Disney acerta a mão nesta adaptação homônima da série de livros sobre um garoto excêntrico que investiga crimes na sua cidade com um urso polar como parceiro.
Adaptações de livros infantis para a sétima arte existem aos montes. É verdade que a maioria delas se resume a um compilado de eventos das obras literárias que não fazem uso de uma dose decente de criatividade na transição para a mídia audiovisual. “Timmy Fiasco”, um longa original lançado diretamente para a Disney Plus em 2020, felizmente, foge dessa regra.
Baseado na série de livros de mesmo nome escrita por Stephan Pastis (que também colaborou com o roteiro desta adaptação), o filme conta a boa direção de Tom McCarthy (indicado ao Oscar por “Spotlight – Segredos Revelados”) para trazer vivacidade às várias gags visuais pedidas pelo roteiro.
“Fiasco” é o sobrenome do protagonista (a boa surpresa Winslow Fegley), que explica que seus ancestrais tinham um sobrenome com ortografia diferentes, mas acabou sendo mudado. Ele é fundador e CEO da sua empresa de investigações particulares, que, conforme ele defende seriamente, é a melhor da cidade (talvez do mundo!). O único outro funcionário da empresa é seu enorme urso polar chamado Total Fiasco.
Tudo, claro, está na imaginação de Timmy, que tenta sim, ser um detetive destinado a grandiosidade, mas basicamente tenta descobrir que pegou a mochila de quem na escola. Entretanto, é nas representações visuais do que o protagonista imagina acontecendo que o filme acerta muito e cresce em carisma e humor. Quando Timmy vê um homem barbudo e mal encarado, por exemplo, ela acha que são “os russos”, e quando isso é usado para que ele deduza que uma garota de sua classe é um deles, é difícil não rir.
O bom ritmo e o tom certeiro continuam quando a direção oferece cenas onde o protagonista escuta uma informação, mas sua mente a processa de maneira extrapolada dentro do seu mundo de crimes e investigações, é estas inserções são ótimas. São cortes curtos e rápidos que injetam dinamismo na narrativa e rendem bons momentos de humor.
O resto do elenco tem bons nomes em papéis simples que estão lá para reagir às excentricidades de Timmy. Mesmo assim, o roteiro ainda consegue pincelar elementos de subtramas que dão certas camadas aos personagens, e, para este nível de filme, funciona muito bem. Obviamente, não é nenhuma obra-prima da comédia e nem oferece reflexões profundas, mas é uma obra que se entende e abraça sua proposta com louvor e leveza.
Há de se elogiar também os bons efeitos especiais, principalmente para um filme pequeno (para padrões Disney) como esse. O urso tem uma textura incrível e sua interação com objetos reais é crível e palpável, e ajuda na imersão à mente do protagonista, deliciosamente incomum, mas cheia de características cativantes. O melhor é que Timmy sabe que é diferente, e sente orgulho disso; “normal é para pessoas normais”, ele defende, celebrando suas diferenças que o tornam único e, como o próprio diz, destinado a grandiosidade.
A postura de homem sério que a criança tem perante acontecimentos é outro elemento bem utilizado para a comédia. Sempre que algo dá errado, ele reage com “errar é humano”, ao invés de pedir desculpas, pois a investigação é mais importante do que as consequências, e o roteiro ainda explora isso sem tratar o público-alvo como bobocas.
Ao mesmo tempo que defende as individualidades de seus personagens, o texto traz sua lição quando aborda a necessidade de adaptação para que o melhor para todos seja atingido. O urso polar não está lá só para cenas engraçadas, mas representa uma muleta psicológica bem explorada sem exageros ou melodrama, e sem perder o tom leve proposto desde o início.
Com um ótimo protagonista, tom certeiro e boas gags visuais, “Timmy Fiasco” é um dos maiores acertos entre os filmes originais produzidos para a Disney Plus em seu primeiro ano e vale a pena ser conferido com a família toda.