Obra protagonizada por Jason Momoa e Isabela Merced critica a indústria farmacêutica misturando cenas dramáticas com ação bem coreografada.
Um homem precisa se vingar de um CEO de uma grande empresa após a morte da sua mulher. Sim, parece um molde clássico para alguns filmes de ação. “Justiça em Família”, disponível na Netflix, entretanto, busca a todo momento fugir dos padrões e, por mais que os conceitos sejam repetidos, a obra tem seus méritos…até que um grande segredo é revelado.
Dirigida por Brian Andrew Mendoza, que tem diversos trabalhos como produtor e estreia seu primeiro longa-metragem, a trama gira em torno de Ray Cooper (Jason Momoa), um pai de família que acompanha a batalha da sua esposa Amanda (Adria Arjona) contra o câncer. Junto com a sua filha Rachel (Isabela Merced), eles passam por um momento de desespero ao saber que o remédio que a mantém viva está fora do mercado e o genérico deste medicamento não foi aprovado.
Isso porque a BioPrime, do CEO Simon Keeley (Justin Bartha), pagou os fabricantes para que atrasem o remédio indefinidamente, acabando com a esperança de vida para Amanda. Com a ferida aberta e de luto após a morte da esposa, Ray parte para um plano de vingança enquanto é perseguido por capangas pagos pela indústria farmacêutica, em uma rede de mentiras que chega ao nível federal.
O roteiro de Philip Eisner (“A Era da Escuridão”) e Gregg Hurwitz (“O Livro de Henry”) usa o primeiro ato para contextualizar a vingança de Ray por meio de retalhos de histórias, pulando de tempos em tempos e apresentando em pequenos arcos como pai e filha lidaram com o luto. O texto também aproveita para mexer no vespeiro e criticar o monopólio dos grandes conglomerados farmacêuticos, assim como condena o sistema de saúde pública americano, afinal, meses depois do falecimento da esposa, o protagonista segue recebendo contas do hospital. Infelizmente, ambos os temas acabam sendo pouco explorados.
A dupla de roteiristas inclui mudanças na estrutura da obra, propondo nos primeiros 30 minutos um enfrentamento que tinha tudo para estar no final do filme e um fim de arco que tinha a cara de encerramento ainda no segundo ato. Essas mudanças criam um ritmo dinâmico, tudo preparado para um grande plot twist, que à primeira vista é incrível e impressionante, mas, se parar para pensar por dois minutos, não faz sentido algum.
Momoa corresponde às cenas de ação com lutas bem coreografadas – a câmera na mão acompanhando o protagonista faz toda a diferença, criando um clima de tensão sem dificultar a visibilidade da cena, um erro comum nesse gênero. Além disso, ele mostra um lado dramático pouco visto na sua carreira ao se desesperar após ficar sabendo da temida notícia sobre sua esposa. O ator interpreta uma pessoa que fala pouco, portanto, a personagem de Merced serve de orelha para explicar um pouco dos planos do protagonista para o espectador. A atriz também merece destaque nas cenas dramáticas, vivendo uma jovem que está naquele meio termo entre uma menina apaixonada pelo bicho de pelúcia e a mulher pronta para enfrentar o mundo.
“Justiça em Família” tenta sair da zona de conforto ao mesmo tempo que faz bem o feijão com arroz dos filmes de ação. Entretanto, tende a ter um rápido esquecimento entre as tantas obras do gênero lançadas na própria plataforma de streaming. Com o plot twist, o diretor fez um all-in, aquela jogada do pôquer que arrisca todas as suas fichas. É uma pena que ele acabou saindo da mesa sem a bolada.