Comédia protagonizada por Leandro Hassum apresenta os clichês do Natal da família brasileira por meio de um roteiro cativante e leve.
As tradições vistas nos filmes de Natal de Hollywood são muito diferentes do Natal no Brasil. Por aqui, pode não ter neve e nem corais cantando de porta em porta, mas nem por isso deixa de ter suas características marcantes, como a família reunida para o jantar e o famoso amigo secreto. Se apoiando nas coisas boas e nos perrengues desta época do ano, a Netflix lança “Tudo Bem no Natal que Vem”, dirigido por Roberto Santucci, que já trabalhou diversas vezes com o roteirista Paulo Cursino e o protagonista Leandro Hassum. O trio já tem tradição nas comédias do cinema brasileiro, incluindo franquias como “Até que a Sorte nos Separe” e “O Candidato Honesto”.
A obra gira em torno de Jorge (Hassum), que odeia o Natal. Ele nasceu no dia 24 de dezembro e na sua infância nunca teve uma festa decente, pois não era o centro das atenções. Mais velho, evitou a data por um tempo, mas quando se casou com Laura (Elisa Pinheiro), foi impossível ignorá-la com as crianças ansiosas para receber um presente do Papai Noel.
Com a insistência da sua esposa Laura, ele se veste de bom velhinho e sobe no telhado, porém perde o equilíbrio, cai e bate a cabeça. Quando retoma a consciência, percebe que se passou um ano do acidente e começa a viver um ciclo interminável, sempre acordando no Natal do ano seguinte e descobrindo seus erros e acertos. Com uma frequente sequência de piadas rápidas, a montagem feita pelo próprio diretor e por Eduardo Hartung (“Modo Avião”) segue o ritmo ágil, ajudando inclusive, com o auxílio de uma maquiagem eficiente, a criar uma sensação de passagem de tempo bem orgânica para os personagens.
Direcionando o texto para os perrengues do Natal no Brasil, o roteirista utiliza a personalidade rabugenta do protagonista para reagir a cada um dos clichês: a tradicional ida ao shopping para comprar presentes com o estacionamento entupido de carros, a fila gigante de carrinhos de compras no mercado, a divisão de receitas entre cada integrante da família, as piadas sem graça dos tios e as crianças levadas. Em resumo, é muito fácil se identificar com as situações e com os personagens.
Outro destaque do texto de Cursino é que Jorge não se lembra do que fez durante os outros 364 dias do ano, sendo obrigado a viver as consequências que ele mesmo criou. Por isso, a presença de Laura é utilizada também para apresentar o que aconteceu de importante ao longo do ano, além de ser um contraponto apaixonante ao expansivo protagonista.
Falando nele, sempre que Jorge tem algum diálogo, sobra espaço para o improviso de Leandro Hassum. Na maior parte das cenas é engraçado, mas em algumas delas, o ator estende demais o timing da piada ou permanece repetindo variantes dela. Por vezes, fica a impressão de que ele larga o personagem por alguns instantes.
“Tudo Bem no Natal que Vem” busca uma originalidade em meio a um padrão tão conhecido no cinema como as variantes de viagens no tempo e perda de memória. Fazendo graça ao confrontar alguns clichês, a obra sabe aproveitar a identificação do público com o tema e as situações que o protagonista se encontra, trazendo um sentimento de leveza necessário para os filmes natalinos. De vez em quando, ver um filme com essa sutileza pode trazer um bem incomensurável.