Apesar dos grandes nomes e da boa premissa, a série se rende à artificialidade que busca combater e naufraga uma tendência que tem rendido bons frutos na recente leva de lançamentos.
As histórias ambientadas em paraísos luxuosos e hotéis exóticos parecem ter ganhado um novo fôlego no último ano. Povoados por figuras divididas entre a sua verdadeira essência e aparências superficiais, tais narrativas têm esbanjado cada vez mais simbolismos para a necessidade de se fugir da realidade, ainda mais exacerbada no contexto atual. Bebendo dessas fórmulas, “Nove Desconhecidos”, nova atração da Amazon Prime Video, não é muito diferente.
E o que poderia ser um elogio, considerando a capacidade de nessas premissas encontrarmos interessantes reflexões, todavia, se converte em crítica diante da incapacidade do seriado em ir além com as suas próprias pernas, minimizada perante a quase inexistente, e em quase nada autoral, direção de Jonathan Levine.
Trazendo um grande elenco, os episódios exploram os traumas de nove personagens – unificados em alguns núcleos mas que se desconhecem entre si – que se reúnem em um spa misterioso para irem em busca da melhor versão de si mesmos. Comandado pela misteriosa Masha (Nicole Kidman), o lugar abriga segredos sombrios e irá submetê-los a procedimentos questionáveis, para dizer o mínimo.
Embora consiga entreter em algumas de suas finalizações, que em certos momentos entregam cliffhangers efetivos, é com pesar que o desenvolvimento da minissérie pareça mínimo ao final do oitavo episódio, incapaz de sustentar suas personagens frágeis e evidente ausência de ideias ao longo de toda a duração projetada.
Objetiva, a produção se beneficia, por outro lado, de sua simplicidade, deixando claro o seu discurso e grande objetivo central. Entretanto, saturado perante a recente leva de lançamento superiores, como “The White Lotus” e “Tempo”, é desgastante como o mesmo se desenrola por meio da reciclagem de planos e o abuso de clichês, que minimizam as situações como um todo e aqueles que acompanhamos em cena.
Ao pregar essa dissociação entre imagem e natureza, é curioso perceber como a obra acaba se prejudicando justamente pelo que tenta denunciar, artificializada ao máximo e satisfeita em se contentar com os mais óbvios caminhos construídos em tela.
Seria injusto ignorar que a clareza temática e o carisma da maior parte do elenco – que consegue entregar personas bastante cativantes, conforme demonstram Melissa McCarthy, Michael Shannon e Bobby Cannavale – tornam a experiência minimamente agradável, mas é igualmente triste reconhecer que o interminável uso de flashbacks e a representação visual mais literal possível de certos aspectos tornam essa uma maratona bastante esquecível.
Adaptando o seu livro base homônimo da maneira mais literal e conveniente possível, “Nove Desconhecidos” defende a necessidade de adotarmos caminhos radicais para a nossa autoevolução sem a mesma coragem de fazê-lo que as suas personagens. A série é, desse modo, minimamente interessante, mas não consegue ir muito além da artificialidade que reveste a misteriosa estadia no spa Tranquilium.