Comédia protagonizada por Eddie Murphy e Arsenio Hall se aproveita da nostalgia e ainda assim consegue caminhar com suas próprias pernas ao aprofundar os personagens e criar uma obra original.
“O que o cinema americano tem além dos super-heróis e as sequências de filmes velhos que ninguém pediu?”. A frase citada por um dos protagonistas de “Um Príncipe em Nova York 2”, do Amazon Prime Video, representa muita coisa. Por muito tempo, as continuações de grandes clássicos foram criticadas principalmente por dois pontos: o sinal de um grande obstáculo criativo por parte dos roteiristas, que precisariam apelar para personagens já criados para ganhar dinheiro, e o exagerado apoio na nostalgia, que dividia aqueles que desejavam uma história nova e outros que preferiam deixar a obra intacta. Entretanto, existe um elemento para esses filmes que faz toda a diferença: a baixa expectativa. Mais de 30 anos após o lançamento, Eddie Murphy e Arsenio Hall retornam para ignorar todos esses paradigmas.
A trama, agora dirigida por Craig Brewer (“Meu Nome é Dolemite”), mais uma vez, é protagonizada por Akeem (Eddie Murhpy), que segue casado com Lisa McDowell (Shari Headley) e acaba de se tornar rei após a morte do seu pai. Quando o vidente Baba descobre que o novo líder de Zamunda tem um filho bastardo na América, o rei e seu fiel companheiro Semmi (Arsenio Hall) decidem voltar para o Queens. A dupla passa pela clássica barbearia do bairro e, de primeira, acha com enorme facilidade o novo herdeiro do trono, LaVelle Junson (Jermaine Fowler), que trabalhava vendendo ingressos falsos no Madison Square Garden. Agora, diferente do primeiro filme, o choque de cultura é ao contrário, o herdeiro e sua mãe Mary (Leslie Jones) aceitam o convite e viajam para o fictício reino africano para o jovem realizar “testes principescos” de cultura, pensamento crítico e coragem, tudo para verificar se está pronto para o cargo.
De acordo com as leis locais de Zamunda, as mulheres não podem governar, o que deixa as três filhas de Akeem, as princesas Meeka (KiKi Layne), Tinashe (Akiley Love) e Omma (Bella Murphy), bem contrariadas. O roteiro de Kenya Barris (da série “Black-ish”) se aproveita dessas regras ultrapassadas para incluir de forma natural a necessidade do empoderamento feminino na região. O tema também é essencial para o rei refletir o monarca que ele quer se tornar, não aquele que o seu pai queria.
Os figurinos, desenhados por Ruth E. Carter, vencedora do Oscar em 2019 pelo trabalho excepcional em “Pantera Negra”, estão impecáveis. O funeral do rei, ainda no primeiro ato, é um show à parte, incluindo a excelente trilha sonora que inclui batidas africanas misturadas com elementos de hip-hop, e a ótima coreografia de Fatima Robinson, que já trabalhou com Kendrick Lamar e Pharrell Williams.
“O Príncipe em Nova York 2” sabe dosar muito bem a parte da nostalgia e da homenagem. Tudo de melhor do primeiro filme retorna por aqui: Cleo McDowell, o grupo da barbearia está lá, o pastor, entre muitas outras pequenas participações especiais, por isso, é essencial ter em mente a obra de 1988 para aproveitar melhor as piadas mais discretas. Mais do que apenas se apoiar nas boas lembranças, a trama consegue atualizar temas, aprofundar personagens e o principal, andar com suas próprias pernas. Se todas as sequências de filmes que ninguém pediu seguirem neste nível, o cinema americano pode respirar em paz.