Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 06 de janeiro de 2023

The Bad Batch (Disney Plus, 2ª temporada): mais de um ótimo mesmo

Com um arco bem definido se desenrolando ao fundo, segunda temporada repete a fórmula da primeira e explora novas possibilidades narrativas.

Muitas vezes, a máxima “em time que está ganhando não se mexe” não é exatamente verdadeira e, às vezes, têm resultados catastróficos. Em “Star Wars“, isso costuma gerar críticas a rodo das mais variadas vertentes da comunidade de fãs, independente de haver ou não as tais mudanças. Um dos únicos títulos que consegue se esquivar disso com sucesso é a excelente “The Bad Batch“, animação que acaba de entrar em sua segunda temporada e conseguiu manter a excelência da primeira, repetindo a dose em boa parte das fórmulas utilizadas, e até ousando mexer um pouco no time.

A essência continua a mesma: se a primeira temporada serviu como uma espécie de epílogo para “The Clone Wars” (a “mãe” de todas as animações da franquia), a segunda mantém os laços, mas aprofunda seu próprio enredo geral e linhas narrativas. A sede por responder perguntas sobre o destino de personagens queridos se faz presente o tempo todo, alinhada ao contexto geral galáctico pelo qual a cronologia de “Star Wars” passa no momento.

E é nesse ponto que a nova temporada de “The Bad Batch” brilha. Seria praticamente impossível se aventurar em qualquer história da franquia ambientada nesse período sem tratar da queda da República e da ascensão do Império após o fim das Guerras Clônicas — até mesmo “Andor“, que se passa mais de uma década depois, não conseguiu escapar disso. Mas para os criadores Jennifer Corbett e Dave Filoni — este último o grande nome criativo de “Star Wars” no passado recente — conhecem seu público, e sabem que é justamente isso que os fãs mais esperam da série. Ou seja, com um enredo bem definido e um conjunto de personagens queridos (todos os clones interpretados por Dee Bradley Baker e a pequena Omega com voz de Michelle Ang), não há muito como errar.

O que não significa que não há algumas surpresas. A grande fórmula de “The Bad Batch” consiste em pegar personagens menores da franquia, que não estejam diretamente relacionados ao grande arco principal retratado pelos filmes da Saga Skywalker, e explorar a galáxia através de seus olhos. Os próprios protagonistas se enquadram nessa categoria. A Força Clone 99 (ou os Mal Feitos, pela tradução oficial da Lucasfilm) pode ser altamente especializada, mas, após o fim da guerra, busca propósito em uma galáxia que já não precisa mais de clones.

A partir daí, o enredo todo se desenrola de forma a incluí-los de forma orgânica na narrativa ao levantar questões como, por exemplo, como o Império substituiu o exército de clones já existente e extremamente competente pelos novos recrutas, os stormtroopers. Este é o grande mote da segunda temporada, atingindo até mesmo clones que mantinham obediência (ou até mesmo fé) no novo regime, como o Comandante Cody e o sniper Crosshair, ele próprio um antigo membro dos Mal Feitos. Seu arco, inclusive, é um dos mais interessantes de toda a franquia atualmente, dada sua posição antagônica à sua própria família. Sua jornada de redenção é inevitável, obviamente, mas o desenrolar é cativante, ainda que ele seja o protagonista de apenas uma parcela dos episódios.

O interessante na produção é como a equipe é consideravelmente mais enxuta em relação à primeira temporada. Dos oito roteiristas originais, o time foi reduzido a apenas três, sendo dois deles os próprios Corbett e Filoni, com a permanência de Matt Michnovetz (que assina a maioria). A equipe de direção se manteve, em boa parte. Talvez esses dois fatores expliquem o porquê de a série parecer um pouco repetitiva às vezes. Cada episódio costuma trazer um arco que encerra em si mesmo, um formato similar ao “monstro da semana” já tradicional na televisão. Ver os Mal Feitos e os demais clones em ação é sempre algo de cair o queixo pela ação bem trabalhada, mas ainda existem episódios que soam um pouco bobos quando postos frente aos mais sérios. Mas se uns parecem cansativos, outros são interessantes justamente por se dignarem a explorar outros moldes. O grande destaque fica por conta do suspense político, que traz de volta o Senado Imperial com velhos conhecidos da época de “The Clone Wars“, mas com uma trama densa e reviravoltas surpreendentes.

Quase como bons técnicos de um time com elenco estelar, Corbett e Filoni souberam analisar as forças e fraquezas de “The Bad Batch” e avaliar o que carecia de mudanças e o que deveria ser mantido. Se houver a necessidade de mexer no time, por que não? Ainda que possam não ser assim tão perceptíveis, as alterações foram importantes para manter o alto nível da série após uma primeira temporada perfeita. Às vezes, mudar é preciso para se manter um time vencedor, e nisso a série acerta em cheio.

Julio Bardini
@juliob09

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