Animação dirigida por Richard Linklater conta uma boa história sobre infância e humanidade. Destacando a corrida espacial, o diretor valoriza os momentos únicos de uma criança no subúrbio de Houston.
“Apollo 10 e Meio: Aventura na Era Espacial” é uma história sobre nostalgia. Também é sobre se maravilhar com as evoluções do homem, a descoberta do desconhecido em meio a todos os problemas que possam acontecer no mundo. Mas, acima de tudo, é uma história que contrasta a imaginação de uma criança com o amadurecimento de um adulto. A trama se passa em 1969, no subúrbio de Houston, próximo da sede da NASA.
Dirigida e roteirizada por Richard Linklater (“Boyhood: Da Infância à Juventude”), a aventura é narrada por Stanley (Jack Black), que relata suas ações naquela saudosa época. A obra se divide claramente em dois formatos: o jovem que entra no projeto Apollo 10 e Meio, e a parte saudosista, que mostra como era a vida de uma criança em 1969.
O jovem Stan praticava esporte no recreio da escola quando recebeu a visita de dois funcionários da agência espacial. Eles apresentaram uma proposta ultrassecreta após falarem com os professores, que o elogiaram e o indicaram para uma missão. A NASA construiu acidentalmente um módulo lunar pequeno demais, precisando do garoto para ajudar a vencer os russos na corrida para chegar na Lua. Isso pode ter acontecido… ou não.
Pouco importa se é motivo da imaginação do menino ou não, pois em menos de cinco minutos, o diretor pausa essa parte da história e passa a utilizar um tipo de slideshow, com cortes rápidos apresentando a corrida espacial e o ambiente político e social daquele período. Mesmo em meio a conflitos raciais, Guerra Fria contra a União Soviética, Guerra do Vietnã, manifestações contra a repressão policial, tudo parecia normal na cabeça de uma criança.
O texto de Linklater contrasta bem as vantagens e desvantagens da vida no subúrbio, que estava em pleno crescimento com novos centros comerciais, ao mesmo tempo em que o lixo acumulado poderia causar problemas no futuro e a possibilidade de superpopulação era assustadora já nessa época. Era sim um período de otimismo, afinal, a evolução da ciência e da tecnologia poderia resolver todos os problemas.
Com um ponto de vista autobiográfico, o diretor destaca cada atividade das crianças com um olhar apaixonado. Uma simples explicação sobre os fliperamas se transforma em algo maior, como a técnica utilizada para jogar mais vezes e ainda conseguir comprar uma Coca-Cola. Tudo ganha um brilho no olhar, as idas ao cinema com a avó, as músicas preferidas das suas irmãs, as diversas séries de televisão, as tarefas em casa que eram extremamente bem divididas, as brincadeiras na rua e muito mais.
A animação é realizada por meio da rotoscopia, com desenhos dos animadores feitos por cima de cenas gravadas por atores. A técnica já foi utilizada por Linklater em “Waking Life” e “O Homem Duplo”, mas aqui ajuda a ressaltar momentos de extremo realismo e trechos que claramente fazem parte de uma fantasia.
“Apollo 10 e Meio” enfatiza a nostalgia por muito tempo, até mais do que devia. Mas não deixa de ser um tipo de documento histórico sobre como a corrida espacial influenciou a vida daquelas pessoas, mudou o cotidiano dos adultos com propagandas de progresso, e mudou a vida das crianças com novas brincadeiras, como escorregadores em formato de foguete. Grandes feitos da humanidade só nos ajudam a exaltar a pureza da vida cotidiana.