Mesmo não tendo recebido o destaque que merecia “Star Wars: Episódio II - O Ataque dos Clones” conseguiu ser infinitamente superior ao seu filme anterior. Mostrando o mundo de George Lucas de uma forma bem mais sombria e madura, o filme consegue impressionar por sua enorme evolução de um modo geral, proporcionando um verdadeiro show visual.
Após a morna recepção de “Star Wars: Episódio I – A Ameaça Fantasma”, parecia que o público não via mais a saga “Star Wars” com os mesmos olhos de encanto de antigamente e a ansiedade que aguardou pela sua volta aos cinemas, já não era mais a mesma. Esta afirmação se refere ao fato que “O Ataque dos Clones” foi o único de toda a série a não terminar o ano em primeiro lugar nas bilheterias, ficando com um humilde quarto lugar no mundo, e aqui no Brasil, sequer entrou para a lista dos 10 mais vistos daquele ano (acreditem se quiser, até “Xuxa e Os Duendes 2″ ficou na sua frente). O filme é, assim como o primeiro, considerado instável por diversas pessoas que teimam em enxergar defeitos em cada mínimo detalhe de uma produção grandiosa. O que chega ser um fato lamentável, já que neste segundo episódio, George Lucas conseguiu provar que o mundo de Star Wars ainda é capaz de fazer os milhões de fãs espalhados pelo mundo delirarem ao extremo. No quesito diversão, “O Ataque dos Clones” consegue se sobressair com muito prestígio.
Star Wars: Episódio II – O Ataque dos Clones se passa exatamente dez anos depois dos acontecimentos de “A Ameaça Fantasma”. Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor) é agora um mestre jedi, que treina Anakin Skywalker (Hayden Christensen), que já se encontra em uma fase de treinamento avançado. A agora senadora Padmé Amídala (Natalie Portman), tem sua vida ameaçada por misteriosas facções separatistas da República, que ameaçam desencadear uma guerra civil intergalática. Então, Anakin é designado pra protegê-la, enquanto vive um romance secreto com ela. Enquanto isso, Obi-Wan parte em investigações paralelas para descobrir os motivos das tentativas de assassinato à senadora.
Se no primeiro episódio, os antigos fãs se decepcionaram com a trama sobre taxas de comércio e bloqueios interplanetários, os fãs mais recentes, provavelmente, ficaram com um pé (talvez até os dois) atrás com a saga. Ainda mais, o primeiro episódio foi rodado propositalmente com um clima mais infantil, podendo conferir isso claramente através da ênfase dada ao personagem Jar Jar Binks e ao jovem Anakin (interpretado pelo fraquíssimo Jake Lloyd). Neste segundo, a grande maioria dos defeitos do primeiro filme foram corrigidos: o filme possui uma trama interessante, seu visual é infinitamente mais sombrio e maduro (correspondendo bem à fase de transição de personalidade que Anakin sofre), os personagens todos são relevantes e as cenas de ação são fluentes com a estória. Lógico, o filme possui seus defeitos, mas que acabam se tornando apenas detalhes perante o imenso show visual que é proporcionado.
O grande triunfo de “O Ataque dos Clones”, é de não se preocupar em responder a questões levantadas no Episódio I ou esboçadas na trilogia original. Afinal, 99,9% das pessoas que assistem ao filme já sabem como a estória termina. O que importa na verdade, é a forma que tudo acontece até lá. O filme representa para esta nova saga, o que “O Império Contra-Ataca” representou para a trilogia original: sua função é deixar o caminho aberto para os eventos do episódio seguinte, tendo toda liberdade para se aprofundar nas personalidades dos personagens, e ter um caminho aberto para grandes cenas de ação.
O roteiro possui algumas falhas e a exemplo do anterior, possui algumas situações forçadas, por exemplo: se a senadora estava sendo vítima de várias tentativas de assassinato, o que poderia desencadear a queda da república, por que quem recebe a importante missão de protegê-la é um aprendiz padawan ao invés de um experiente mestre jedi? Mas, Anakin e Amidala precisam passar um tempo a sós para poderem viver um romance secreto e assim dar origem aos protagonistas da trilogia original. Fazer o que?!
Após o eletrizante início em que Obi-wan e Anakin protagonizam uma sensacional perseguição nos céus de Coruscant, o ritmo do longa cai drasticamente ao Anakin partir com Amidala em sua missão e o filme se dividir em dois. A parte crucial da estória, o romance entre Anakin e Amidala, é exatamente a parte mais chata e cansativa. O caso entre os dois não precisava ser tão explícito e a química entre os atores simplesmente não existe. Natalie Portman está ótima como sempre, repetindo todo seu carisma e talento. Mas é em Hayden Christensen onde mora o maior defeito do filme. O ator, escolhido entre diversos atores que pleiteavam o papel, parece seguir o exemplo dado pelo seu intérprete mirim no filme anterior e em nenhum momento, consegue passar um pingo de sentimentos. E isso, sentimentos, é um quesito fundamental para o caminho que seu personagem irá trilhar. O ator, que não consegue mudar sua expressão facial em momento algum, sem dúvidas, fez até o próprio nível do filme em si cair. Mesmo com o baixo desempenho do ator, as cenas entre Anakin e Amidala possuem momentos interessantes, que acabam sendo importantes para a definição da personalidade de Anakin, como em um diálogo com a senadora sobre política, em que ele defende a ditadura como o governo ideal. Outro grande momento é quando Anakin reencontra sua mãe e podemos o ver liberando todo o medo e a fúria que Yoda havia lhe alertado no filme anterior. Desde o início, ao mostrar seu questionamento com seu mestre, fica claro perceber que Anakin não é guiado pela lógica ou ponderação. Ele é uma bomba de emoções esperando pelo momento certo para explodir.
Se o romance entre os dois parece às vezes ser cansativo, por outro lado, a outra parte do filme se mostra muito mais interessante ao mostrar a investigação de Obi-Wan Kenobi para descobrir a origem dos atentados contra a senadora. A investigação o leva a um planeta que não consta em nenhum mapa, onde está sendo desenvolvido um exército de clones – que, ele acaba por descobrir que se destina para a própria república. Eis que esta parte da estória consegue ser muito mais envolvente e sem precisar apelar para situações forçadas. Ewan McGregor, que reprisa seu papel de Obi-Wan, desta vez com muito mais destaque, demonstra extrema competência ao trocar a impetuosidade de seu personagem no episódio anterior pelo semblante de um guerreiro sábio e poderoso, seguindo os mesmos passos que fizeram Alec Guiness imortalizar a imagem do “sábio Obi-Wan” na trilogia original.
Em meio a essas investigações, podemos conferir o tão aguardado duelo ente Obi-Wan e o caçador de recompensas Jango Fett (pai de Bobba Fett, aquele mesmo que pretendia capturar Han Solo para entregá-lo a Jabba na trilogia original, e aqui, aparece ainda menino). O duelo é sem dúvidas, uma das melhores cenas do longa e muito bem elaborada.
Quando as duas facções do filme se juntam novamente, é quando se dá início às cenas de ação espetaculares, que atingem aqui, um nível de grandiosidade nunca visto antes em toda a saga. Além das cenas já citadas: a da perseguirão em Coruscant do início (por sinal nesta cena George Lucas mostrou um visual inédito na série, fazendo-nos lembrar o visual totalmente dark de “Blade Runner” ou do clássico “Metróplis”) e a batalha entre Obi-Wan e Jango Fett, as demais cenas de ação são espetaculares em todos os sentidos. Dos três anos que se passaram do episódio anterior, a tecnologia evoluiu muito, o que fez com que “O Ataque dos Clones” seja um verdadeiro show de efeitos especiais. O que convenhamos, George Lucas exagerou um pouco no uso dos efeitos, de forma que a grande maioria do filme é composta por cenários totalmente gerados por computador e a interação entre estes cenários com as pessoas de carne e osso muitas vezes fica a dever. Mesmo desfazendo em partes o charme que marcou a trilogia original, não deixa de ser um mérito por podermos observar tamanha evolução que a saga sofreu, de forma a podermos enxergar perfeitamente o mundo exato que Lucas sempre teve em mente. Exagerado? Talvez. Mas esse é o mundo de Star Wars.
As cenas de ação decorrentes da chegada de Anakin e Amidala ao planeta Geonosis para ajudar Obi-Wan, são, permitam-me a expressão clichê, de tirar o fôlego. A cena de Anakin e Amidala em uma fábrica de andróides é divertida e chega a se apenas um aquecimento para as verdadeiras batalhas jedi que viriam a seguir. A batalha no campo de Geonosis, onde Obi-Wan, Anakin e Amidala finalmente se reencontram, é o pontapé para o delírio da platéia, que pela primeira vez, pôde conferir uma verdadeira batalha com todos os jedi em ação. São simplesmente as melhores cenas envolvendo Jedi já vistas na série até o momento. Em seguida, chega o momento tão aguardado: o duelo de sabres entre os heróis e o vilão, o Conde Dooku (que aqui no Brasil, teve seu nome alterado para Dookan devido ao possível trocadilho com seu nome verdadeiro). Finalmente, temos a prova que Yoda, aquele baixinho feio, é o mais poderoso de todos os jedi, em um marcante duelo de sabres de luz. A batalha entre Yoda e Conde Dooku dura poucos segundos, mas me lembro perfeitamente quando a assisti pela primeira vez no cinema e simplesmente toda a sala foi à loucura naquele momento. É provavelmente, a cena mais empolgante e surpreendente de toda a saga até então.
O clímax, envolvendo o início da guerra entre clones e andróides (só no final o título do filme faz sentido), é uma bagunça visual extremamente fascinante de ser assistida.
“O Ataque dos Clones” é o estopim para as “Guerras nas Estrelas” do título. É quando os lados do bem e do mal começam a serem definidos, os mistérios começam a serem quebrados e a guerra eclode repentinamente. O episódio sonhado por anos e anos pelos mais antigos fás da série, finalmente é retratado (é bom lembrar que no Episódio IV, o velho Obi-Wan cita para Luke Skywalker as guerras clônicas as quais ele e seu pai participaram). É emocionante para qualquer fã árduo de Star Wars ver pela primeira vez, todos os jedi juntos em combate como é mostrado aqui na batalha de geonosis. Vale lembrar, que aqui, tudo é apenas o começo dos sonhos dos fãs lunáticos, pois assim como “O Império Contra-Ataca”, as decisões ficam agendadas para o episódio seguinte. Em resumo, “O Ataque dos Clones” é apenas a prévia do enorme show que está por vir.
Como já havia citado antes, grandes erros de “A Ameaça Fantasma” foram superados. Se no primeiro, vários personagens não foram aproveitados como mereciam (Darth Maul que o diga), aqui, TODOS os personagens possuem sua importância para a estória. Até mesmo Jar Jar Binks, que desta vez aparece pouco (amém), acreditem, sua participação acaba sendo fundamental para o rumo que a saga viria a seguir. Falando em Jar Jar Binks, ela era o responsável pelas cenas de humor do episódio anterior, que acabou não agradando muita gente. Aqui, a querida dupla de robôs C3-PO e R2–D2 está de volta, ficando a cargo deles as cenas de humor proporcionadas, para a alegria do público. Para completar, “O Ataque dos Clones” possui um vilão bacana que é muito bem aproveitado pela trama. Christopher Lee repete todo seu ar sombrio que o marcou como o Saruman da trilogia “Senhor dos Anéis” ou até seus antigos filmes do “Drácula” na pele do misterioso Conde Dooku, um ex-guerreiro jedi que abandonou a ordem há uma década e lidera os separatistas da República. Por ser um vilão totalmente humano, ele chama atenção pelo mistério que o cerca e não pelo visual, como sempre aconteceu com os vilões anteriores.
Se o Episódio I fez a ansiedade que girava em torno de “Star Wars” baixar, o segundo episódio conseguiu fazer com que toda magia da saga viesse à tona novamente, deixando os alucinados fãs contando os segundos para chegada do Episódio III.
“Star Wars: Episódio II – O Ataque dos Clones” possui uma premissa simples, mas que é na verdade, a essência de toda a saga: a luta do bem contra o mal, o amor de dois jovens, a ganância de um homem, a nobreza de um guerreiro e os sacrifícios que são (e que serão) feitos em nome da paz. Um filme que está longe de ser perfeito, mas é o perfeito capítulo de “Star Wars” para deixar a platéia mais uma vez empolgada com o universo criado há quase três décadas, habitado na tal galáxia muito, muito distante.