Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 05 de julho de 2021

A Guerra do Amanhã (Prime Video, 2021): salvando o mundo com clichês

Nem o carisma intergaláctico de Chris Pratt pode salvar uma obra com roteiro tão fraco e que abraça todos os clichês dos filmes de ação.

Engana-se quem pensa que a carreira de Chris Pratt começou nas grandes franquias. Seu primeiro trabalho em longa-metragem foi creditado em 2003, passando por papéis pequenos até ganhar destaque na série “Parks & Recreation“. Depois de dividir cena com elencos estelares de “Guardiões da Galáxia” e “Jurassic World”, ele finalmente foi protagonista em “Passageiros”, mas a experiência não funcionou muito. “A Guerra do Amanhã”, lançamento do Amazon Prime Video, seria mais uma oportunidade para o ator provar que já consegue realizar voos solos com segurança. Mas será que deu certo?

A trama dirigida por Chris McKay (da série “Frango Robô“ e “Lego Batman: O Filme”) trata duas histórias centrais, uma em 2022 e outra em 2051. A primeira é sobre Dan Forester (Chris Pratt), um amoroso pai de família que comandou missões de combate no Iraque e que atualmente leciona Biologia no Ensino Médio. A segunda é sobre viajantes do tempo que trazem uma notícia urgente: em 2051, a humanidade vai perder uma guerra contra os garras-brancas, uma espécie mortífera de alienígenas.

O roteiro de Zach Dean (“Um Dia Para Viver”) tenta conciliar os dois arcos, mas sempre tende para o lado emocional. Forester é um dos milhões de civis convocados para ser enviado para o futuro e tentar salvar o mundo, deixando a sua esposa Emmy (Betty Gilpin) e sua filha de 9 anos (Ryan Kiera Armstrong) para ir em uma missão de 7 dias. Com tantos clichês, não é uma surpresa quando as nações se encontram em ruínas, sobrando apenas os americanos para fazer o serviço. Ou quando os personagens precisam fazer uma invasão secreta em terreno russo. Quando tudo fica assim previsível, sinal de que tem coisa errada com o texto.

Mesmo com o foco em uma história em nível global, McKay acaba enfatizando apenas a relação entre o protagonista e sua família. No futuro, Dan descobre grandes erros cometidos por ele mesmo após 2022, fazendo com que tenha de resolver a situação com a sua filha e, nas horas vagas, salvar o mundo. Pra ficar um pouco mais confuso, no presente, Dan tem uma ligação conturbada com o seu pai, James Forester (J.K. Simmons, em um papel muito aquém do seu talento) e esse ponto é arrastado por todo o filme.

Com tanta informação pra passar, a trama fica muito episódica, cada meia hora possui um gancho diferente, frustrando a continuidade da obra como um todo. O roteirista inclui a todo momento uma cena emocionante com uma cena cômica com timing completamente desregulado. O personagem de Sam Richardson, que tinha potencial pra ser um bom companheiro do protagonista no futuro, vira um problema, pois Zach Dean sente uma necessidade de encaixar uma piada no texto.

Até as cenas de ação ficam problemáticas, mas por outro motivo: as criaturas possuem pontos fracos no pescoço e na barriga, mas ninguém usa isso a seu favor. Os combates não ficam plasticamente interessantes, pois os personagens acabam atirando para todos os cantos sem a menor estratégia. Com 450 tiros em direção ao alvo, uma hora um deles acaba indo pro local certo. Se existe um ponto positivo na trama é o CGI, que cria um design interessante para as viagens do tempo e a catarse do terceiro ato.

Com a união desses problemas, acaba sobrando para Chris Pratt, que não consegue segurar as pontas mesmo com o seu carisma intergaláctico. Ele parece perdido no papel, não se encaixa nas cenas dramáticas e tampouco nas de comédia. J.K. Simmons aparece pouco em tela e seu personagem é praticamente irrelevante.

“A Guerra do Amanhã” tem uma premissa interessante, com um elenco que tinha tudo pra dar certo. Mas com um roteiro fraco e escolhas erradas para as cenas de ação, acaba se transformando em mais uma daquelas obras que serão vistas apenas uma vez e serão esquecidas. Ao invés de ficar marcado como exemplo de guerra futurista, será lembrado (ou não lembrado) como o longa em que o protagonista tentou utilizar todos os clichês dos filmes de ação para salvar o mundo.

Fábio Rossini
@FabioRossinii

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