Produção mais cara da história da Netflix fica devendo um roteiro a altura do excelente elenco. Irmãos Russo se garantem nas cenas de ação, como sempre.
Quantos cineastas do mundo não se emocionariam ao receber uma carta branca com o valor de US$ 200 milhões de orçamento para um filme? A Netflix escolheu muito bem os diretores para “Agente Oculto“, a produção mais cara da sua história: Joe e Anthony Russo, do aclamado “Vingadores: Ultimato”, que já provaram saber do carteado quando o assunto é ação.
A obra baseada no romance de Mark Greaney conta a história de Court Gentry (Ryan Gosling), um prisioneiro que ganha a liberdade com a condição de trabalhar para a CIA como um tipo de assassino de aluguel. Ele será treinado como parte do programa Sierra, que reúne profissionais de elite que vivem de forma oculta na sociedade. Depois de dezoito anos, uma conspiração começa a surgir após a aposentadoria de Donal Fitzroy (Billy Bob Thornton), dono de uma relação próxima com Gentry, que internamente passa a ser conhecido como Seis.
Com a ajuda da agente Dani Miranda (Ana de Armas), ele descobre segredos comprometedores da agência e passa a ser caçado mundo afora por Lloyd Hansen (Chris Evans), um sociopata que tortura suas vítimas para conseguir as informações que precisa. Começa assim uma perseguição de gato e rato entre Seis e Lloyd.
O roteiro escrito por Joe Russo, Christopher Markus e Stephen McFeely, todos com grande experiência nas obras da Marvel, como “Capitão América 2 – O Soldado Invernal”, é um tanto quanto genérico, com o frequente arco central de corrupção e traições dentro do conceito de espionagem. A personagem da Ana de Armas, por exemplo, ganha boas cenas de ação, porém fica a sensação de que falta para a personagem uma história própria, tendo que lidar apenas com a repercussão das ações do protagonista. A ameaça interna da CIA, que deveria ser um possível risco para Seis na imagem de Carmichael (Regé-Jean Page), não passa de um cachorro que só late com o portão fechado.
Com o orçamento gigantesco, a obra conta com locações em diversos países, como Áustria, Croácia e Alemanha, e excelentes efeitos visuais, em especial na cena de luta em um avião muito bem executada. Entretanto, o maior destaque vai para a ação e o capricho no uso de efeitos práticos, garantindo mais veracidade, principalmente para as sequências de perseguição e tiroteio. Os irmãos Russo conseguem apresentar uma cena de luta dinâmica e criativa, saindo da zona de conforto e sempre fazendo com o que o espectador não se perca em meio a diversos cortes da edição, ou seja, toda a ação fica bem clara.
Ryan Gosling vive grande fase com personagens bem diferentes a cada obra, basta ver os seus trabalhos em “La La Land”, “Blade Runner 2049” e nas imagens de “Barbie” para provar esse ponto. Em “Agente Oculto”, o ator faz um ótimo trabalho nas coreografias de luta, embora pareça estar no piloto automático no restante. Se falta esse carisma para o protagonista, sobra para Chris Evans, que se diverte com o papel e faz com que o espectador crie um ódio do personagem com segundos de tela. Lloyd é como uma criança mimada no corpo de um assassino de elite. Já Wagner Moura está praticamente irreconhecível, como um velho falsificador de documentos; aparece pouco em tela, mas ganha a cena com uma personalidade peculiar, para dizer o mínimo.
Com um elenco espetacular e ótimas cenas de ação, “Agente Oculto” fica devendo um roteiro mais caprichado, equivalente à expectativa criada pela própria plataforma de streaming. Uma prova de que não basta um orçamento alto para uma obra ser perfeita, afinal, a inspiração nem sempre está ligada somente ao dinheiro investido.