Produção sino-americana se vale da premissa de um clássico para contar uma bela história de amizade e esperança.
Produzido pela chinesa Base Animation e pela americana Sony Pictures Animation, e lançado pela Netflix, “Din e o Dragão Genial” se vale da premissa de “Aladdin” para contar uma história calorosa com personagens carismáticos.
Na estreia de Chris Applehans na direção, o filme começa com uma montagem mostrando duas crianças, Din (Jimmy Wong) e Li Na (Natasha Liu Bordizzo) formando uma forte amizade, que ajuda ambos a superarem situações difíceis de suas rotinas. Infelizmente, após alguns anos, o pai da garota consegue um emprego em outro lugar e eles precisam se mudar. A aventura de verdade começa dez anos depois, com Din tentando se reencontrar com Li Na, agora uma celebridade. Ele se depara com um excêntrico velho que lhe entrega um pequeno bule, de onde sai o dragão mágico Long (John Cho), que concede três desejos ao detentor do objeto.
Apesar das semelhanças, o longa não se resume a uma cópia do clássico da Disney. Há bons elementos aqui que engradecem a história, como a relação entre Din e Long. O garoto é esperançoso pela vida que tem pela frente, contrastando com o decepcionado dragão, que testemunhou humanos por milhares de anos e não tem a menor fé em nenhum deles, já que todos os pedidos até então eram egoístas.
Essa é a deixa do roteiro para discorrer sobre classes sociais na sociedade capitalista contemporânea. O problema de consumismo excessivo é debatido pela trama, em que sucesso financeiro e objetos caros tomam o lugar de carinho e afeto, criando pessoas que, mesmo ricas, são infelizes. O contraste das humildes e pequenas moradias dos vizinhos de Din com os luxuosos arranha-céus de Xangai reforça essa temática, ao mesmo tempo que realça os belos cenários, sendo mais um elemento que alimenta a carga narrativa proposta. Mesmo tratando de temas sérios, o filme nunca é pesado, com uma aventura divertida, pontuada com ótimo humor e, o mais importante, com alma.
Humor, aliás, é um dos destaques. Não que o foco seja absolutamente na comédia, mas há variados tipos, o que mantém um frescor na experiência. De puro pastelão à piadas de peixe-fora-d’água de um dragão que não está familiarizado com a tecnologia atual, há bons momentos de risadas.
Também deve ser elogiado o quanto personagens secundários conseguem ter suas histórias, suas vivências são sentidas e eles não passam despercebidos como coadjuvantes sem peso. Principalmente com a mãe de Din e o pai de Li Na, que trazem diferentes aspectos de amor paternal que impactam não só as jornadas de seus filhos, mas também tecem seus próprios comentários ao capitalismo.
O filme tem a produção de Jackie Chan, que empresta sua voz na versão original em mandarim, já que a animação foi produzida em dois idiomas, mirando numa autenticidade que só a perfeita sincronia das bocas dos personagens com os sons emitidos pode conseguir. Nota-se também o kung fu presente na história, com lutas criativas que parecem ter saído de um longa do celebrado ator.
É inegável que os atores originais fizeram um excelente trabalho, particularmente Cho em seu dragão cínico e sarcástico, que vai de aparente alívio cômico a se transformar no coração do filme. A dublagem brasileira não fica atrás, com o trio Robson Kumode, Ricardo Sawaya e Erika Kou dando vida a personagens e tornando-os palpáveis, além de serem exemplos de como a escalação de atores, tanto no original como aqui no Brasil, procurou trazer pessoas de origens asiáticas para interpretar papeis asiáticos, sempre válido para que a obra ganhe em autenticidade.
Ao subir dos créditos, esta animação não procura reinventar as mensagens de um clássico, mas consegue exaltá-la e trazer sua própria personalidade a este mito. Com personagens carismáticos, belos cenários e um elenco em sintonia, “Din e o Dragão Genial” rende mais do que uma boa sessão, tendo boas mensagens e lições para ensinar.