Após tanto se esforçar, Liam Neeson parece, enfim, chegar ao fundo do poço no subgênero que ele mesmo criou.
Liam Neeson conseguiu transformar os filmes de ação em um produto muito rentável enquanto sua carreira já caminha para o fim. No entanto, em suas últimas produções, o ator já aparece sem ritmo, sinalizando que não consegue acompanhar a demanda física que algumas sequências exigem, o que impacta na energia da narrativa. Fora isso, os roteiros pouco intrigantes não conseguem ir além do trivial, e Neeson se vê incapaz de explorar mais de um ângulo em seus personagens. O que nos leva ao recém-lançado “Agente das Sombras“, em que Neeson liga de vez o piloto automático. Desmotivado e sentindo o peso dos quase 70 anos, o veterano se mostra refém do passado e também de histórias que se apoiam exclusivamente no carisma da persona que ele acabou criando.
Escrito por Mark Williams, que retoma a parceria com Neeson após o mediano “Legado Explosivo“, a partir de um argumento de Nick May, o roteiro nos apresenta a Travis Block (Neeson), um ex-combatente no Vietnã que agora trabalha de forma extraoficial para o FBI, ajudando agentes secretos que se encontram em situações da qual não conseguem escapar ou que estão passando por algum tipo de conflito psicológico. Porém, quando o agente Dusty Crane (Taylor John Smith) questiona as ordens do chefe da federação e ameaça revelar segredos de justiça a uma jornalista (Emmy Raver-Lampman), Travis se vê no meio de uma conspiração que, além de posicioná-lo frente a frente com um amigo do passado, pode colocar a sua vida e a da sua família em risco.
Narrativas que envolvem algum tipo de conspiração e integrantes da família em risco não são novidades no cinema, e muito menos quando se trata dos “filmes de Liam Neeson”. Embora a premissa seja repetitiva, esse ponto de partida está longe dos principais motivos que tornam o filme sofrível e sem sentido. Não contente em reciclar sinopses, o roteiro de Mark Williams é incapaz de estabelecer uma conexão coerente entre seus atos, desenvolver a personalidade do protagonista, criar reviravoltas interessantes e articular os conflitos com objetividade. Um exemplo para essa falta de foco é que o roteirista leva metade do tempo para situar o protagonista sobre o seu verdadeiro propósito. Num filme de 100 minutos, a sensação é de que não existe ligação entre começo e fim.
Com um roteiro confuso, não surpreende a falta de habilidade de Williams para corrigir os erros quando chega a hora de filmar. O diretor, que já tinha sido genérico em “Legado Explosivo”, aqui demonstra muita preguiça na ação e zero inventividade na construção das sequências. Repetitivas, as cenas de perseguição utilizando carros sofrem com os cortes da montagem, e àquelas que acontecem a pé são prejudicadas pelo fôlego limitado de Neeson, que sempre acaba parando no meio do caminho para recuperar o oxigênio — resultando em uma quebra de ritmo e suspense. Para piorar, a direção força a barra com excessivos planos-detalhes que só servem para quebrar expectativas, e o uso do ângulo holandês, que recorrente, deixa de cumprir sua função dramática e se transforma em muleta.
Sem inspiração para desenvolver as sequências de ação e conflitos corriqueiros, resta a Liam Neeson carregar o filme com o seu carisma e a experiência que o tornaram o grande chamariz das produções. Mas, desta vez, mais velho, cansado e sem tanta desenvoltura, fica pesado até para alguém do seu calibre. Neeson não consegue entregar fisicamente, e isso fica notório quando encena lutas corpo a corpo. Praticado de maneira lenta, os combates soam artificiais e deixam transparecer a coreografia. Soma-se a isso o fato de sua veia dramática ser subaproveitada pelo roteiro, com o ator tendo que se virar com diálogos expositivos e frases de efeito que não causam efeito. “Agente das Sombras” é um filme sonolento e sem emoção, feito sob encomenda e para Liam Neeson pagar boletos enquanto espera um bom papel.