Agradando crianças e adultos, obra de Michael Dowse conta uma história muito familiar para diversos gamers. Com piadas rápidas e excelente elenco jovem, comédia utiliza algo material para exaltar a magia do Natal.
A nostalgia tem um poder muito grande, exala boas memórias e propaga uma saudade boa sobre tempos mais simples. Quando um conteúdo é nostálgico, passa a impressão que é escrito com uma pitada a mais de paixão. “Natal em 8-Bits”, uma comédia familiar disponível na HBO Max, realiza uma combinação potente demais: a magia do Natal com o fascínio dos games. Baseada no livro homônimo do roteirista Kevin Jakubowski, a obra gira em torno de uma história que Jake Doyle (Neil Patrick Harris) conta para sua filha Annie (Sophia Reid-Gantzert). Ao chegar na casa da avó para passar o Natal, a menina logo fica entediada. Jake tem a ideia de apresentar seu Nintendinho, um videogame que tinha quando criança e que o fez muito feliz. Para entreter a jovem, ele começa a contar uma divertida jornada que uma criança precisava enfrentar para ter acesso a um videogame no fim dos anos 1980.
Dirigido por Michael Dowse (“Será Que?”), o filme se divide em cenas de Jake no presente e no passado, com o jovem protagonista interpretado por Winslow Fegley, que recentemente fez um bom trabalho em “Noitários de Arrepiar”. Quando Dowse apresenta as cenas do passado, a entusiasmada narração fica por conta de Neil Patrick Harris, sempre com piadas pontuais em meio a história.
O roteiro de Jakubowski conta com elementos bem datados da época, por exemplo: antigamente os pais não ligavam muito para a segurança das crianças; não importava o que acontecia no mundo, sempre tinha aula normal no dia seguinte; sempre era um desafio para convencer os pais a comprar alguma coisa, entre muitos outros padrões. Em relação aos games, é perfeita a representação do jovem Jake ao ver o videogame pela primeira vez. É incrível ver algo que parecia tão distante assim na sua frente. E assim como em outras “coincidências padronizadas”, sempre tinha um menino mais rico na rua que tinha o videogame antes dos outros.
Com um excelente elenco jovem, o texto se aproveita das diferenças geracionais, sempre exagerando no tamanho da piada, com uma proposta de humor parecida com a de desenhos animados como “Bob Esponja” e “Hora de Aventura”. Mesmo apresentando tecnologias que as crianças de hoje em dia nem entenderiam e diversas citações de clássicos do cinema dos anos 1980, “Natal em 8-Bits” consegue agradar tanto as crianças quanto os adultos. A fórmula tende a sempre surpreender, principalmente no terceiro ato, que abraça mais o espírito natalino. Michael Dowse conduz a narrativa com uma leveza ímpar, sempre focando em um contexto material, mas sem perder por um segundo a essência da época.
Completamente atingido pela nostalgia, esse texto pode soar familiar demais para o crítico que aqui escreve. O ideal é sempre evitar citações pessoais em críticas de cinema, mas uma das minhas memórias de infância favoritas é do dia em que vi um Nintendo 64 debaixo da árvore de Natal daqui de casa. De fato, o Natal não é só feito de presentes, mas ver a pessoa que você ama receber algo que esperava muito, traz um brilho no olhar que comove e sensibiliza qualquer um. Que as crianças continuem a receber aquilo que tanto sonham e que o cinema continue criando obras que se conectam com histórias pessoais. Nada é mais cinema do que isso.