Deve haver uma lei nos Estados Unidos que ofereça desconto (que nem a nossa lei cultural) a empresas que façam projetos ruins como o de “Quando um Estranho Chama” já que elas cismam em lançar filmes como esse no cinema, podendo evitar perda de dinheiro se eles fossem simplesmente lançados direto para Home Vídeo.
Que melhor maneira de uma empresa cinematográfica ganhar dinheiro se não for fazendo filmes de terror? Colocar garotinhas indefesas, na sua maioria rostos desconhecidos da multidão, roupas decotadas ou brancas (especialmente para quando elas se molharem), gritando e chorando por aí enquanto um cara (ou monstro) corre atrás das donzelas indefesas. Pois é, o cara que estereotipou filmes de terror mais ou menos dessa maneira fez o pior favor do mundo: conceber filmes péssimos no gênero.
Baseado em uma lenda urbana americana (que inclusive é mencionada no começo do filme Lendas Urbanas de 1998) sobre a babá que recebe ligações durante uma noite em que ela está cuidando de algumas crianças, até o momento em que ela descobre que a ligação vem do quarto das próprias crianças. Um mote simples que daria um ótimo curta-metragem, mas daí a virar um longa de 87 minutos é pedir muito.
Baseado no roteiro da primeira versão cinematográfica (de 1979), que inclusive gerou uma continuação para a TV anos depois, o filme não perde muito tempo em embromação. Se todo mundo já sabe como é a história, pra quer dar voltas? Então em poucos minutos descobrimos que o “estranho” (que é o que liga, dando nome ao filme) já fez vítimas antes. Em uma cena corrida somos apresentados a um ato criminoso desse (mesmo que estando do lado de fora da casa e assistindo – ou ouvindo – parte do acontecimento). Partimos logo para a mocinha que será a “baby sitter” indefesa, e o problema com o ex-namorado, a amiga que deu em cima dele, a outra amiga que serve de intermédio, o pai protetor e claro, a casa. Sim a casa, já que nela se passará mais da metade do filme.
Uma trilha sonora que tem seus momentos de altos e baixos, atrizes inexpressíveis e péssimas (não só as atrizes como todo o elenco, sem tirar nem pôr) o filme se torna em menos de vinte minutos a coisa mais chata já vista no cinema. Há uma tensão (feita pela trilha sonora) durante todo o filme que não havia necessidade de se prolongar. O maior problema do filme (e que acredito que o diretor também tenha reparado nisso): já sabemos quando o assassino vai aparecer, então o filme se delonga em cenas que sabemos que o cara não vai aparecer, mas mesmo assim ele cisma naquela trilha chata, que cria o clima de tensão e o susto vem de sons excessivamente alto (afinal, um gato nunca faria o barulho que ele faz no filme) e daí não sabemos se ficamos decepcionados, ou com raiva da clara intenção do diretor tentar assustar com um som que sabemos ser impossível.
Simon West parece não saber o que fazer com o filme. Até tenta salvar alguma coisa com as cenas de luta da mocinha com o estranho (infelizmente quando chega o momento, já estamos entediados demais para nos empolgarmos). Ele que assumiu projetos antes mais interessantes como “Con Air”, “A Filha do General” e “Tomb Raider”, meio que se perde em Quando um Estranho Chama”.
Camilla Belle, coitada, se esforça, mas não consegue fazer uma babá mais do que superficial. Quase forçada, como se estivesse ali contra vontade, mas já que tem que fazer, vamos fazer! Ela que ainda nem completou 20 anos, não consegue chegar nem aos pés de Neve Campbell, quando interpretou a imortal Sidney Prescott (que já não brinco falando: “Hello Sidney?”) em Pânico e suas seqüências, já que a base das duas personagens é bem parecida (mocinhas indefesas que vão ter que fazer de tudo para fugir do assassino). O não aprofundamento na sua personagem faz até parecer estranho a preocupação da babá com as crianças (já que até mesmo as crianças são introduzidas no filme quase depois da metade da projeção). Quanto ao resto dos personagens, não vale nem a pena gastar tempo em roda de amigos discutindo, porque a impressão é de que não há outros personagens.
Infelizmente o filme não se salva em nada e deveria ter sido feito para o mercado de Home Vídeo. Pelo menos assim ainda saia no lucro (fato que aconteceu, já que o filme custou 15 milhões e só nos EUA arrecadou quase 50 milhões). Bom, uma coisa é certa, pelo menos Simon West não caiu no clichê da mocinha peituda e escandalosa. É preferível assistir Pânico pela milésima vez do que gastar dinheiro assistindo “Quando um Estranho Chama”.