Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Jackpot: Loteria Mortal (2024): humor frenético, ação de qualidade

Comédia de ação equilibra comicidade e perigo, mas é o carisma de seus protagonistas que brilha de verdade.

Jackpot: Loteria Mortal“, nova comédia de ação do Prime Video, se destaca por uma mistura inusitada de gêneros e referências, criando uma experiência agradável para o espectador. Apesar de invocar o sentimento de assistir a uma comédia protagonizada por Jackie Chan, a maior qualidade da obra está na força de seus protagonistas.

O longa se passa em um futuro próximo, onde uma “Grande Loteria” foi criada, mas com uma reviravolta perigosa: quem matar o ganhador antes do pôr do sol pode reivindicar legalmente o prêmio de bilhões de dólares. Ao se mudar para Los Angeles, Katie Kim (Awkwafina) acidentalmente encontra o bilhete vencedor. Lutando para sobreviver aos caçadores de recompensas, ela se alia ao agente de proteção de loteria, Noel Cassidy (John Cena), que oferece ajuda em troca de uma parte do dinheiro.

Apenas pela sinopse, é fácil encontrar semelhanças entre “Jackpot: Loteria Mortal” e a premissa da franquia “Uma Noite de Crime”. Porém, o clima de terror dá lugar à muitas sequências de ação totalmente alucinadas. Elemento integral do filme, o combate é executado com um nível de esforço visível, com algumas coreografias se destacando pela criatividade ao incorporar elementos presentes nas cenas aos confrontos. Por mais que a tendência seja a comédia ofuscar a ação, o que poderia ridicularizar as lutas, aqui vemos que a produção teve o cuidado de entregar uma experiência equilibrada entre os gêneros.

O estilo adotado pelo diretor Paul Feig (“A Escola do Bem e do Mal”) inclina-se por vezes para um humor trash, onde o absurdo é elevado ao ponto de se tornar cômico. Por mais que essa estratégia funcione em diversos momentos, também apresenta suas falhas. E não se trata só de algumas piadas e gags que parecem fora de tom, que claramente existem. Mas é difícil, por exemplo, até mesmo em um filme que não se leva a sério, aceitar a ideia de que personagens comuns possam suportar ataques brutais com armas brancas sem sofrerem qualquer dano significativo. Essa suspensão da descrença, em alguns casos, pode acabar exigindo mais do que o público está disposto a oferecer.

Ainda assim, o timing cômico impecável de Awkwafina e John Cena superam qualquer obstáculo e sustentam o longa praticamente sozinhos. O objetivo é claro: divertir o público por meio de situações absurdas e diálogos rápidos, explorando ao máximo a química entre os protagonistas e esse tipo de humor acelerado e excêntrico típico da geração Z. Ainda que o roteiro de Rob Yescombe (“Zona de Combate”), em certos momentos, pareça abandonar a coerência narrativa em favor das interações nonsense, essa abordagem funciona dentro da proposta da obra.

Quando o filme desacelera e permite que os personagens sejam o foco, ele realmente brilha. As cenas em que a ação dá lugar ao talento cômico dos protagonistas são as mais memoráveis, destacando a habilidade de Awkwafina e Cena de transitar entre os papéis principal e coadjuvante com a mesma qualidade. Simu Liu tem uma aparição com um tempo menor de tela, e sua vocação tanto para ação quanto para comédia poderia ser melhor aproveitado.

“Jackpot: Loteria Mortal” não é um filme que busca ser levado a sério, e esse é, em grande parte, o seu charme. Ele sabe exatamente o que é — uma comédia de ação que visa entreter por meio do absurdo e do carisma dos seus protagonistas. Mesmo que algumas piadas não funcionem, sua junção de referências faz lembrar dos longas de comédia pura de anos atrás, que se econtram em escassez hoje em dia (até mesmo pelos erros de gravação nos créditos finais, que valem demais serem assistidos).

Martinho Neto
@omeninomartinho

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