Imagine você tendo que cuidar de uma mansão de luxo por uma semana, enquanto os proprietários ricos estão viajando. Ser pago para comer, dormir, limpar algumas coisas e vigiar o cachorrinho adestrado, à primeira vista parece um trabalho dos sonhos. Agora imagine se uma simples abelha resolve te acompanhar nessa jornada e, como um furacão, acaba transformando a “colônia de férias” num completo desastre. Pois essa é premissa que acompanha Rowan Atkinson no divertido “Homem x Abelha: A Batalha“, lançamento da Netflix que promove a volta do ator inglês ao humor físico que ele consolidou com Mr. Bean, e que aqui demonstra não estar nem um pouco enferrujado.

Escrita pelo próprio Rowan Atkinson em parceria com Will Davies, esta comédia de erros e consequências devastadoras aposta na dinâmica do intérprete de Mr. Bean, agora com mais diálogos, para dar vida ao protagonista Trevor, o atrapalhado housesitter. Ciente de sua previsibilidade, a narrativa não se importa em começar pelo fim, mostrando o empregado sendo julgado por diversos crimes, impulsionados já sabemos por quem ou o quê. Essa opção, não só serve para alimentar a curiosidade do público como reforça o nível de desastre causado pela guerra entre Trevor e o indestrutível Zangão. O que vem a seguir apenas comprova o tamanho do estrago.

Apesar da ausência de novidades ou plot twists, a série mostra que, mesmo fazendo o simples, é uma das boas surpresas no catálogo da Netflix, reunindo elementos infalíveis para conquistar a audiência. Os nove episódios são bem curtinhos — cada um com aproximadamente 12 minutos, o que torna fácil o consumo pela geração atual. Piscou, acabou! Em tempos de debate sobre qual o limite do humor, a série traz um estilo de comédia leve e agradável, pautada por poucas falas e muito humor físico, afinal, o que mais se pode esperar da relação entre um homem e uma abelha. E por fim, a presença sempre carismática de Rowan Atkinson, que, à vontade no papel, faz rir como poucos.

Longe dos holofotes desde 2018 quando atuou em “Johnny English 3.0“, o inglês de 67 anos, sob a batuta do diretor David Kerr, está de volta ao ambiente que lhe é familiar e sem fazer muito esforço transforma a série num passatempo bem-humorado. Sua interação com objetos inanimados altamente tecnológicos, o cachorro Cupcake e a abelha do título resultam em momentos impagáveis. Os clássicos movimentos de dança como quando o inseto entra em sua roupa também é uma fórmula comprovadamente hilária. Além disso, sobram pequenos momentos para estabelecer uma relação afetuosa e verdadeira com a filha Maddy (India Fowler).

Outro mérito da narrativa é conseguir provocar certo desespero no espectador com sequência esperadas. Sabe-se que a tragédia vai acontecer antes mesmo do protagonista, pois as pistas são reveladas logo no primeiro capítulo. Então, resta ao público permanecer à espera dos problemas que virão e das soluções absurdas que Trevor buscará para resolvê-los. Mais interessada no desenvolvimento do que na introdução e no desfecho, o final da série, como é de se imaginar, não apresenta uma resolução inesperada, mas nem por isso frustra a experiência ao longo dos episódios. “Homem x Abelha: A Batalha” é a única guerra possível para dar risada.