David Leitch se apoia na comédia de ação com elenco estelar, ótimas coreografias de luta e um texto tão empolgante quanto a porradaria.
Não é de hoje que coordenadores de dublês passam para o outro lado das câmeras e assumem a direção dos seus próprios filmes. Mais recentemente, dois exemplos se destacam: Sam Hargrave, do ótimo “Resgate”, e David Leitch, de “Atômica”. Levando a sua experiência de ação para uma trama que também direciona seus olhares para uma boa narrativa, Leitch reuniu um elenco estelar para “Trem-Bala”, obra baseada no livro Maria Beetle, de Kōtarō Isaka.
Protagonizado por Brad Pitt, trata-se de uma história sobre um assassino conhecido como Joaninha, que acaba de receber uma missão aparentemente simples: entrar em um trem-bala, roubar uma mala com dinheiro e fugir. O que ele não esperava era que outros assassinos embarcaram no mesmo trem e com a mesma missão. Ele precisa lidar com a jovem Prince (Joey King), que finge ser uma garota inofensiva; o Lobo (Bad Bunny), que está no trem em busca de vingança; e outros dois matadores, Tangerina (Aaron Taylor-Johnson) e Limão (Brian Tyree Henry), que já estão em posse da mala. Aos poucos, outros mercenários são apresentados em tela, cada um com sua história contada de forma resumida, mas efetiva. Todos, no entanto, contam com problemas com o líder da máfia japonesa.
O roteiro de Zak Olkewicz (“Rua do Medo: 1978 – Parte 2”) é direto ao ponto, apresentando o protagonista com rapidez e partindo logo para a ação. Olkewicz se aproveita de flashbacks para contextualizar os motivos de cada um entrar no trem, além de desenvolver cada personagem de maneira muito orgânica. O texto vai conectando a história dos personagem com diálogos ligeiros e muito divertidos, apostando também no humor sem sentido.
A montagem de Elísabet Ronaldsdóttir (“Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis”) evita criar barreiras entre as cenas do passado e as atuais, ditando um ritmo rápido para a obra. Outro destaque vai para a fotografia de Jonathan Sela (“Cidade Perdida”), que se baseia nas cores neon de Tóquio para criar um estilo próprio em cada vagão do trem. A estética se baseia muito nos animes, com destaque para as cores bem vivas em objetos, que criam profundidade e uma estética bem estilosa. As coreografias de luta são excelentes, com um aproveitamento de cenário muito criativo devido ao pequeno espaço dos corredores do trem — o diretor aparenta se inspirar no estilo de luta de Jackie Chan, que usa diversos objetos das cenas para usar nas brigas.
Brad Pitt se sente em casa com um personagem com aparência relaxada e dá conta do recado nas coreografias de luta. Aaron Taylor-Johnson e Brian Tyree Henry dominam as rédeas quando aparecem em tela com um excelente timing de comédia, com destaque para as aleatórias e recorrentes citações ao desenho “Thomas e Seus Amigos”.
Com diversas surpresas no elenco, David Leitch demonstra que está com o nome grande em Hollywood. Conseguindo equilibrar a narrativa com excelentes cenas de ação e ainda por cima imprimindo a sua própria identidade, ele cria com “Trem-Bala” uma expectativa mais do que positiva para seus próximos projetos.