Drama da Netflix usa a arqueologia como pano de fundo para uma história sobre o que se leva da vida e que tipo de memórias queremos deixar para aqueles que amamos.
A arqueologia é uma ciência que estuda vestígios materiais da presença humana. Fragmentos daquilo que uma vida representou pode estar escondido em um objeto, uma história esperando para ser contada. “A Escavação”, novo drama da Netflix, se aprofunda de forma belíssima em uma lição sobre o passado e o futuro. Dirigido por Simon Stone (“A Filha”), a trama baseada em uma história real se passa em 1939, às vésperas da Segunda Guerra Mundial. Edith Pretty (Carey Mulligan) é uma viúva que mora com seu filho Robert (Archie Barnes) em uma mansão em Suffolk, na Inglaterra. Curiosa com alguns montes que fazem parte do seu grande terreno, ela chama Basil Brown (Ralph Fiennes), um arqueólogo amador para escavar suas terras.
Normalmente, essas escavações são feitas com o auxílio de museus, mas em função da guerra, não era possível negociar. Brown, que aprendeu a trabalhar na área quando era criança com o seu pai, realiza uma grande descoberta, que logo vira notícia nacional e motivo de interesse do Museu Britânico. O que importa no filme, entretanto, não é escavação em si, mas sim a forma que as pessoas se relacionam enquanto a descoberta é feita.
O roteiro de Moira Buffini (“O Último Vice-Rei”) apresenta como cada personagem enxerga o passado e encara a morte, principalmente em um ambiente de guerra, com o risco de um ataque aéreo a qualquer momento. Uma das melhores decisões na obra é a introdução apenas no segundo ato do indefinido relacionamento de Stuart (Ben Chaplin) e Peggy Piggott (Lily James), especialistas contratados para ajudar no andamento da escavação. Tal proposta amplia o interesse na melancólica figura de Edith, em mais uma excelente atuação de Mulligan, que não perde a elegância um mísero segundo, mesmo escondendo uma grave doença do seu filho e com medo sobre o que será do seu futuro. A personagem, que já viveu o luto após a morte do seu marido, terá que enfrentar novamente a morte, agora sob uma nova perspectiva.
A trilha sonora de Stefan Gregory, em seu primeiro longa-metragem, cria um belo casamento com a fotografia de Mike Eley (“The Duke“). Enquanto as primeiras cenas são carregadas de uma sensação de curiosidade e exploração, a trilha é esperançosa e a câmera busca sempre a contraluz, aproveitando o melhor dos planos abertos e explorando a ambientação. Aos poucos, a trilha vai se tornando melancólica de acordo com os sentimentos e a saúde de Edith e os tons ficam escuros, por meio de dias chuvosos e um ritmo mais lento.
“A Escavação” é um drama que fala sobre tudo aquilo que deixamos para a próxima geração. Trata-se de história que conta sobre como lidar com a vida mesmo envolto de uma vulnerabilidade, viver sabendo que está correndo riscos. Ao mesmo tempo que nada é para sempre e nada se leva da vida, permanecemos vivos por meio do nosso maior tesouro após a morte: as nossas histórias para aqueles que ficam.