Em clima de despedida, os primeiros episódios da temporada final chegam animados, mas sem criatividade e dando sinais de esgotamento.
“La Casa de Papel” é um case de sucesso, que sofre, justamente, de seu próprio êxito. Inicialmente projetada para uma temporada, a série criada por Álex Pina se tornou uma das queridinhas do público após ser comprada pela Netflix e, sem deixar de lado também os méritos narrativos, viu sua história ser prolongada. Lançada em 2017, a produção chega em 2021 (talvez o roubo mais longo da história) com o primeiro compacto de episódios de sua quinta e derradeira temporada. Sem Nairóbi, uma de suas personagens mais carismáticas, com o bando cercado, o professor encurralado e os ânimos à flor da pele, o Volume 1 da Parte 5 aposta na ação, mas esbarra em velhos problemas enquanto tenta criar um desfecho compatível com a sua longa trajetória.
O começo do fim de “La Casa de Papel” retoma imediatamente a partir dos últimos acontecimentos da quarta parte, quando Lisboa (Itziar Ituño) consegue se juntar ao bando e o Professor (Álvaro Morte), convicto de que o roubo estava sob controle, é surpreendido em seu esconderijo pela ardilosa – e ainda grávida! – policial Alícia Sierra (Najwa Nimri), depois que esta é promovida a bode expiatório pelo inescrupuloso Coronel Tamayo (Fernando Cayo). Agora, com o cerco se fechando e o mentor vulnerável como jamais esteve antes, o grupo de mascarados precisa improvisar para manter o plano dentro dos eixos, mesmo que para isso seja necessário colocar em risco a vida dos integrantes ao iniciar uma guerra de nervos, tiros e granadas.
Reconhecida por seu incrível poder de enrolação, a série precisa, enfim, terminar. E isso faz com que aperte o passo e vá para o tudo ou nada. Antes de promover um encerramento honroso, apoteótico e emocionante, Álex Pina investe no caos, que tem início com a incapacidade do Professor de agir. Sem poder contar com as habilidades de seu maestro, os mascarados vão perdendo terreno na tentativa de saírem ilesos do assalto e o que resta é operar por conta própria. Com isso a narrativa ganha em urgência, ação e imprevisibilidade, porém, não consegue escapar dos mesmos vícios: diálogos expositivos, sequências absurdas que menosprezam a inteligência do público, apelo excessivo da narração em off e flashbacks desnecessários.
Usados à exaustão, esses artifícios acabam impactando negativamente a primeira metade do ato final, momento em que a narrativa deveria despertar no espectador um sentimento de saudades ao invés de indiferença. Se antes as sequências mais ilógicas eram divertidas, agora essas mesmas sequências são elevadas a um patamar em que o descolamento da realidade vai levar o ser humano mais descrente a questionar-se sobre a veracidade dos fatos. Se já não fosse o bastante, a narração expositiva e autoindulgente de Tóquio (Úrsula Corberó) também vai minando a paciência e a presença da personagem se torna problemática. Soma-se a isso a insistência em flashbacks com Berlim, apenas para justificar a entrada de outras figuras, as quais podem ser relevantes no futuro, mas que aqui não agregam em nada e parecem mais um spin-off do núcleo principal.
Inchada, com voltas no tempo, e cheia de exageros esperados, o início da parte 5 de “La Casa de Papel” busca fôlego na ação e continua a exibir um ótimo senso de tensão, com a adrenalina subindo conforme o passar dos episódios. Também ensaia mais uma despedida com estilo, mas que de tanto anunciada diminui o impacto da emoção. Diante de tudo isso e ciente de que precisa encontrar uma saída digna para algo que já poderia ter terminado, a produção sobrevive de espasmos e dá sinais de esgotamento, correndo o risco de terminar sem grande interesse e repercussão. Uma injustiça com tantos personagens carismáticos. Um preço que pode sair bem caro por esticar tanto a corda.