O diretor Patrick Hughes está acostumado a misturar ação e comédia nos seus filmes. Responsável pela franquia “Dupla Explosiva” e por “Os Mercenários 3”, o cineasta está em casa ao idealizar “O Homem de Toronto”, nova obra da Netflix. Entretanto, diferente das suas criações anteriores, os gêneros não se misturam, parecendo que existe um muro invisível separando o longa-metragem em dois.

A obra conta a história de Teddy Jackson (Kevin Hart), que trabalha em uma academia e inventa produtos ou novos esportes para tentar ter uma vida financeira tranquila. Porém, suas ideias são horríveis e nada faz sucesso, como por exemplo o infame boxe sem contato. Enquanto isso, um assassino conhecido como o Homem de Toronto (Woody Harrelson) vive de missão em missão, tirando informações de agentes por meio da tortura. A vida dos dois se encontra quando Teddy, por acaso, ao fazer uma surpresa para sua esposa Lori (Jasmine Mathews), entra em um chalé errado, em um tipo de cativeiro, fazendo com que os bandidos acreditem que ele é o Homem de Toronto para continuar vivo.

Percebendo a situação de perigo, sem conseguir contar que encontraram a pessoa errada, ele tenta conseguir a informação e, por incrível que pareça, ele consegue, até que o FBI invade o local e prende todo mundo. Assim, o verdadeiro assassino rastreia Teddy e o obriga a continuar fingindo que é o Homem de Toronto até ele conseguir completar a missão atual.

A impressão é que a obra é dividida em duas: quando Teddy está em cena, tudo é cômico, e quando Toronto é o protagonista, o clima é de tensão. Aos poucos, o roteiro de Robbie Fox (“A Creche do Papai 3”) e Chris Bremner (“Bad Boys Para Sempre”) tenta naturalizar esse choque de identidades. Porém, por serem de ambientes e criações tão diferentes, fica repetitiva a proposta de um tentando se adaptar ao outro, como Jackson imitando o assassino de forma completamente atrapalhada, ou Toronto tentando socializar em um jantar.

Sem contar que é como se Woody Harrelson fizesse o papel de Woody Harrelson, e Kevin Hart, de Kevin Hart. Falta uma personalidade maior ao material. Além disso, a dupla de roteirista dá pouca atenção ao desenvolvimento de Jasmine Mathews e praticamente ignora Kaley Cuoco, que aparece cerca de cinco minutos como uma personagem genérica.

O texto envolve diversos clichês de filmes de ação, como um ex-coronel de um país da América do Sul com um plano maligno, o assassino que tem uma reputação inabalável, entre diversos outros. Em nenhum momento, a proposta principal sai da zona de conforto dos roteiristas. Outro ponto que poderia ser melhor elaborado é que algumas cenas contam com um CGI apenas regular, como um trecho que se passa em um avião em pleno voo e fica bem evidente que foi gravado em estúdio.

Mas nem tudo é ruim. A obra conta com boas cenas de ação, com Woody Harrelson lidando bem com as coreografias de luta, com destaque para um longo plano-sequência de uma briga na academia, que é muito divertido. “O Homem de Toronto” é um filme que não inova e nem tem grandes intenções. Assim, a Netflix garante mais uma repetição bem executada para o seu catálogo.