Sem o astro Vin Diesel, esta desnecessária continuação do sucesso de 2002, apesar de alguns momentos de adrenalina, não consegue passar a mesma diversão do primeiro filme, e Ice Cube deixa a desejar como protagonista de um filme de ação.
Certos filmes, já começam a serem vendidos antes mesmo de serem produzidos. O astro Vin Diesel e o diretor Rob Cohen assinaram contrato para estrelarem esta continuação antes mesmo do original estrear nos EUA, já prevendo o mega-sucesso que ele faria. O sucesso do original veio, e junto com ele, a fama para Vin Diesel. Com sua agenda lotada e salário astronômico, Diesel preferiu optar por pular fora desta continuação, e o diretor Rob Cohen resolveu atuar apenas como produtor, passando a cadeira para Lee Tamahori (diretor de “007 – Um Novo Dia Para Morrer”). Mesmo sem o astro, a continuação daquele sucesso era algo inevitável.
Mesmo com um orçamento maior que 100 milhões de dólares aprovado para sua realização, nada justifica um novo “Triplo X” sem Vin Diesel, já que ele era a alma do primeiro filme, e inclusive, o título do filme se referia a uma tatuagem em forma de três “X” que seu personagem possuía no pescoço. Mas Hollywood não tem jeito. A ânsia pelo lucro sempre veio antes do bom senso. Como o primeiro filme serviu de ponte para Diesel pular de promessa ao status de “astro de filmes ação”, na visão dos produtores, nada melhor do que procurar um novo ator considerado “promissor”, repetir a mesma fórmula, e o sucesso estaria garantido. E nesta Hollywood contemporânea que banca a politicamente correta, porque não colocar um ator negro nesta produção grandiosa e transformá-lo em um astro do gênero? Assim, o rapper e ator, Ice Cube, que antes tinha atuado em comédias bobocas como “Sexta-Feira em Apuros”, “Barbershop”, e coadjuvante de filme de ação como “Anaconda” e “Fúria em Duas Rodas”, foi o escolhido para assumir o cargo deixado por Vin.
Nesta continuação, o Presidente dos Estados Unidos está sob a ameaça de um atentado à sua vida, organizado por um grupo de dissidentes radicais engajados no próprio governo do país. Após sobreviver a um atentado ao quartel-general da Agência de Segurança Nacional, Augustus Gibbons (Samuel L. Jackson) precisa novamente encontrar um novo agente que possa ajudá-lo. O escolhido é Darius Stone (Ice Cube), um condecorado soldado de Operações Especiais que está atualmente em uma prisão militar, sob pesada vigilância. Após fugir da prisão, o novo agente Triplo X precisa se infiltrar para identificar os rebeldes, sendo esta a única chance de se evitar que o país sofra um golpe de estado.
Apesar do esforço, Ice Cube não convence como protagonista de um filme de ação. Ele simplesmente não possui aquela “presença” que Vin Diesel tem, e não consegue passar a imagem do agente secreto durão que está sempre por cima, de forma convincente. Ice Cube tem se mostrado um bom ator em comédias ou em papéis pequenos, mas ainda não está preparado para levar nas costas um filme dessa grandiosidade.
O filme não chega a ser uma seqüência propriamente dita do primeiro, já que não possui nenhuma relação com o original, com exceção do agente Augustus Gibbons, interpretado por Samuel L. Jackson (antes que você se pergunte, a ausência de Xander Cage, personagem de Vin Diesel no primeiro filme, é sim justificada). Se no primeiro filme, o papel de Samuel L. Jackson não tinha muita importância, nesse, ele volta unicamente com o intuito de fazer a ligação entre os dois filmes e assim justificar o título “Triplo X 2”.
Os 15 minutos iniciais são empolgantes, em que a cena da fuga de Darius Stone da prisão, e a seqüência de ação em que ele comanda uma lancha, são eletrizantes e fazem lembrar o clima radical do primeiro filme. Mas em seguida, o filme parece ficar cansativo com o desenvolvimento da estória. Sua trama chega a ser mais bem elaborada do que a do primeiro filme, com uma boa premissa sobre conspirações que envolvem golpes e traições ao governo americano, mas que se perde em um roteiro mal desenvolvido. O fato de o novo agente Triplo X (nada justifica esse codinome, lembrando que isso era uma tatuagem no pescoço de Xander Cage), se ver em uma situação que todos estão contra ele (inclusive, seus superiores na NSA) chega a ser apenas uma desculpa para a ocasião das possíveis “surpresas” (que por sinal, não surpreendem nenhum ser que seja capaz de pensar) e para a exposição de carros super-potentes e armas de fazerem delirar qualquer fã de jogos estilo “Counter Strike”.
Assim como no primeiro filme, o personagem central recebe tanto destaque, que os outros parecem não ter importância, e alguns, são encaixados forçadamente pelo roteiro, como é o caso do personagem de Scott Speedman. O “projeto de galã”, astro do seriado “Felicity” e que atuou em “Underworld”, interpreta o agente da NSA, Kyle Reese, que de início suspeita da inocência do Agente Triplo X, mas, que para a surpresa de ninguém, acaba atuando ao seu lado. Seu personagem protagoniza algumas cenas de ação, mas nunca fica claro a sua real função no filme: ele não é herói, nem parceiro do protagonista, e tampouco, vilão. O mesmo pode-se dizer das atrizes Nona Gaye e Sunny Mabrey, que estão lá apenas para não dizerem que não existem personagens femininos no filme. Wilem Dafoe, que interpreta o vilão Deckert, parece manter o seu mesmo estilo sombrio e irônico de vilão adotado em “Homem-Aranha” e “Velocidade Máxima 2”. Apesar disso, sua interpretação não chega a comprometer.
As cenas de ação, que são a essência do longa, não chegam a serem tão emocionantes e criativas como a do primeiro filme, apesar de em alguns momentos, com a ajuda de uma trilha sonora marcada por muito rock pesado, chega a empolgar o telespectador, como é o caso da seqüência final no trem. Mesmo assim, não existe uma cena que realmente faça-nos delirar como a da avalanche na neve do primeiro filme (a cena em que o carro de Darius Stone persegue o trem no final, chega a ser um insulto à inteligência humana).
“xXx 2 – Estado de Emergência” é um filme que deixa a desejar, e pode até agradar aos menos exigentes que se contentam com algumas boas cenas de ação. É um filme que não incomoda, e pode até se tornar uma boa diversão no caso de uma total falta de boas opções. Mas no final das contas, sempre fica aquela sensação de que poderia ser melhor. Não pensaria que fosse dizer isso, mas, Vin Diesel fez muita falta.