Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 19 de dezembro de 2021

Um Menino Chamado Natal (Netflix, 2021): complicada lenda de origem

Conto da Netflix possui uma origem curiosa sobre o Natal, mas o roteiro acaba quebrando a narrativa com complexidade excessiva para as crianças e ritmo errado.

Os filmes de Natal ficam em uma estante muito especial no coração dos amantes do gênero. Se é bom, se torna um clássico, assistido anualmente, como “O Grinch” e “Esqueceram de Mim”, por exemplo. Se é ruim, na pior das hipóteses, o espectador fica com um quentinho no coração e bola para frente. “Um Menino Chamado Natal”, disponível na Netflix, fica exatamente no meio termo dessa balança, com um bom elenco, mas elementos previsíveis.

Dirigido e escrito por Gil Kenan (“Poltergeist – O Fenômeno“), em conjunto com Ol Parker (“Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo“) no roteiro, o filme é dividido em duas vertentes. A primeira gira em torno da tia Vera (Maggie Smith), que vai cuidar das crianças por uma noite enquanto o pai vai para o escritório – para os pequenos dormirem, ela decide contar uma história sobre a origem do Natal. Já a segunda é a representação dessa lenda que está sendo contada, alternando assim entre a realidade e o conto.

O maior destaque, é claro, é na história de Nikolas (Henry Lawfull), um jovem que mora no meio de uma floresta da Finlândia com o seu pai Joel (Michiel Huisman). Os dois ainda enfrentam o luto após a morte da mãe do menino e vivem em busca de dinheiro para conseguirem uma estabilidade, afinal, o pouco que sobra, vai direto para a alimentação básica. Com uma oportunidade de mudar de vida, após uma convocação do rei, Joel decide aceitar a missão de seguir em busca de algo mágico para o reino, rumo a Vila dos Duendes, onde viviam os elfos.

Após seu pai partir para o extremo norte e passar um tempo sofrendo nas mãos da sua maldosa tia Carlotta (Kristen Wiig), Nikolas descobre uma espécie de mapa para a Vila dos Duendes em um gorro vermelho que foi presente da sua mãe. Assim, em companhia de um rato de estimação chamado Miika (dublado por Stephen Merchant), ele foge de casa em busca do pai e da magia para o reino.

Com pouco mais de 1h45, a obra vai perdendo o compasso conforme a história anda, com longos diálogos. A lenda parece ser complexa e tensa demais para as crianças e inocente demais para os adultos. É fácil decifrar todo o roteiro ainda durante os primeiros minutos do filme, muito por conta das dicas em excesso colocadas no texto do primeiro ato. Por outro lado, certos momentos passam muito rápido de forma desnecessária, como a jornada do protagonista pelas montanhas de gelo, que dura apenas alguns minutos, e a contextualização da vilã, Mãe Vodal (Sally Hawkins), feita de forma muito apressada.

No fim do primeiro ato, o rato Miika começa a falar, auxiliando o jovem ator a ter com quem conversar, evitando assim que o menino fique em silêncio ao longo da sua jornada. Entretanto, os diálogos são genéricos, voltados exclusivamente para servir de alívio cômico. Os efeitos especiais são ótimos, principalmente em relação ao comportamento dos animais – a única ponderação é voltada aos efeitos e movimentação de uma personagem que é uma fada, que acabam parecendo artificiais e desnecessários.

A variação entre a realidade e a história acaba quebrando a narrativa em momentos aleatórios. Nem mesmo as belíssimas transições fluídas entre as cenas ajudam a retomar o mesmo ritmo antes da paralização, que na maior parte das vezes, é feita para um comentário qualquer por parte das crianças ou alguma ponderação rabugenta da personagem de Maggie Smith.

Baseado no livro de Matt Haig, “Um Menino Chamado Natal” tinha uma história de origem diferente e curiosa para ser contada, mas o ritmo lento e o roteiro que não ajuda, terminam jogando contra. É uma pena, pois trata-se uma obra tecnicamente muito bem desenvolvida. A própria Netflix conta com dois longas-metragens que podem ajudar a preencher essa busca por magia natalina: entre na área de busca e digite “Klaus” ou “Crônicas de Natal“. De nada.

Fábio Rossini
@FabioRossinii

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