Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 30 de agosto de 2022

Samaritano (Prime Video, 2022): super-herói à moda antiga

Com Sylvester Stallone no papel principal, o filme aposta em uma fórmula batida e até consegue entreter, mas passa longe de surpreender.

Acostumado a defender personagens mais realistas como o icônico lutador Rocky Balboa e o combatente militar John Rambo, era estranho que em mais de 50 anos de carreira, Sylvester Stallone ainda não tivesse vivido um protagonista com poderes extraordinários. Pois, após longa espera — e recentes estágios de luxo com Marvel (“Guardiões da Galáxia – Vol. 2“) e DC (“O Esquadrão Suicida“) — Sly assume o posto de SuperSly em “Samaritano“, filme lançado com exclusividade no Prime Video. Concebido a partir de uma série de ideias emprestadas de outros longas do gênero, a aventura do veterano no universo dos heróis não empolga, mas apresenta elementos suficientes para entreter com honestidade sem causar grandes prejuízos.

Inspirado nas histórias em quadrinhos da Mythos Comics criadas por Bragi F. Schut, Marc Olivent e Renzo Podesta, o roteiro nos apresenta a Sam (Javon ‘Wanna’ Walton), um garoto fanático pelas histórias do Samaritano, antigo guardião de Granit City que sumiu misteriosamente há 25 anos e todos acreditam estar morto. Porém, depois de presenciar uma ação fora do normal de seu vizinho Joe Smith (Sylvester Stallone), um humilde e reservado lixeiro, Sam começa a desconfiar de que Joe possa ser o herói desaparecido. Uma suspeita que promete ganhar força quando uma gangue violenta do subúrbio, liderada pelo ameaçador Cyrus (Pilou Asbaek), começa a ascender na cidade com o objetivo de promover a anarquia.

Em uma breve — e estilosa — introdução, a mitologia imaginada por Schut, Olivent e Podesta ganha as telas trazendo um sopro de “novidade” em meio a tantas adaptações recentes. O termo vem em destaque, pois para alguns a intenção pode até soar familiar, mas há tempos que uma premissa tão simples não ganhava uma embalagem promissora. A luta entre irmãos gêmeos, considerados aberrações da natureza e renegados pela cidade que os viu crescer, o bem versus o mal, o Samaritano, que segundo a bíblia é bondoso, versus Nêmesis, personificação da vingança de acordo com os gregos. Uma lenda convidativa, impulsionada pela curiosidade do garoto Sam, mas que não se aprofunda e escorrega em clichês.

O pequeno sidekick que serve de ferramenta para a evolução do protagonista (um pouco de “Shazam“), sendo que este, já mais velho, reluta em cumprir sua missão (um pouco de “Logan“), além da cidade em decadência com a população em ponto de ebulição (um pouco de “Coringa“). “Samaritano” coleciona recortes de outros filmes para construir sua narrativa, os faz de maneira preguiçosa, e nessa adaptação sofre com a perda de identidade. Uma problemática que só não é fatal graças ao carisma intacto de Stallone. O ator, muito confortável no papel de herói estilo anos 80, faz de tudo para tornar a sessão divertida com suas cômicas frases de efeito, presença física e dinâmica com o novato parceiro de cena.

Diretor do ótimo “Operação Overlord“, Julius Avery comanda o filme de maneira trivial. Com a ação deixada para o final e amparada por um CGI correto, o realizador tem pouquíssimo trabalho durante o primeiro e segundo atos, onde perde a oportunidade de inventar algo para preocupar-se exclusivamente em acompanhar o cotidiano moroso de Joe enquanto desenrola a admiração de Sam pelo herói, a relação rasa com a mãe e seus pequenos furtos para conseguir algum dinheiro. No fim, a impressão é que “Samaritano” parece um filme de super-herói perfeito para os anos 80 e sua geração. Um produto comum e com um protagonista empenhado, mas sem a ousadia necessária para brincar com sua curiosa história.

Renato Caliman
@renato_caliman

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