Longa mostra intenção de presentear os fãs da obra original, mas se limita a espalhar easter eggs e esquece que o foco deveria ser a qualidade do filme.
A ascensão de “Five Nights at Freddy’s” ao status atual no mundo do games é algo digno de ser estudado. Com uma mecânica simples e praticamente sem enredo, os jogos construíram suas narrativas através de pequenas dicas deixadas pelo jogo — artigos de jornal em paredes, desenhos de criança largados em um canto, gravações de pessoas dando a entender que algo maior e macabro estava em andamento. Com tanto espaço para sustos e teorias, a comunidade de “FNAF” cresceu de tal forma que hoje é uma das mais fervorosas da internet. Após quase 10 anos de espera, eles finalmente têm um filme de sua franquia favorita nos cinemas. É uma pena que ele seja algo tão genérico.
O longa acompanha a jornada infeliz do protagonista Mike Schmidt (Josh Hutcherson), um segurança que não consegue parar em emprego algum devido ao trauma e à obsessão em descobrir quem sequestrou seu irmão Garrett (Lucas Grant) quando eram crianças. Agora, Schmidt tem Abby (Piper Rubio), outra irmã menor a cuidar, mas não consegue focar e ainda está sob risco de perder a guarda dela para a malévola tia Jane (Mary Stuart Masterson). Para tentar lembrar dos detalhes do sequestro, Mike mergulha no estudo dos sonhos lúcidos e, quando encontra um emprego como guarda noturno em uma velha pizzaria abandonada, esta parece a oportunidade ideal para se debruçar sobre suas memórias sem perder um emprego. Mas o lugar tem outros planos. A velha Freddy Fazbear’s Pizza foi um sucesso infantil nos anos 1980, mas caiu em desgraça quando cinco crianças foram mortas no local pelo dono, William Afton. Atualmente, após a meia-noite, os robôs animatrônicos que antes faziam a alegria da criançada agora rondam a pizzaria matando todos que que têm o infortúnio de trabalhar no local.
“Five Nights at Freddy’s: O Pesadelo Sem Fim” é bem dirigido por Emma Tammi, ainda em sua segunda empreitada como diretora. Ela sabe construir o pouco suspense que o roteiro lhe permite, e, até o fim do primeiro ato, consegue deixar pistas do que está acontecendo para que os fãs se divirtam como nos jogos. Infelizmente, por volta da metade do filme, a história toma rumos óbvios e previsíveis, sem assumir qualquer risco ou ousar trazer nada de novo para quem já estava acostumado com os animatrônicos. Estes de fato são um show à parte, produzidos pela lendária Jim Henson’s Creature Shop, mas não têm tanto o que assustar com uma história tão robótica.
A própria saga de desenvolvimento do filme de “FNAF” já não dava sinais de que daria certo, com diversos diretores e roteiristas sendo contratados e demitidos ao longo dos anos. O criador da franquia, Scott Cawthon, teve controle criativo o suficiente para descartar até roteiros de Chris Columbus (“Gremlins“, “Harry Potter“), e o produtor Jason Blum, preocupado em agradar a base de fãs que confiava em Cawthon, consentiu com tudo. Ao que parece, talvez Cawthon seja melhor como desenvolvedor de jogos do que como contador de histórias. Ele não demonstra entender que o charme da franquia é deixar que outros liguem os pontos que são mostrados de relance nos jogos. No fim das contas, o filme de “FNAF” não deixa ponto nenhum para ninguém ligar.
Para os fãs dos jogos, há diversos easter eggs a ser encontrados, com referências aos jogos sendo deixadas onde imaginava-se que o próprio enredo poderia florescer. Como “FNAF” surgiu no ápice da cultura youtuber, diversos criadores de conteúdo pegaram carona no jogo, o que contribuiu para o crescimento da base de fãs. A estes, de fato há diversas homenagens, mas fazer um “filme para os fãs” não deve ser algo limitado a easter eggs; na verdade, não há maneira melhor de honrá-los do que entregando uma obra que assuste e estimule a imaginação. Infelizmente, “Five Nights at Freddy’s: O Pesadelo Sem Fim” não faz nenhum dos dois.