Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 22 de novembro de 2020

#RapaduraRecomenda – Patch Adams – O Amor É Contagioso (1998): tratamento alegre

Longa é tecnicamente falho e preguiçoso, mas a história real é tão inspiradora e Robin Williams instila tanta vida na tela que é impossível não se emocionar.

O Dr. Hunter “Patch” Adams é um médico que fundou o Instituto Gesundheit! em 1971. Em seu trabalho, ele procura usar o humor como medida de tratamento para pacientes e pessoas em sofrimento. Sua vida e as ideias do livro Gesundheit: Good Health Is a Laughing Matter (escrito pelo próprio com o auxílio de Maureen Mylander) foram retratadas no longa “Patch Adams – O Amor É Contagioso”.

A trama ocorre na virada da década de 1960 para a de 1970, e começa com o protagonista, interpretado por Robin Williams, se internando num instituto psiquiátrico após ter tentado o suicídio. Com pouco interesse da equipe médica, Patch acaba achando conforto nos outros pacientes e tem uma epifania. Ele agora quer ser médico e ajudar outros. Então, Patch começa a lidar com o sistema burocrático e impessoal da medicina, que trata os pacientes como números e estatísticas ao invés de pessoas.

A premissa é rapidamente estabelecida e abre as portas para que Williams faça o que fazia de melhor: injetar alegria na tela. Há diálogos piegas que só rendem porque o ator consegue usar seu carisma para abraçar a proposta do papel e entregar falas bobas com uma humanidade que conquista. A primeira vez que ele pergunta o nome para uma paciente é tocante.

O filme é dirigido por Tom Shadyac, que se acertou em obras como “Todo Poderoso” e também é responsável por atrocidades como “O Professor Aloprado”. Aqui, é uma direção simples e preguiçosa, pouco inspirada pela pobreza do roteiro. Cheio de obviedades e facilidades narrativas exageradas, as cenas só rendem pelo talento de Williams, que encaixou como uma luva no papel.

Há um romance aqui entre o protagonista e uma colega (Monica Potter) que é insosso, desconexo e não consegue criar o peso necessário para os arcos de nenhum dos dois. Os atores fazem o possível, mas a falta de química é nítida e funcionam melhor quando estão lidando com cenas que não envolve envolvimento amoroso.

Uma grande controvérsia do filme é que o próprio Hunter Adams não gosta dele. Apesar de estar como figurante numa vital cena perto do fim, ele defende que a obra apenas o retrata como um cara engraçado e pouco diz sobre o ativismo pelo que tanto luta. Outra reclamação é que a produção prometeu dinheiro para que ele construísse o hospital que tanto queria, mas nunca recebeu um centavo.

Entretanto, o filme conta com uma legião de fãs, e isso se deve a um ator principal cativante e suas mensagens de que a medicina deve procurar melhorar a qualidade de vida dos pacientes em vez de apenas atrasar a morte. Há um belo monólogo onde o protagonista contesta a maneira com que a sociedade vê o momento derradeiro da vida de uma pessoa como algo unicamente terrível, defendendo ser possível tratar o paciente de maneira digna, decente, humana e, quiçá, humorística.

Mesmo com um roteiro preguiçoso (responsável por um terceiro ato medonho) que claramente pausa a trama para que Williams brilhe com sua comédia, o ator faz a sessão valer a pena. A cada obviedade incômoda, ele aparece com um grito que contém tanto carinho e conforto que cativa o espectador com sua genuína alegria como numa, digamos, piscina de macarrão, que amolece junto com o coração do público.

“Patch Adams – O Amor É Contagioso” não é um grande filme, mas com a energia festiva de Robin Williams e a inspiradora história real de Hunter Adams, ele se sustenta como um longa agradável e memorável para muitos. Pode não ser tecnicamente brilhante, mas consegue motivar as pessoas a serem melhores com as outras, e isso é eternamente válido.

Bruno Passos
@passosnerds

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