Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Crônicas de Natal – Parte Dois (Netflix, 2020): um lindo embrulho de presente com meias dentro

Chris Columbus faz excelente trabalho na expansão do universo e Kurt Russell segue impecável como Papai Noel, porém a longa duração e o roteiro batido atrapalham a festa natalina da Netflix.

Com a confirmação de que Chris Columbus seria o diretor de “Crônicas de Natal: Parte Dois”, era justo que a expectativa dos espectadores tivesse uma alta considerável. Afinal, trata-se do diretor de “Esqueceram de Mim”, que permanece até hoje entre os clássicos de Natal de diversos amantes do gênero. Com a promessa de ampliar o universo do longa de 2018, a Netflix apresenta dois anos depois a sequência da história protagonizada por Kurt Russell, que interpreta um Papai Noel bonzinho, mas que também pratica suas travessuras.

Mais uma vez, a trama segue em torno de Kate (Darby Camp), agora uma adolescente, que está revoltada com Bob (Tyrese Gibson), o novo namorado da sua mãe, Claire (Kimberly Williams-Paisley). Tudo por medo de que a memória do seu falecido pai seja deixada de lado. Além disso, a família foi passar o Natal na paradisíaca Cancún, ou seja, nada de bonecos de neve e chocolates quentes.

Com um plano de fuga de volta para os Estados Unidos esquematizado, a jovem é seguida por Jack (Jahzir Bruno), filho de Bob. Ambos são surpreendidos com a presença de Belsnickel (Julian Dennison), um elfo que virou humano e fugiu de casa após descumprir o código da sua espécie. Ele utiliza um portal para transportá-los para o Polo Norte, pois assim conseguiria atrair o bom velhinho, descobrir onde fica a aldeia do Papai Noel e cancelar o Natal de uma vez por todas.

Se tem um diretor no mundo que sabe construir bem universos em franquias, este é Chris Columbus. Da mesma maneira em que abriu caminhos na franquia “Harry Potter”, a obra de Natal ganha aspectos grandiosos e mais ousados do que no primeiro filme. A aldeia do Papai Noel tem um trabalho impecável de CGI e apresenta de forma magnifica a maneira que os elfos produzem os brinquedos, as peculiaridades das renas, a aura que mantém a pequena cidade invisível, entre muitas outras coisas. É quase como a sensação de imersão de quando Harry conhece o mundo dos bruxos no Beco Diagonal.

O diretor também é responsável pelo roteiro em parceria com Matt Lieberman (“Scooby! O Filme”). Ao contrário do primeiro longa-metragem que abraçava os clichês, mas que apresentava uma pitada inovadora, a sequência não consegue imprimir o mesmo ritmo e se mostra tediosa em alguns momentos por causa das quase duas horas de duração. Além de ser mais arrastado, o texto fica complexo demais para as crianças e entediante para os adultos. Inclusive, em certos momentos, se apoia nos mesmos argumentos, como a preocupação do Noel em elevar o nível do Espírito Natalino e a mesma estratégia de incluir um número musical.

Na sequência, Kurt Russell divide os holofotes com Goldie Hawn, que interpreta a Mamãe Noel. Fora das telonas, os dois estão juntos desde 1983, o que ajudou na criação de uma química bem interessante para os personagens. Assim como no primeiro filme, o ator segue com um excelente timing cômico, mas perde um pouco da aura de rebeldia, o que era um diferencial. Já Hawn fica apenas como uma coadjuvante, mostrando uma pessoa extremamente carinhosa e gentil, mas que evita se aventurar, deixando um gostinho de quero mais. Destaque também para a interpretação de Julian Dennison como Belsnickel, que vive uma pessoa amargurada, mas com um olhar de pesar e ressentido, apresentando que o Noel não é tão perfeito assim.

Assim como a Princesa Peach, o Natal sempre precisa ser salvo, essa é uma das essências dos filmes natalinos. “Crônicas de Natal: Parte Dois” segue essa proposta clichê, mas também faz a lição de casa com a presença de Columbus e a ampliação do universo. Tudo é bem construído, mas fica uma frustração, como abrir um embrulho incrível de presente que tem em seu um interior um pacote de meias no tamanho errado.

Fábio Rossini
@FabioRossinii

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