Nova aventura pós-apocalíptica da Netflix tem péssimo roteiro e ação genérica. Com uma trama que gira em torno do sono, o mais difícil é lutar para não dormir até o final.
Após um grande incidente global, toda a humanidade foi afetada, menos uma jovem que não sofreu com as consequências, pois é imune. Assim, todos querem capturar a garota para ir atrás da cura. Sim, parece muito com o enredo do jogo “The Last of Us”, mas trata-se da sinopse de “Awake”, novo suspense da Netflix. A diferença, porém, é que no filme, tal evento faz com que as pessoas percam a habilidade de dormir. A trama, dirigida por Mark Raso (“Kodachrome”), destaca a história de Jill (Gina Rodriguez), uma ex-militar que precisa proteger seus filhos Noah (Lucius Hoyos), e Matilda (Ariana Greenblatt), uma das poucas pessoas do mundo que consegue dormir normalmente.
Em pouco tempo, as pessoas percebem que os carros param de funcionar, os celulares não ligam mais e as pessoas começam a enlouquecer, passando a ter alucinações e perdem o senso crítico. Jill fica em dúvida: levar a garota para ser estudada e buscar uma possível cura ou salvar a vida dela? O roteiro escrito pelo próprio diretor em conjunto com Gregory Poirier (“A Lenda do Tesouro Perdido: Livro dos Segredos”) e Joseph Raso (da série “Seed”), não consegue fugir da história genérica pós-apocalíptica.
O trio decide que as coisas simplesmente não precisam fazer sentido. As cenas descritas a seguir não são vitais para a história, mas demonstram como o roteiro é bizarro. Durante uma missa, o texto sugere uma argumentação sobre o fanatismo religioso e ocorre um embate vergonhoso entre Igreja e Ciência em um momento completamente inoportuno entre o padre e um homem que quer levar a garota para um centro médico. Em outro momento, surge uma discussão sobre a queima de livros e Terra plana, tudo isso enquanto a criança dirige o carro. Destacando apenas mais uma cena, Jill precisa invadir uma base militar trancada com código numérico, um soldado fala o código em voz alta para outro e, simplesmente decorando o código, ela entra com uma tranquilidade ímpar. É realmente inacreditável pensar que roteiros assim são aprovados.
Depois de um tempo sem dormir, as pessoas ficam malucas, mas no filme, umas viram praticamente zumbis, outras passam a querer atirar umas nas outras, como se a única saída da loucura fosse a pura violência. Sobre o evento catastrófico, são duas linhas com explicações genéricas, como algo relacionado a eletromagnetismo e fica por isso mesmo.
Gina Rodriguez cumpre bem o seu papel de mãe preocupada, mas sua personagem tem zero desenvolvimento, assim como Ariana Greenblatt, que vem recebendo papéis em filmes grandiosos, como “Amor e Monstros”, “O Grande Ivan” e “Em um Bairro de Nova York”. Lucius Hoyos é aquele adolescente insuportável que nunca ajuda em nada, como já foi visto em centenas de filmes. Quando uma criança de cerca de 10 anos é a personagem mais inteligente da trama, esse é um evidente sinal de que existe algo muito errado com o roteiro.
O diretor até tenta incluir pequenos planos-sequência, que são bem interessantes, mas que são prejudicados com uma ação fraca e sem inspiração. Ao criar uma história em que as pessoas não conseguem dormir, faltou desenvolver um ritmo menos sonolento. Depois de encontrar um argumento intrigante com “Bird Box”, tentar algo mediano com “O Silêncio”, a Netflix acaba de esgotar seus créditos pós-apocalípticos.