Logo nas primeiras cenas, duas perguntas pairavam na minha cabeça: será que esse filme não vai cair no marasmo, e como se portará a dupla Vince Vaughn e Owen Wilson? O roteiro tem tudo para um revés da primeira resposta. Já a respeito da dupla, bom, resta a você ler a crítica.
Após o filme, ficou explicado : aqueles convites pequeninos que recebemos em festas de quinze anos e casamentos, são deveras importantes. Aposto que você não gostaria de ver um estranho se passando por conhecido, comendo e bebendo na sua festança e muito menos, que eles saiam em suas fotos. Pior ainda, você não tem a certeza se ele é conhecido ou não, acabando por não expulsá-lo do local. Essas festas de arromba devem estar lotadas de penetras ou de pessoas que pensaram em penetrá-la. Por isso, reforce a segurança, se possível, crie uma marca dágua nos convites e convide somente o necessário, sem perder o controle da situação. É amigos, esses penetras estão à solta, afim de não fazerem nenhum pedacinho de bolo sobrar no dia seguinte – restos esses que são bastante bem-vindos na geladeira da família dos comemorados, que diga eu. Já pararam para pensar que, aquela pessoa mais animada no casamento de um amigo ou familiar seu, pode nem ter sido convidada?
Agora, imagine você e um amigo invadindo festas de casamento, com planejamento no nível de SWAT, para se dar bem com as garotas – segundo a equipe do “Penetras Bons de Bico”, o melhor local para conseguir seduzir alguma mulher é em uma festa de casamento. Até faz sentido, pois elas estão solteiras e carentes pelo momento. Tem mais, pouco contente, você ainda resolve se extravasar com as guloseimas e bebidas do local, dentre outras coisas mais. Algo a par da sua realidade, digo eu. Quer dizer, algo a par da realidade de muitas pessoas.
O roteiro não é bem isso. Essa é a introdução do filme. Na verdade, o personagem de Owen Wilson, John Beckwith, depois de muitas farras se esbaldando nas festas alheias, começa a questionar se seria mesmo isso que uma pessoa da sua idade (não tão avantajada, mas já propícia a algo mais sério) o certo a estar fazendo. Por outro lado, Jeremy Klein (Vince Vaughn), amigo e companheiro de invasões, não pensa bem assim e o seu negocio ainda é continuar na galhardia. As coisas mudam de ares quando em um casamento, John “resolve” se apaixonar por uma bela pessoa, Claire (Rachel McAdams), quem tem noivo e é herdeira de um político, além de ter uma mãe pra lá de expressiva. O pai é daqueles políticos bem chatos e conservadores que levam em consideração a união de famílias nobres, dessa forma, querendo que suas filhas casem com pessoas, digamos, afortunadas na conta bancária. No outro gume da dupla, Jeremy se vê quase como um objeto sexual da obsessiva irmã de Claire, Gloria (Isla Fisher). Ambos seguem além da festa principal, a pedidos de Gloria, aceito com primor por John e forçadamente por Jeremy.
Poderia o filme nos reservar muitos clichês, afinal, os filmes de comédia hoje em dia estão abarrotados dos tais. “Penetras Bons de Bico” se sobressai pela façanha de, mesmo apresentando esses clichês, tratá-los de forma diferenciada. Quando você pensa que a condução do longa começa a se encaminhar para a mesmice, ele muda. Isso é fruto da boa direção de David Dobkin. Ele já dirigiu outra boa comédia, “Bater ou Correr em Londres”, com o mesmo Owen Wilson, que fazia dupla com o breve aposentado Jackie Chan.
A película se destaca a ponto de encaixar-se como uma das melhores comédias do ano. Uma das dúvidas iniciais, sobre o fato do marasmo, é resolvida pelo fato de que as situações são ambientadas em áreas diferentes. Algumas vezes em festas de casamento, depois em ambientes calmos, propiciando bons diálogos – não daqueles inteligentes – entre a dupla, e na casa da família de Claire. Esse último poderia ser estendido até o fim do filme, pois é o momento em que mais rimos. Mas, não obstante a algumas boas risadas, eles saem de tal cenário e vão nos fazer sorrir em outras situações.
Vince Vaughn e Owen Wilson, essa dupla, antes desacreditada, fez e refez. A interação entre os dois quase chegou a perfeição. A boa condução do roteiro e das piadas acarretou bastante para esse bom desempenho, mas o fato é que, quando um aparecia sozinho em determinada situação, principalmente Vince, era certeza de boas risadas. Quando unidos, mais risadas ainda. Vemos isso perfeitamente no racha de futebol americano em que a dupla era do mesmo time.
Como pai da Claire, o político William Cleary, vimos a interpretação de Christopher Walken (sim, esse mesmo). Algo que não soaria muito interessante no papel acabou surpreendendo também. Não é nem um psicopata investigativo como Robert De Niro e seu papel em “Entrando Numa Fria”, como eu pensaria que seria à primeira vista, mas, ele simplifica um personagem já simples roubando algumas cenas com suas interpretações. A dupla Rachel McAdams (que vinha do péssimo ‘Vôo Noturno’) e Isla Fisher, irmãs no filme, encarnaram medianas personagens, com Rachel se sobressaindo um pouco a mais do que Isla. As duas não deixam de tirar o sossego dos protagonistas, principalmente a segunda, que arranca mais do que isso. Completando o cast principal, Jane Seymour (Kathleen Cleary, mãe das irmãs), se mostrou (e como mostrou) uma razoável atriz, ao infernizar – no bom sentido – as metas de John. Sorte a dele.
Bons atores e melhores interpretações, surpresas que agradaram, fechando com ótima condução de um roteiro diferente. O ponto fraco é o mesmo das outras comédias, ou seja, se tornou um pouco previsível em alguns momentos. Nada que tire o brilho do geral, mas após tantas inesperadas situações, bem que essa regra poderia ter sido quebrada. Ou já seria pedir demais?.