Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 29 de setembro de 2006

Névoa, A

Uma refilmagem do original de John Carpenter, "A Névoa" não consegue em nada ser o que podemos chamar de filme de terror. Um filme mal elaborado, que tenta desesperadamente dar os nós que o original de 1980 deixou desamarrados no roteiro.

Em Hollywood, há uma lei: nada se cria, tudo se copia. Ainda mais se o gênero em questão for o de terror. Com poucos filmes originais ou que consigam atingir além das nossas expectativas, e que no final de dois anos depois do lançamento acabam se tornando verdadeiras chatices, já que suas inovações passaram ser obrigatoriedades nos filmes do gênero que se seguiram, A Névoa não consegue se destacar em nada.

Durante os créditos inicias, além da névoa, que dá nome ao filme, cenas que, ao primeiro momento, parecem estar desconexas, mas que serão fundamentais para a história do filme. Logo, somos apresentados a quatro marinheiros que fogem de um barco em chamas. Depois do desaparecimento de um deles, somos levados há cem anos à frente, à ilha de Antônio, em Oregon, nos Estados Unidos. Embalados pela voz de Selma Balir, ficamos sabendo que a cidade está em festas pelo centenário, e, por isso, haverá uma homenagem os quatro fundadores do local. Nos primeiros quinze minutos, somos apresentados a todos os personagens necessários ao filme. O prefeito Tom Malone (Kenneth Welsh), a sua assessora Kathy Williams (Sarah Botsford), a radialista Stevie Wayne (Selma Blair, de “Hellboy” e “Segundas Intenções”) e seu filho Andy Wayne (Cole Hepell), ao pescador Nick Castel (Tom Welling, do seriado “Smallville”) e sua equipe e a jovem Elizabeth Williams (Maggie Grace, do seriado “Lost”). Com a chegada de Maggie, há uma névoa que se dirige para a cidade. Mas para quem viu o trailer sabe que essa névoa não é uma névoa comum, e sim uma assassina. Isso mesmo! Uma névoa assassina (ora mais, se o cinema já criou bolhas assassinas, o que há de estranho em uma névoa que tenha esse péssimo hábito de matar pessoas?). Maggie também começa a ter sonhos estranhos que têm relação com seu passado e começa a investigar sobre os acontecimentos da fundação da cidade. A partir daí, o filme segue utilizando-se de todos os clichês possíveis e até aqueles que a gente já havia esquecido para dar continuidade e um encerramento ao filme.

O roteiro original, escrito por John Carpenter e Debra Hill (os inesquecíveis criadores de Michael Myers da franquia “Halloween”) já era fraco, e cheio de buracos, se valendo mais dos efeitos especiais, que, para época, eram bons (não crie expectativas caso queira assistir ao filme original), o que se esperar de uma refilmagem? Rupert Wainwright, que estava afastado dos cinemas desde 1999, quando dirigiu Stigmata, com Patrícia Arquette e Gabriel Byrne no elenco, volta às telas para não conseguir nem dez por cento do seu último trabalho, boa parte também culpa do roteiro.

Tendo em mãos um péssimo roteiro, o jeito é apelar para o plano B, ou seja, contratar atores conhecidos. Mas com um orçamento de 18 milhões, como contratar atores de peso ou que fossem conhecidos? Então acharam a saída: Maggie Grace, mais conhecida como Shannon pelo hit americano “Lost”, e Tom Welling, mais conhecido como Clark Kent há cinco anos em “Smallville”, entraram aqui para assumir personagens medíocres, sem nenhuma profundidade. Welling até que conseguiu se safar um pouco desencarnando Clark Kent da sua pele, mas Maggie não consegue se afastar do clichê da mocinha indefesa, com gritos e mais gritos durante os longos 102 minutos do filme. O elenco de apoio não consegue também escapar dos clichês, fazendo com que suponhamos que os personagens irão morrer durante o filme, embora pelo menos nisso o longa surpreenda um pouco.

A trilha, mesmo caindo na mesmice de todo filme de terror, é o único elemento que consegue escapar. Graeme Revell, mais conhecido como o “compositor das horas difíceis” devido à sua habilidade de criar trilhas sonoras para longas em tempos recordes (vide o que ele conseguiu fazer em uma semana para “Tomb Raider”).

Com um final que é de fazer você simplesmente querer matar alguém de tanta raiva, o filme, no geral, não nos apresenta nada de inovador, como “Pânico”, de Wes Craven, fez em 1996 (e que caiu no comum logo em seguida pela sucessão de filmes de terror que vieram), e talvez por isso não tenha passado dos 30 milhões de dólares arrecadados nos cinemas norte-americanos. Pelo menos “Pânico”, com 14 milhões de produção, conseguiu fazer mais de 100 milhões nos cinemas americanos.

Leonardo Heffer
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