A aventura ostenta uma boa ideia, porém peca ao entregar uma execução medíocre.
Decerto, uma das principais virtudes de obras do gênero de ficção científica é transportar o espectador para cenários e situações meramente hipotéticas, o permitindo explorar fenômenos extraordinários que, costumeiramente, servem de subtexto para questões mais profundas relacionadas à sociedade e a natureza humana. Nesse sentido, pode-se dizer que o longa “A Caverna”, dos diretores Mark Dennis e Ben Foster, até obtém um relativo êxito ao apostar no conceito de viagem no tempo para criar uma narrativa potencialmente promissora sobre a efemeridade da vida e o impacto humano no meio ambiente, mas que falha terrivelmente em sua execução ao desenvolver um enredo disperso e uma direção igualmente dissonante, sendo incapazes de definir o tom e a real proposta da obra.
A trama acompanha os jovens universitários, Taylor (Reiley McClendon) e Jackie (Brianne Howey), que saem em busca de Hopper (Andrew Wilson), seu professor de arqueologia que desapareceu repentinamente enquanto investigava o paradeiro de seus pais, um casal de hippies que na década de 1970 foram à procura da lendária fonte da juventude e nunca mais retornaram. Para a missão de resgate do mentor, a dupla contará com o apoio de Cara (Cassidy Gifford), sua irmã caçula, Veeves (Olivia Draguicevich) e o atrapalhado Furby (Max Wright). Contudo, o grupo acaba preso em uma caverna subterrânea, onde o tempo passa de maneira diferente.
Apesar de possuir uma premissa atraente e genuinamente interessante, o roteiro de Dennis a desperdiça ao compor uma narrativa desprovida de qualquer coesão e sutileza. De maneira abrupta, o tom do filme alterna entre algo sóbrio, flertando inclusive com elementos do suspense nas partes em que o grupo tenta decifrar os mistérios da caverna, e a mais completa galhofice com direito inclusive a uma batalha mal coreografada entre homens das cavernas e um gigante vindo do futuro, criando assim, um peculiar senso de humor nonsense que acaba por destoar demais do que havia sido estabelecido até então. Em síntese, há duas propostas contrastantes presentes no filme que, aparentemente, se leva a sério demais para assumir de vez a canastrice, ao passo que também não abre mão de ideias que de tão absurdas acabam gerando uma espécie de humor involuntário.
Além do tom inconstante, o longa-metragem sofre igualmente com um sério problema de ritmo. O primeiro ato investe mais tempo do que o necessário na subtrama do arqueólogo que mais adiante é simplesmente descartada. Este arco em particular é demasiadamente mal conduzido e redundante, tendo em vista que, não havia necessidade de mostrar o professor Hopper descobrindo a caverna, indo para casa e retornando ao local. Ao invés disso, bastava apresentá-lo adentrando a gruta e em seguida cortar para uma cena dos alunos preocupados com o seu sumiço e indo resgatá-lo, poupando o público de todo essa enrolação enfadonha.
Na falta de um maior desenvolvimento dos personagens coube ao elenco desempenhar papéis pouco expressivos e superficiais. Para que a história avançasse, o roteiro trata logo de inutilizar dois dos protagonistas, tal escolha prejudica em parte as performances de Reiley McClendon e Brianne Howey que precisam atuar limitando sua fisicalidade, o que, em tese, poderia até soar como um desafio enriquecedor se não fossem os diálogos rasos escritos para os atores. Mas, ninguém é mais prejudicado pelo qualidade do texto do que o jovem Max Wright, que desempenha com carisma o papel de alívio cômico até ser escanteado. Já Cassidy Gifford e Olivia Draguicevich tiveram uma maior oportunidade de desempenharem seus respectivos papéis, e assim o fizeram, embora não sejam necessariamente cativantes e marcantes, pode se dizer que ambas cumprem bem sua função.
Fora o roteiro desconexo, a direção de Dennis e Foster é outro fator que contribui diretamente para o andamento desleixado e pouquíssimo inspirado da obra. Nem mesmo o provável baixo orçamento do filme é capaz de justificar a composição simplista dos enquadramentos esvaziados de qualquer simbolismo a respeito da temática principal. Aliás, devido a forma com que a narrativa é conduzida, ainda restam dúvidas sobre a real compreensão dos realizadores a respeito do tema que optaram por abordar. Tendo em vista o final que foge completamente da essência do que vinha sendo apresentado, resultando, inclusive, no rompimento do forte senso de urgência que vinha sendo desenvolvido, a experiência se torna menos intrigante e seu desfecho, incoerente e decepcionante.
Infelizmente, “A Caverna” não faz jus a sua envolvente premissa, se valendo unicamente do popular conceito de viagem no tempo para atrair espectadores desavisados que, eventualmente, possam acreditar estar diante de algo que realmente valha o seu tempo. Quando na verdade, o desperdiça apostando em um enredo simplório e inconsistente que mais parece um arremedo de histórias aleatórias mescladas a um punhado de subtextos que jamais são de fato aprofundados no decorrer da trama.