Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 20 de maio de 2021

Castlevania (Netflix, 2017-2021): história épica e sangrenta do começo ao fim

Sem perder a relevância e com temporadas bem consistentes, a série chega ao fim como uma das melhores adaptações de videogame.

Castlevania” estreou em 2017 na Netflix, sem muito alarde e focada num nicho dos assinantes. Na época, foram somente 4 capítulos, o suficiente para impressionar com seu visual estiloso e sua violência plástica, deixando o espectador ansiando por mais. Após 4 temporadas e um total de 32 episódios, a história de Trevor Belmont, Sypha Belnades e Alucard chega a sua conclusão, oferecendo um desfecho honroso para suas criaturas. A série de animação, que antes de começar carregava a árdua missão de se manter fiel à natureza do videogame, não desapontou nem os fãs e muito menos os novos espectadores. Apostando no sangue, na brutalidade gráfica e na complexidade de seus personagens, a narrativa apontou para um caminho e seguiu num ritmo alucinante, catapultando “Castlevania” ao posto de uma das melhores produções originais do catálogo.

Baseada no jogo japonês de 1989, “Castlevania III: Dracula’s Curse”, da Konami, a série acompanha ao longo de suas quatro temporadas a jornada de luta do último caçador de vampiros Trevor Belmont, a maga Sypha e o vampiro Alucard contra o conde Drácula Vlad Tepes e o exército de demônios que vem adiante. Com uma primeira temporada expressiva, porém curta demais para ser apreciada, “Castlevania” mostra seu apetite insaciável por sangue no capítulo seguinte, quando, com as principais peças posicionadas no tabuleiro, vai pavimentando o caminho que os protagonistas irão trilhar até o confronto épico com o Príncipe das Trevas, agora um pouco mais velho e cansado, mas possuído por um enorme desejo de vingança. Trata-se de uma temporada que agrada pela forte veia dramática e também por permanecer visceral na maneira que ilustra as consequências das lutas.

Ao final desta segunda, uma dúvida: Como manter o espectador envolvido sem a presença de um de seus personagens mais icônicos? A resposta, além de ser um grande trunfo, também representa um passo importante nas ambições da série. A adaptação de Warren Ellis mantém o mito do Conde Drácula pairando sobre a narrativa ao passo que espanta todas as incertezas com uma continuação empolgante e inventiva, em que figuras secundárias como os mestres da forja Hector e Isaac e a vampira Carmilla saltam ao protagonismo, ganham espaço e os obstáculos se mostram tão ameaçadores quanto aqueles vistos anteriormente. Enquanto isso, o roteiro estreita a relação da dupla Belmont e Sypha durante uma incursão misteriosa e mortal a um vilarejo tomado por forças ocultas. O ponto de alerta fica por conta de Alucard, que passa os capítulos num período de reflexão insossa.

Beirando a perfeição – e com um penúltimo episódio lancinante e memorável -, a terceira temporada eleva o sarrafo para o tão aguardado desfecho da série. Os destinos de Belmont, Sypha, Alucard, Isaac, Hector e Carmilla seguem em aberto, mas com o cerco se fechando. Figuras como Saint Germain e Varney de Londres incrementam o roteiro afiado da adaptação, cujo mérito é chegar a sua temporada final prometendo ao espectador nada menos do que o épico. E as expectativas são correspondidas a cada novo capítulo. A abertura é um show de cabeças rolando, vísceras para todos os lados e potência nos confrontos. Sempre inovando em sua maneira de praticar o extermínio, a última parte de “Castlevania” tende a deixar o espectador em êxtase com suas bem elaboradas e criativas sequências de ação e também com os diálogos inteligentes e provocativos a respeito das motivações dos protagonistas.

Quando se fala em “Castlevania”, imediatamente vem à cabeça sua abordagem crua e impactante sobre o sedutor universo dos vampiros. E com muita justiça. No entanto, nem só de tripas e monstros se faz esta série. Há, aqui, uma preocupação em ir além do que se vê nos games. Ao longo das quatro temporadas, as ideias do criador Warren Ellis, levadas à luz pela direção enérgica de Sam Deats, resultaram numa história cheia de nuances. Texto denso, envolvente e repleto de diálogos inteligentes que, por vezes, oferecem conversas existencialistas, colocando o público para se questionar e torcer por heróis e vilões na mesma proporção. A tentativa de humor não se sai muito bem, sendo um dos poucos “porém” da animação, mas em nada atrapalha o desenvolvimento e consolidação de “Castlevania” e seu legado de como adaptar uma obra e fazê-la de forma honrosa e memorável.

Renato Caliman
@renato_caliman

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