Mesmo não apostando em grandes novidades e sem contar com um orçamento inchado, o longa é o suco do bom e velho escapismo.
Atenção: este filme é um novo lançamento nos cinemas que já estão reabertos no Brasil. O Rapadura recomenda que todos consultem os protocolos de prevenção contra o coronavírus de seus cinemas favoritos para garantir sua segurança.
Antes de discorrer sobre “Destruição Final: O Último Refúgio” é preciso lembrar de uma velha e bem sucedida receita para filmes de desastres apocalípticos, que é obedientemente seguida à risca pela obra:
Ingredientes:
– Uma ameaça apocalíptica (é claro!);
– Uma família em fuga que passa por todo tipo de provação possível e imaginável;
– Seres humanos piores do que a calamidade que aterroriza o planeta;
– Efeitos especiais bacanas;
– Trilha sonora urgente;
– Cenas de ação de tirar o fôlego, com os protagonistas escapando (por milímetros!) dos perigos mais terríveis;
– Diálogos bregas e construtivos;
– Uma lição a se aprender ao final.
Modo de preparo:
– Coloque a família enfrentando perigos naturais e humanos para sobreviver indo do ponto A ao ponto B, utilizando muita correria, CGI farto, falas inacreditáveis, situações impossíveis, bastante suspense, uma lição de vida e bum! Está pronto.
Sem tirar nem pôr, é exatamente isso que você irá encontrar neste thriller, que conta a história de uma família cujo casal está passando por problemas conjugais, quando são abruptamente convocados pelo governo para se abrigar em um bunker coletivo, na iminência do impacto de um fragmento de cometa com o planeta Terra. O que diferencia “Destruição Final” de “desastres”, na pior definição da palavra, como “2012” ou “Tempestade: Planeta em Fúria”, é o quanto ele é honesto consigo mesmo.
Com total controle de suas limitações criativas e orçamentárias, o diretor Ric Roman Waugh (de, vejam só, “Tempestade: Planeta em Fúria”) e o roteirista Chris Sparling (“Enterrado Vivo”) não tentam inventar a roda e fazem um longa cativante, sucinto e até intimista. Quase todas as cenas de destruição global são vistas pelo espectador através do ponto de vista dos personagens, ou seja, por telas de computador, celulares, tablets e TVs. É uma solução arriscada, pois poderia pregar uma pecha de filme barato na produção, mas isso não acontece porque o drama da família organicamente se torna o ponto central da história, sem forçar nenhuma grande barra. Os dramas humanos, inclusive dos personagens que cruzam o caminho com o trio, tornam-se os destaques verdadeiros da trama.
Talvez a escolha do elenco ajude bastante nisso, pois, apesar de contar com um já combalido Gerard Butler, estrela de nove entre dez filmes ruins lançados recentemente, o longa tem como pilares mais firmes e emotivos a atriz brasileira Morena Baccarin e o garoto Roger Dale Floyd, que surpreendentemente fazem com que nos afeiçoemos aos três personagens, principalmente quando eles são abruptamente separados. Seus dramas conduzem firmemente a história até o último minuto.
Sem inovar ou apontar uma grande fórmula secreta, “Destruição Final: O Último Refúgio” é um honestíssimo exemplo do mais puro e simples entretenimento cinematográfico. O que é um alívio, vindo de um ano como 2020.