Filme dirigido e roteirizado por Brian Duffield entrega ótimos personagens e história tão assustadora quanto romântica.
“Espontânea” conta a história da adolescente Marla (Katherine Langford), quando uma situação completamente insana começa a acontecer na sua escola: sem nenhum motivo aparente, seus colegas de classe começam a entrar em combustão espontânea e explodir em segundos. Enquanto o pânico toma conta e os adultos e especialistas tentam descobrir o que está acontecendo e como encontrar uma solução, Marla tenta lidar com as perdas, seus próprios demônios e o início de um relacionamento amoroso com um de seus colegas, Dylan (Charlie Plummer).
Dirigido e roteirizado por Brian Duffield, e adaptado do livro “Spontaneous”, de Aaron Starmer, a obra é muito eficiente no que se propõe a fazer. O roteiro de Duffield é engraçado e melancólico, enquanto sua direção é certeira.
O desenvolvimento de Marla é explorado muito bem, assim como seu relacionamento com Dylan. Ele é um rapaz doce e que realmente se importa com Marla, e o relacionamento criado entre eles é realista, bonito e cheio de charme. Em momentos, é até possível esquecer a loucura do plot principal, até que Duffield, de forma muito inteligente, nos surpreende com um momento chocante causado pela combustão de algum adolescente. Porém, eventualmente, chega um momento do filme que é impossível não sentir medo pelos personagens. Até nos momentos mais românticos e divertidos, o diretor consegue criar esse clima de “qualquer um pode morrer a qualquer momento” competentemente, escolhendo os momentos certos para assustar a audiência. Mesmo com dois lados que poderiam ser bem distintos, o filme consegue construir desenvolvimentos satisfatórios tanto pro romance quanto pro elemento misterioso (e bem cheio de gore) das mortes.
A angústia adolescente é retratada em muitos filmes, porém nem sempre de forma tão acertada como é feito aqui. Em “Espontânea”, a aflição sentida pela protagonista não parece algo arbitrário. Vemos que ela tem uma boa relação familiar, uma amizade sólida com sua melhor amiga Tess (Hayley Law), além do romance que vai crescendo entre ela e Dylan, e mesmo assim é possível entender que sua tristeza vem de um lugar que independe das boas influências da sua vida.
Esse aspecto de sua personagem condiz bastante com a realidade de pessoas que lutam com problemas como ansiedade e depressão, e foi muito bem explorado tanto pela direção quanto pelo roteiro, sem pesar a mão desnecessariamente. Quem já passou por uma fase parecida e sentiu o mesmo tipo de melancolia quando era adolescente (ou até mais velho) provavelmente vai se conectar bastante com a protagonista. De modo geral, o filme não aposta nos estereótipos comuns dos filmes adolescentes.
Outro aspecto do roteiro que vale a pena pontuar é a relação saudável que Marla tem com seus pais. Enquanto muitos filmes do gênero decidem apertar o acelerador no drama nesse aspecto, aqui a relação retratada entre eles parece de uma família feliz. Óbvio que existem conflitos e discussões, mas a sensação que é passada é de que o amor entre Marla e seus pais sempre prevalece. Duffield também consegue inserir sequências bastante originais, dando um charme e personalidade maiores à sua direção pela forma que ele decide retratar acontecimentos chave, ou momentos que de primeira parecem inconsequentes, mas no final se mostram muito certeiros nos seus objetivos.
A mudança de tom que acontece no terceiro ato, saindo um pouco da comédia e explorando mais a tristeza da situação, é retratada com muito cuidado e não acontece de forma brusca. Tudo que leva a narrativa até sua conclusão é muito bem articulado, e quando o filme chega ao seu fim, fica claro que aquele era o curso natural do que deveria acontecer na história. “Espontânea” é uma ótima pedida para quem gosta de filmes adolescentes com histórias agridoces. Diverte, emociona e tem tudo para virar uma referência do gênero.