Não tem como contar a história do pentacampeonato da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2002 na Coreia/Japão sem explicar o trauma causado pela final de 1998. Sabendo disso, o diretor e roteirista Luís Ara (“Para Sempre Chape”) reservou aproximadamente 25 minutos do seu novo documentário, “Brasil 2002 — Os Bastidores do Penta”, lançado na Netflix, para contextualizar a derrota e reforçar o significado de superação.

Pouco antes da final contra a França, Ronaldo teve uma convulsão no hotel, fez exames e até conseguiu jogar. Porém, a situação mudou o foco e mandou a atmosfera do grupo para baixo. Enquanto os jogadores se preocupavam com o Fenômeno, Zidane desfilava em campo, e os franceses cravaram um cruel três a zero, a maior derrota brasileira da história das Copas do Mundo.

Com a menor expectativa possível para o próximo ciclo, o Brasil sofreu muito nas eliminatórias. Foram três técnicos até Luiz Felipe Scolari comandar a Seleção. Era grande o risco de não classificar, mas deu tudo certo. Claro, até o dia da convocação para 2002, que não contava com o herói do Tetra na Copa de 1994, o baixinho Romário. Aos trancos e barrancos, as pessoas passaram a conhecer a Família Scolari, e o documentário mostra como foi essencial essa união para a esperada conquista da quinta estrela.

A montagem do documentário mistura filmagens de bastidores com depoimentos dos jogadores e elementos da mídia na época, como reportagens, recortes de jornal e manchetes. O uso de narrações originais e das imagens dos jogos ampliam a sensação de imersão. Juliano Belletti, lateral-direito da Seleção, foi o principal responsável por gravações históricas, muitas delas inéditas. Com liberação do técnico, ele pôde gravar a intimidade dos jogadores nos hotéis, ônibus e na concentração antes das partidas.

O diretor reuniu os principais jogadores brasileiros do período, como Ronaldo, Roberto Carlos, Ronaldinho, Cafu e Denílson. Além disso, foram entrevistados craques das seleções que o Brasil enfrentou ao longo da Copa, como David Beckham, Oliver Kahn e Marc Wilmots, apresentando a tensão dos adversários ao desafiarem a amarelinha. Para finalizar, a obra conta com o depoimento de jornalistas que trabalharam na cobertura completa do ciclo da Copa.

As filmagens de bastidores mostram elementos que enriquecem a experiência para o espectador, como por exemplo, os relatos da longa relação de amizade entre Ronaldo e Roberto Carlos, e recursos além da já conhecida liderança do capitão Cafu, como a sua consciência de não querer ser protagonista, que acabou ajudando muito na construção de um trabalho em grupo. Outra curiosidade é a tranquilidade de Belletti e Rogério Ceni ao saberem que não seriam titulares. Mesmo não sendo destaques, buscaram dar o sangue nos treinamentos para exigir o melhor de Cafu e Marcos.

“Brasil 2002 — Os Bastidores do Penta” vai além do óbvio e narra histórias incríveis, contadas por quem lutou muito para chegar à conquista. O roteiro de Ara relata com muita naturalidade a maneira com que os jogadores foram ganhando confiança ao longo da competição. Trata-se de um documento histórico para o futebol brasileiro e indispensável para quem está na expectativa do hexa.