Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 09 de julho de 2022

A Fera do Mar (Netflix, 2022): aventura marítima que brilha como um tesouro

Animação dirigida por Chris Williams conta uma história para toda a família por meio da relação entre humanos e monstros marinhos.

Navegar rumo ao desconhecido é sempre assustador para os marinheiros de primeira viagem. Porém, para um velho lobo do mar, as águas desconhecidas são o seu jardim de casa. Os protagonistas de “A Fera do Mar”, nova animação da Netflix, contam com essas características. A trama gira em torno de Jacob (Karl Urban) e Maisie (Zaris-Angel Hator), o primeiro é um marujo de um navio de caçadores de monstros chamado Inevitável, a embarcação com a tripulação que mais abateu feras na história, e a segunda é uma jovem que mora em um orfanato sustentado pelo rei e a rainha, que cuidam dos filhos dos caçadores que morreram em suas aventuras pelo mar.

Assídua leitora das grandes lendas dos caçadores, a jovem foge do alojamento e aproveita que o navio atracou no porto para se esconder e partir para o mar junto com a tripulação. Assim, Jacob passa a cuidar ao mesmo tempo da curiosa menina e da caçada. O capitão Corvo (Jared Harris) tem uma relação paternal com o marujo e espera que ele seja o novo líder do Inevitável após a próxima caçada, uma busca pelo monstro chamado de Bravata.

O trabalho da tripulação é recompensado pela realeza, que paga por cada fera abatida. Porém, já cansados de esperar pelo Bravata, o rei e a rainha construíram o Imperador, o navio mais bem armado que já existiu. Para demonstrar que o Inevitável e a era dos caçadores ainda devem perseverar, Corvo, Jacob e companhia partem para abater o Bravata antes da Marinha Real.

Tecnicamente, a direção de arte executa um excelente trabalho em relação a escalas, demonstrando a grandiosidade dos monstros e navios em comparação com os caçadores. A movimentação da água beira o absurdo nessa obra, é impecável muito por conta da experiência do diretor Chris Williams, que também divide o roteiro com Nell Benjamin. Ele co-dirigiu “Moana – Um Mar de Aventuras” e o curta-metragem “Pescando Confusão”, ou seja, já está habituado a tratar o mar como prioridade para as suas histórias.

Sem intenção de ser 100% realista, foram criados formatos e expressões para os personagens que funcionam bem em conjunto com uma movimentação fluida. Além disso, a arte se apoia em uma paleta de cores muito viva, com uma saturação bem exagerada propositalmente para direcionar o olhar do espectador para a peculiaridade das criaturas. A direção de arte também capricha nos elementos naturais, como o reflexo da luz do sol nos objetos e na água, o vento nos cabelos e a agitação das ondas do mar na madeira dos navios.

Os monstros são vistos como grandes ameaças, porém, entra aquele mesmo código de honra conhecido por quem já jogou Shadow of the Colossus: os monstros simplesmente estão lá e o homem vai matá-los em busca da conquista do objetivo. A justificativa na obra é que existiam lendas de que os monstros invadiam os litorais e devoravam os banhistas. O arco da história perde alguns pontos por essa falta de originalidade, sendo que é fácil prever completamente o terceiro ato. Nada que afete o material, que é relativamente parecido com o arco de “Como Treinar o Seu Dragão”. A semelhança também vai de encontro com a aparência dos monstros, com grande inspiração na mitologia nórdica, na mesma pegada que a animação da DreamWorks.

Com uma bonita mensagem que critica o julgamento por aparências, “A Fera do Mar” é uma animação criativa, muito bem executada e, acima de tudo, uma aventura divertida para assistir em família. Trata-se de mais um material feito com esmero, com potencial para desbravar muitas águas desconhecidas em possíveis sequências. Pelo visto, Jacob e Maisie ainda devem trazer muitos tesouros para a Netflix.

Fábio Rossini
@FabioRossinii

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