Vazio e extremamente confuso, filme é um suspense policial atrapalhado e que em nada se esforça para se conectar com o espectador.
Atordoado pelo recente assassinato de sua filha, o ex-policial Jacob Kanon (Jeffrey Dean Morgan) decide fazer justiça com as próprias mãos. Afastado de sua esposa Valerie (Famke Janssen) e consumido por uma fulminante sede de vingança, ele acaba descobrindo que a fatídica morte está ligada às ações de um possível assassino em série. Essa descoberta acontece em função de cartões postais que o suspeito passa a espalhar ao redor do mundo. Destituído de qualquer backstory ou traços de profundidade, é assim que as escolhas de nosso protagonista iniciam o sofrível “Postais Mortíferos“, filme inédito lançado pelo Telecine que em nada se compara aos thrillers que tenta emular.
Dirigido pelo bósnio Danis Tanovic, a obra não tarda em apresentar um ritmo bastante conturbado, incapaz de oferecer segmentos que permitam ao espectador respirar e tentar processar a caótica sucessão de acontecimentos em tela. Desse modo, e aliado a um péssimo trabalho de montagem, não é difícil se confundir e demorar a compreender sequer a localização das personagens no espaço, tamanha a priorização de planos desnecessários e a ausência de trechos básicos que, dignos de uma produção bastante incompetente, falham até mesmo em introduzir espacialmente pessoas em determinados cenários. Em relação aos momentos que podiam ser facilmente eliminados, estes denunciam uma nítida tentativa de amplificar a suposta inteligência do longa, intercalando assim linhas narrativas de personagens desinteressantes e que são apenas efetivas em atrasar o andamento da trama central.
Incapaz de ir muito longe com a tábua rasa que recebeu para interpretar, é também deprimente testemunhar o desperdício do bom Jeffrey Dean Morgan. O ator se vê forçado a oscilar entre momentos de pura apatia e explosões repentinas de gestos e expressões forçadas, risíveis no exercício de arrancar emoções do espectador. Dividindo a tela com a igualmente inexistente Cush Jumbo, atriz que interpreta Dessie Lombard, jornalista que se torna parceira de Kanon no avançar da narrativa, a ausência de aspectos que o individualizam como sujeito dificulta qualquer aproximação entre público e protagonista, tornando a não muito extensa duração do filme difícil de se acompanhar.
Seria injusto ignorar que as motivações do antagonista são até interessantes, acendendo fragmentos do que poderia se mostrar uma ótima discussão acerca de traumas hereditários e sobre os impactos que os rótulos socialmente impostos determinam. Transmitidas de maneira preguiçosa e tão pouco idealizadas pela equipe envolvida – haja visto o livro pré-existente, da dupla Liza Marklund e James Patterson, no qual o longa se baseia -, tais ideias perdem qualquer mérito. Estas apenas reforçam o produto genérico e totalmente derivado que temos aqui, sem a capacidade sequer de apresentar um trabalho de fotografia que entregue boas composições cênicas ou imagens minimamente agradáveis.
Desse modo, “Postais Mortíferos” é mais um suspense esquecível que apenas envergonha a vasta linhagem policial em que se baseia. Confuso e extremamente vazio, é uma obra fadada ao esquecimento e que pouco merece ser conferida.