Transbordando amor por musicais e com um protagonista formidável, filme da Disney conquista com uma trama cativante, genuína e engraçada.
Tim Federle foi dançarino de musicais na Broadway e escreveu o livro Better Nate Than Ever em 2013. Agora, o próprio Federle roteirizou e dirigiu a adaptação homônima de seu livro para o Disney Plus, cujo título no Brasil ficou “Apresentando Nate”. A história gira em torno do personagem-título (Rueby Wood, radiando carisma), um garoto fanático por musicais, conhecendo músicas de obras dos anos 70 e se dedicando a conseguir um importante papel na peça da escola.
Por meio de Nate, Federle despeja seu amor pelo mundo do teatro orquestral. Seja por situações em que o protagonista se encontra, ou por comentários sagazes com sua melhor amiga, Libby (Aria Brooks, carinhosamente ácida), o espectador encontrará um festival de momentos divertidos e realçados pela devoção pura e genuína do menino. Aliás, para o público que conhece o universo de musicais da Broadway, esse filme é nada menos do que um deleite.
Após não conseguir o papel que queria, uma nova oportunidade se apresenta a Nate, que embarca em uma aventura para Broadway, local que tanto admira e com o qual tanto sonha que tudo parece uma peregrinação para ele. Lá, ele se encontra com a tia Heidi (Lisa Kudrow), atriz que trabalha como garçonete.
Federle é showrunner da série “High School Musical: A Série: O Musical”, e dirigiu o especial de Natal da mesma. Com tão pouca experiência, é surpreendente o quanto sua direção traz personalidade ao filme, se valendo de bons cortes bruscos para quebrar momentos e gerar humor de resultados inesperados. Além do mais, há pequenas sacadas aqui que enriquecem a obra, como o figurino da diretora do vindouro musical fictício de “Lilo & Stitch”.
Já o ator principal é um achado. Rueby Wood faz sua estreia em longas-metragens, mas foi o protagonista do musical de “A Fantástica Fábrica de Chocolate”. Contudo, o que ele consegue trazer para tela vai além de seu talento como cantor e dançarino. Seu amor ingênuo e inocente pela arte faz com que o espectador acredite em cada palavra sua, e fica impossível não torcer para que ele consiga seus sonhados objetivos. Do mesmo modo, quando é solicitado usar seu carisma para criar humor, ele acerta na mosca. A sequência em que precisa comprar um carregador de celular, descobre que não tem dinheiro, acaba cantando na rua com uma banda no improviso, ganha um elogio de uma lenda da música e volta para comprar o produto é uma sucessão de momentos que colocam sorrisos no rosto.
Musicais se valem de sequências onde os personagens cantam e dançam não de forma literal, mas como uma janela para suas almas e pensamentos. Federle faz o mesmo com Nate, com cenas carinhosas que aquecem o coração, mas também temperadas pelos cortes mencionados antes. A experiência de criar uma peça na Broadway recebe vários elementos de criação no roteiro, de testes de elenco à influência de bons agentes, e enriquece todo o lore ofertado.
Há subtramas que não ganham muito peso, como os sentimentos mal resolvidos entre a tia e a mãe de Nate, e tudo que envolve o irmão mais velho. Mas os atores criam personagens queridos o bastante para que nada faça real falta ao subir dos créditos — que, além de tudo, servem como um delicioso epílogo.
O longa é engraçado e tocante, tem um protagonista formidável que conquista qualquer um, além da direção afiada do novato Federle, que já cria empolgação ao ter sido escalado para comandar o terceiro filme da franquia “Mudança de Hábito”. “Apresentando Nate” transborda carisma e cativa espectadores de qualquer idade, principalmente aqueles que já são fãs de musicais.