George Lucas venceu o dilema "de filmes do meio das trilogias", que não costuma ter início nem fim, e conseguiu construir uma obra que realmente adiciona algo a série sem ter um início frustrante e um final que deixe a desejar. Há muito tempo, em uma galáxia muito, muito distante...
“É um período crítico para as Forças Rebeldes. Embora a Estrela da Morte tenha sido destruída, as Tropas Imperiais conseguem expulsar os Rebeldes de sua base secreta e os perseguem por toda a galáxia. Fugindo da terrível Frota Imperial, um grupo de rebeldes chefiados por Luke Skywalker, estabelece uma nova base secreta no remoto mundo gelado de Hoth. O senhor do mal, Lorde Darth Vader, obcecado pela idéia de encontrar o jovem Skywalker, enviou milhares de sondas remotas para os pontos mais longinquos do espaço…”
Na marola do grande sucesso do primeiro Star Wars, George Lucas conseguiu o que precisava para realizar os outros dois planejados títulos e completar a sua trilogia: dinheiro. Dos ‘apenas’ oito milhões de dólares do primeiro filme, conseguiu dobrar o orçamento por inúmeros fatores: havia mais confiança na produção, uma agenda melhor e o próprio Lucas arriscara seus dólares para produzir, independentemente de estúdios, o longa, dependendo deles apenas para a distribuição. Se a sua preocupação antes era que picotassem seu filme, agora Lucas tinha autonomia para fazer o que bem desejasse da série. Com isso, ao invés de dirigir o segundo filme da trilogia, optou por contratar o diretor Irvin Kershner e ficou apenas com o já pesado encargo de produtor do longa, depois de quase infartar (literalmente) ao realizar as duas funções no primeiro Star Wars.
O fato é que também agora a pressão era muito maior. Todos sabiam da potência da franquia Star Wars, então o trabalho deveria ser muito bom ou melhor para não desapontar os fãs. E não é que Lucas conseguiu de novo? Fez um roteiro tão divertido quanto o primeiro e aprofundou em todos os aspectos o mundo apresentado pelo filme anterior. Se tudo já era encantador e mágico, agora é ainda mais interessante e amplo, com ambientes variando desde geleiras enormes até chuva de meteoros! O leque de opções é imenso, afinal, estamos falando de um mundo espacial, e Lucas soube aproveitar muito bem isso a favor do filme. Os personagens ficaram mais profundos, as motivações de Darth Vader e Luke Skywalker ganham uma nova importância, alguns detalhes e características pessoais são apresentadas também, identificando mais e mais cada um com o público.
Mesmo não sendo uma continuação direta da ação, o filme dá continuidade à idéia do primeiro Star Wars. Isso porque, em O Império Contra-Ataca, continuamos a acompanhar a história em um período um pouco mais adiante ao final de Uma Nova Esperança, quando os Rebeldes já trocaram a localidade de sua base secreta e Darth Vader procura insanamente Luke Skywalwer por toda a galáxia por ter sentido algo forte que há tempo não sentia: a Força. Com isso, o trio principal composto por Mark Hamill (Luke Skywalker), Harrison Ford (Han Solo) e Carrie Fisher (Princesa Léia) retorna com tudo aos seus papéis, com uma liberdade de construção ainda maior, já que Luke dá os primeiros indícios de que pode seguir para o lado negro da Força, e Harrison Ford e a Princesa começam a traçar os seus destinos.
Com relação à novos personagens, Lucas acertou em cheio por colocar duas figuras carismáticas ao extremo na trama. O mais famoso de todos, ‘apenas’ um dos personagens mais conhecidos de todos os tempos, mestre Jedi Yoda. O pequeno verde de fala inversa foi o mestre de vários e vários Jedis, e é quem se encarrega de treinar o jovem Luke Skywalker. O interessante é que Lucas se preocupou com a evolução do aprendizado de Luke, desajeitado no início e, com o passar dos filmes, ele vai percebendo suas habilidades e trabalhando-as. Provavelmente todos já devem ter tido o mesmo pensamento: “Como esse bicho poderia ser um mestre Jedi?”. Claro que realmente assistindo ao filme antigo, com um boneco um pouco desajeitado e duro (mesmo assim, fantástico para a época), fica difícil imaginar suas capacidades. Porém, para quem já assistiu ao digitalizado Yoda em O Ataque dos Clones em ação, já obteve essa importante resposta.
Billy Dee Williams dá vida a Lando Calrissian, um comerciante de gás que pode ser visto, à primeira vista, como um traidor de nossos protagonistas (por sinal, em uma belíssima seqüência envolvendo Darth Vader sentado à mesa). Com o desenrolar da história, percebemos que ele não é apenas um personagem secundário que serviu de Judas, e sim que sua participação é muito maior no filme do que esperávamos, reprisando o papel, inclusive, em O Retorno de Jedi, o último filme da trilogia. Outro que também reprisa seu papel, só que neste filme, é Alec Guinness (A Ponte do Rio Kwai), como o espírito de Obi-Wan Kenobi que continua a iluminar os momentos de escuridão de Luke Skywalker. Ainda há a aparição do famoso caçador de recompensas (ligação estabelecida com O Ataque dos Clones) e a primeira aparição do Imperador, a quem Darth Vader se refere como mestre.
O filme tem inúmeros pontos fortes, como os já comentados aprofundamento da história e um perfeito aproveitamento do leque de opções que Star Wars abriu, porém as batalhas se destacam em meio a tudo. Pelo menos duas ou três seqüências já se tornaram clássicas, como a Batalha de Hoth, a perseguição implacável do Império pela Millennium Falcon em meio à uma chuva de asteróides e, claro, como não poderia deixar de ser comentado, o esperadíssimo encontro entre Darth Vader e Luke Skywalker, o que resulta no primeiro combate ‘físico’ entre os dois. Físico entre aspas né, afinal, cada um porta o seu sabre de luz em uma incrível batalha de excelente duração. Acontece de tudo em uma cena extremamente bem dirigida, fotografada e coreografada. Uma das cenas mais clássicas da história do Cinema, principalmente pelo final do combate: algo simplesmente antológico, mas que não irei contar pelo simples fato de que não quero estragar o prazer de novos fãs de Star Wars ainda descobrindo os filmes. Quem viu, sabe do que eu estou falando, da grande surpresa que Lucas reservou a seus fãs.
O interessante é que nada neste filme é fácil para os Rebeldes. Por isso, O Império Contra-Ataca é considerado o filme mais sombrio de toda a trilogia. Poderíamos nos perguntar ‘que porcaria de Império é esse que se diz tão poderoso no filme, mas que não tínhamos nenhuma prova dessa sua superioridade toda, já que os Rebeldes seguidamente vinham conquistando suas vitórias sobre suas investidas?’. Mas neste filme, Lucas preparou surpresas deliciosas para mostrar a força do Império, como o problema com a mão de Luke (genial) ou então o fim que Han Solo tem no filme. Tudo toma um tom mais dark, de proporções mais drásticas e sem nunca forçar a barra da história.
A parte artística do filme continua sublime, criando cenários maravilhosos para os ambientes sugeridos. Na Batalha de Hoth, por exemplo, aqueles transportes imensos são simplesmente magníficos, animados em stop motion com fundo falso (que nunca soa falso) e dão um charme indiscutível à seqüência. O gelo é simplesmente lindo. Na seqüência da perseguição da Millennium por dentre a chuva de asteróides, até mesmo batatas foram usadas para criar os meteoros mais no fundo, o que representa a imaginação que o pessoal da ILM estava tendo para resolver certos problemas de funcionalidade. Se em Uma Nova Esperança os efeitos já eram bons, em O Império Contra-Ataca eles estão melhores ainda. Um progresso considerável para uma empresa nova, sem experiência e que não pode apelar para as CG’s na construção de suas idéias.
George Lucas venceu o dilema ‘de filmes do meio das trilogias’, que não costuma ter início nem fim, e conseguiu construir uma obra que realmente adiciona algo a série sem ter um início frustrante e um final que deixe a desejar. Ao fim de O Império Contra-Ataca tem-se a impressão de ter assistido um dos melhores filmes de aventura / ficção da história, uma pipoca no ponto muito bem digerida com o passar dos anos. Realmente temos adições importantes em todos os quesitos do filme, principalmente à história, que ganhou mais dimensão sem parecer repetitivo ou correr por lados apelativos desesperados. Depois dessa obra-prima, o trabalho de O Retorno de Jedi, o filme de conclusão da trilogia, seria complicado. Ao final de O Império Contra-Ataca, o gostinho de ‘quero mais’ que fica na boca é simplesmente irresistível, poucas vezes igualado na história do Cinema.