Animação produzida por Phil Lord e Christopher Miller conta com uma direção de arte impecável e um roteiro que entende e se diverte com a relação da nova geração com a tecnologia.
Em conjunto com a Pixar, a Sony Pictures Animation é um dos estúdios de animação que mais se arriscam e desenvolvem novas maneiras de se contar uma história. Para a criação de “Homem-Aranha no Aranhaverso”, a empresa desenvolveu uma junção entre a linguagem das HQs com animação 2D. O objetivo era rejuvenescer o herói, trazendo novamente a sua essência. Já em “A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas”, nova animação produzida por Phil Lord e Christopher Miller, lançada na Netflix, a utilização desses elementos representa toda a criatividade de Katie Mitchell, uma nerd aspirante a cineasta que busca se acertar com o pai para começar sua nova vida na faculdade.
A trama, dirigida e escrita por Mike Rianda e Jeff Rowe (ambos da série “Gravity Falls”), conta a história dos Mitchells, que além de Katie, a família conta com o seu pai Rick, o irmão Aaron, a mãe Linda e o pug Monchi (que foi “dublado” pelo Doug The Pug, um cachorro com um perfil no Instagram que vale uma visita). A jovem levou um tempo para se descobrir e sente que nunca se encaixou muito bem, mas acredita que quando for para a faculdade vai finalmente encontrar a sua tribo. Já o pai, ama natureza e sabe consertar tudo, menos a sua relação com a garota – ele não entende muito bem toda a arte criada pela sua filha, ao mesmo tempo que ela não sabe quanto que o seu pai se esforça para fazê-la feliz. Para tentar acertar as contas, Rick decide cancelar a viagem de avião para levá-la de carro junto com toda a família, começando assim um road movie.
Enquanto isso, o CEO de uma empresa de tecnologia acaba de lançar seu projeto mais futurista: um corpo robótico para a inteligência artificial dos smartphones. As máquinas aproveitam a oportunidade do lançamento para uma rebelião liderada por PAL, uma paródia da Siri, que mesmo presa em um celular, tem um rosto digital com expressões, ironia e tudo que uma vilã tem direito. Os robôs desligam o wi-fi do mundo todo e prendem todos os humanos do mundo em um tipo de gaiola, porém apenas quatro pessoas conseguem se esconder: claro, a família Mitchell. Com a criatividade de Katie, eles iniciam uma complicada missão para salvar o mundo.
O trabalho de direção de arte da animação é impecável. Os personagens parecem humanos, mas tem um estilo próprio, bem parecido com o que a Pixar fez recentemente com “Soul”. A adição do 2D por meio de desenhos espalhados pelas cenas, por mais rápida e simples que possa parecer, faz toda a diferença por apresentar um pouco mais do sentimento que cada integrante da família está sentindo. Por exemplo, quando a mãe faz algo agradável, surge um pequeno coração ao seu lado. Já quando o irmão está triste, seu movimento cria um pequeno dinossauro com uma lágrima nos olhos.
O roteiro se aprofunda na história de todos os integrantes, criando um laço bem fácil com o espectador, além de criticar o monopólio tecnológico que rouba dados dos usuários e cria mil maneiras de incluir as inteligências artificiais nos produtos, criando uma nova relação das famílias com as suas casas. Outra base do texto é a dualidade entre a nova geração, que não sai do celular, contra a antiga, que não entende como tudo funciona, mas que acha uma perda de tempo. As piadas têm um ritmo bem rápido e a trama não fica cansativa mesmo com as quase duas horas de duração. O terceiro ato, porém, poderia ser um pouco mais pé no chão, mas nada que afete o excelente plot twist no final.
Por mais que a premissa seja uma loucura, são tantos detalhes que a Netflix é a plataforma perfeita pra assistir a obra, pois vale a pena ver de novo pausando cada cena para encontrar piadas escondidas nas anotações adicionadas na tela. O tipo de humor é bem parecido com “Uma Aventura Lego”, com uma pegada mais voltada para o humor nonsense. Falando em robôs, é bem evidente a inspiração no HAL, de “2001: Uma Odisseia no Espaço” para o desenvolvimento da vilã, PAL.
“A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas” serve como um lembrete para as gerações anteriores perceberem como a vida mudou. A tecnologia faz parte do nosso cotidiano e o celular é o jeito que a nova geração aprendeu a vivenciar, se inspirar, imaginar e criar. Colocar o smartphone no papel de vilão só te deixa mais atrasado. Enquanto a inovação e a criatividade for incentivada, teremos obras extraordinárias para assistir e se inspirar.
Quanto à revolta das máquinas, o robô da Boston Dynamics já está fazendo parkour. #EstamosDeOlho.