Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 05 de setembro de 2020

Amor Garantido (Netflix, 2020): mais do mesmo, e por que não?

Longa nem tenta fingir que vai seguir os clichês de comédias românticas, mas isto o torna uma boa pedida para quem procura exatamente o tipo de conforto que essas obras conseguem oferecer.

Houve um processo contra a cervejaria Coors Light porque ela anunciava que sua bebida era feita com água das nascentes das Montanhas Rochosas, o que, obviamente, era falso. Tal fato inspirou a criação da história de “Amor Garantido”, comédia romântica da Netflix onde Nick (Damon Wayans Jr.) está decepcionado com o app de namoro Love, Guaranteed (daí o nome do filme) porque eles prometem o amor verdadeiro em até mil encontros. Como alguém que já está no 986º, ele se sente indignado e procura a advogada Susan (Rachael Leigh Cook) para buscar justiça.

A premissa altamente boba já deixa claro que esta comédia romântica terá todos os clichês do gênero e será bastante previsível. Isto, por si só, não é absolutamente ruim. Às vezes é tudo o que o espectador quer: a sensação de bem-estar e segurança ofertada por um longa artificialmente utópico com um casal charmoso cheio de química e coadjuvantes engraçadinhos.

Longe de ser um romance divertido memorável, como “Um Lugar Chamado Notting Hill” por exemplo, mas também distante de merecer críticas pesadas, o longa não engana o espectador e entrega o que propõe desde o início. A Seattle representada no outono é cheia de paisagens linda e românticas, com árvores marrons, laranjas e amarelas pincelando belos parques e marinas como moldura de um casal atraente e cheio de charme.

Apesar destes elementos estarem presentes, a química entre os dois não é uma das mais reativas. Wayans Jr. é altivo e charmoso e dribla qualquer tentativa da protagonista de pintá-lo como cafajeste com sua altivez e bom-mocismo. Cook é a melhor coisa do filme com bom timing cômico e uma presença conquistadora em tela. É uma pena que a faísca entre ambos resulte apenas em mornas brasas.

Outro elemento que pode incomodar alguns são os estereotipados coadjuvantes. Servindo apenas de escadas para Cook brilhar ou fazendo piadas com seus exageros, nenhum parece uma pessoa real e complexa. Porém, conforme estabelecido, este não é um filme que procura fugir dos óbvios componentes comuns à maioria dos longas do gênero. Há, pelo menos, uma divertida participação de Heather Graham, apropriadamente exagerada.

Dirigido por Mark Steven Johnson, dos duvidosos “Demolidor” e “Motoqueiro Fantasma”, o filme não tenta trazer nenhum tipo de inovação. Ele bate nas mesmas teclas clichês, com planos abertos para explorar os bonitos cenários, sejam eles externos cheios de beleza da natureza, ou internos com tamanho aconchego que qualquer reclamação de falta de dinheiro da protagonista seja apenas uma piadinha sem peso.

Uma piada que funciona ao longo do filme é o velho e detonado carro da protagonista, que precisa recolar a maçaneta a cada vez que abre e fecha a porta do veículo, e cujo aparelho de som prendeu uma fita com músicas dos anos 1980 que começam a tocar aleatoriamente. Isso rende a desculpa perfeita para canções entrarem nos momentos certos – a cena em que I Think We’re Alone Now, da cantora Tiffany, dispara automaticamente resulta em boas gargalhadas.

Com apenas 90 minutos de duração, o filme entrega o que promete e não deve desapontar fãs de romances bestinhas e humorosos. Trazendo divertidas referências à famosa série “Friends”, atores competentes, boa seleção musical e honestidade quanto a sua proposta, “Amor Garantido” é uma boa pedida para um programa a dois.

Bruno Passos
@passosnerds

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