme ser arrastadíssimo (tudo bem que tem a desculpa que ele não se propõe a ser um filme de ação, e sim um drama introspectivo) e com que os personagens, apesar de serem bem interpretados como falei no parágrafo acima, não geram a mínima de identificação com o público. Isso sem contar que essa coisa de `nada é o que parece ser` está mais do que batido e que foi muito mal utilizado aqui nesse longa.

Em síntese, considero esse “O Homem Que Não Estava Lá” um dos piores filmes dos (quase sempre) competentes Irmãos Coen. Um filme que peca enormemente pelo seu roteiro, mas que não faltou boa intenção da equipe de produção, tendo em vista que, praticamente tudo que vemos em tela, foi bem realizado, mas que foi manchado pela incompetência dos roteiristas (Irmão Coen). Assista se tiver com vontade de ver um filme pretensioso, que tem um quê da `obra-prima do cinismo` “Beleza Americana”, mas que se perde em seu ego e tenta abraçar o mundo com os pés.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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