Com cenas de ação espetaculares e história propositalmente intrincada, o diretor entrega mais uma obra análoga a tudo que já fez antes.
Atenção: este filme é um novo lançamento nos cinemas que já estão reabertos no Brasil. O Rapadura recomenda que todos consultem os protocolos de prevenção contra o coronavírus de seus cinemas favoritos para garantir sua segurança.
Tido por muitos como um dos maiores cineastas das duas últimas décadas, Christopher Nolan pode ser acusado de praticamente tudo, menos de que sua obra é incoerente. Com tiques e toques visuais repetidos à exaustão em toda a sua filmografia, o diretor sabe exatamente o que seu público cativo espera dele e em “Tenet” entrega absolutamente tudo que eles querem ver. Pena que nem todo mundo faça parte dessa plateia cativa.
Neste filme, Nolan extrapola o conceito de viagem no tempo utilizando pontos de vista extremos para contar e complicar a história. O Protagonista é um agente secreto (John David Washington) que se envolve em uma caçada por artefatos escondidos que, reunidos e em mãos erradas, podem destruir o mundo. Contando com a ajuda do espertíssimo parceiro Neil (Robert Pattinson), outro agente da mesma ordem que nunca se consegue saber qual é ao certo, o espião investiga o perigoso contrabandista de armas Andrei Sator (Kenneth Branagh), e consequentemente sua misteriosa esposa Katherine (Elizabeth Debicki), que aparentemente são catalisadores de objetos que se comportam de maneira “antinatural”.
Utilizando-se da velha artimanha de tornar uma história simples em algo intrincado e quase ininteligível, o diretor e também roteirista aqui, preenche os 150 minutos de filme com cenas de ação espetaculares e muito diálogo picotado propositalmente. À primeira vista eles parecem geniais quando completos, mas ao mesmo tempo, ao final do longa, mostram-se cansativos e apenas artifícios para aparentar mais do que se é. No aspecto roteiro, não espere nada muito diferente que uma mistura de “Timecop – O Guardião do Tempo” com qualquer “007”.
O brilho verdadeiro da produção é a sua técnica. Com domínio absolutamente profundo da arte de filmar, Nolan faz aqui o melhor trabalho da sua carreira neste quesito. A soma de efeitos especiais práticos e realistas, com ótimas coreografias, técnicas de fotografia invertidas nunca vistas antes e uma edição de som de arrepiar os cabelos da orelha, é algo de se aplaudir de pé. Algumas “set pieces”, como a de abertura do filme, são de literalmente prender a respiração tamanha a sensação de perigo e urgência que imprimem. Mesmo que emulando o maestro Hans Zimmer e suas cornetas estrambólicas, o compositor Ludwig Göransson faz um bom trabalho no arranjo de suspense e grandiosidade que as cenas praticamente imploram.
Fosse mais curto, tivesse uma gota de bom humor como um “Missão: Impossível” qualquer e fosse menos pretensioso em sua pseudo-história “inteligentíssima”, “Tenet” seria um filmaço de ação. Afinal, como pede a receita, o longa é repleto de cenas de tirar o fôlego, personagens exagerados, atuações caricatas (com exceção de Pattinson) e, para apimentar o caldo, viagens no tempo! Pena que Christopher Nolan ainda se leve a sério demais e aparentemente faça filmes apenas para a sua claque.