Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 03 de julho de 2008

Uma Linda Mulher

Uma Linda Mulher (1990) é um romance que buscou a antiga fórmula do conto da Cinderela, dando a ela uma roupagem moderna. Não é à toa que se tornou um filme inesquecível.

Julia Roberts brilhou e mostrou todo o seu carisma, anunciando ao mundo do cinema que veio para escrever seu nome na calçada da fama. Um romance recheado de belas canções e talentos, mas, que peca pela superficialidade de seu roteiro.

Não nego. Vi esse filme mais de dez vezes, mas, gostos à parte, realmente o roteiro deixa vazios em seus diálogos e muitas vezes estes se tornam superficiais e secos, com certas interpretações artificiais e óbvias. Entretanto, esse motivo é o que torna este filme tão atraente, pois, Julia Roberts consegue desviar a atenção destes furos para seu talento e beleza. A química entre ela e Richard Gere é tão fantástica e envolvente, que pecados como estes passam para segundo plano.

O toque de comédia é muito leve, intrigas não existem. O foco principal é o conto de fadas da modernidade. Uma prostituta chamada Vivian (Julia Roberts), que trabalha no Hollywood Boulevard, teve alguns problemas com sua companheira de quarto e está sem a grana do aluguel. Em seu “local” de trabalho, se encontra com o milionário Edward Lewis (Richard Gere) que estava perdido após tomar o carro de seu advogado emprestado durante uma reunião de amigos. Vivian se oferece para levá-lo até seu hotel, e claro, garantir o valor de seu aluguel, mas, Edward somente quer ir para casa. Contudo, Vivian é tão encantadora que Edward a convida para passar a noite com ele. A garota logo chama a atenção de quem passa, por sua maneira meio debochada de ser, vulgar, e claro, por ser muito bonita. A noite foi boa. Edward precisa de uma garota de aluguel para passar uma semana com ele, ir a jantares e encontros de negócios, pois este não queria se envolver emocionalmente. Entretanto, o charme e a simplicidade de Vivian conseguem mudar em apenas uma semana a vida agitada e fria de Edward.

A mudança vale para os dois. Vivian teria que aprender em poucas horas a se tornar uma dama, andar com mais elegância e vestir-se com mais discrição. A famosa cena embalada pela música tema do filme, Pretty Woman, tornou-se uma das mais lembradas do cinema, sendo satirizada em alguns outros filmes. Edward, aos poucos, vai percebendo que vive somente para o trabalho sem se importar com os sentimentos dos outros. Percebe que aquela jovem é diferente das outras com quem ele se relacionava e que buscava somente status e posição social ao lado dele. Ela realmente possuía valores indiferentes ao seu mundo de milionários.

É possível perceber que a cada momento, eles vão se apaixonando. O sexo cada dia é diferente e aquilo que antes era puro físico, vai dando espaço para os sentimentos e a paixão. Esse fator foi muito bem explorado pelo diretor Garry Marshall. As cenas são bem expressivas e os protagonistas são responsáveis por torná-las memoráveis. A cena da ópera, o momento em que Edward põe uma jóia caríssima no pescoço de Vivian, simboliza sua transformação e representa o quão valiosa é aquela mulher. A peça La Traviata é um resumo da história do filme – a prostituta que se apaixona pelo homem rico.

Inesquecível mesmo é a trilha sonora desta película. Músicas bem escolhidas e marcantes, própria para cada momento – incluindo a ópera que finaliza a cena em que Edward vai ao encontro de Vivian. Realmente, para quem não resiste às lágrimas em um romance, é mesmo de emocionar. Temas românticos que embalaram as situações vividas pelos personagens tornaram o filme mais charmoso e atrativo. A parte em que Edward toca piano é realmente verdadeira. Richard Gere toca divinamente bem e a música tocada por ele, foi composta por ele mesmo para essa cena. Maravilhoso.

Julia Roberts recebeu a indicação ao Oscar de Melhor Atriz e ganhou o Globo de Ouro nessa mesma categoria, além do filme ter recebido mais três indicações nas categorias de Melhor Filme Comédia/Musical, Melhor Ator para Richard Gere e Melhor Ator Coadjuvante para Hector Elizondo. É a primeira vez em que Julia Roberts e Richard Gere haviam contracenado. A parceria foi tão perfeita, que a dupla protagonizou quase dez anos depois, outro filme: “Novia em Fuga”.

No mais, esse filme foi um marco na década de 90. Divino, clássico, romântico sem ser meloso, ou seja, na medida certa. Apreciar as belas madeixas ruivas de Julia Roberts e seu sorriso fantástico e o charme incomparável de Richard Gere é um ótimo passatempo, mesmo nos dias atuais. Afinal, clássico é clássico.

Sandra Katia
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