O ator Pete Davidson protagoniza essa história de crescimento difícil, mas bem-humorada e divertida, dirigida por Judd Apatow.
Há comédias escrachadas, comédias ácidas e comédias como “O Rei de Staten Island” que são amargas e deixam menos espaço para o riso e mais espaço para o drama. Não que isso seja um demérito, mas comédias dramáticas (ou “dramédias”) não são um subgênero muito comum, e costumam ser receitas mais difíceis de acertar. Felizmente, aqui o diretor Judd Apatow consegue dosar bem os ingredientes ainda que falte um certo tempero. É aquele arroz com feijão que sacia a fome e nada mais.
Quando se vai assistir a um filme do mesmo cineasta responsável por “O Virgem de 40 Anos”, uma das melhores comédias da década passada, é de se esperar um trabalho, no mínimo, hilário, certo? Pois esqueça isso. O Judd Apatow presente está mais para aquele que entregou “Tá Rindo do Quê?” e “Bem-Vindo aos 40”, seus trabalhos mais irregulares, só que dessa vez a história semibiográfica apresentada e suas situações inusitadas (para dizer o mínimo) são atrativos bons o suficiente para manter a atenção do espectador.
A história acompanha o desajustado Scott Carlin (Pete Davidson), um jovem adulto com 24 anos que continua a evitar toda e qualquer responsabilidade, seja com sua mãe Margie (Marisa Tomei), com o namorado dela Ray (Bill Burr) ou com a irmã Claire (Maude Apatow). Scott passa a maior parte do tempo chapado ao lado de seus amigos traficantes “pés de chinelo”, que são usados como cobaias para suas tatuagens toscas. Tudo isso ocorre enquanto ele busca lidar com seus problemas psicológicos, que vêm (entre outros fatores) da perda do pai, bombeiro morto em serviço quando Scott era criança.
Com esse enredo é fácil entender o porquê de o drama ocupar mais espaço de tela, porém as tiradas divertidas e os diálogos dignos da escola de humor que é o “Saturday Night Live” nos Estados Unidos, soam como trechos de stand-ups e adicionam uma camada de leveza muito bem-vinda. É como no momento em que eles lembram que o rapper Jay-Z já foi traficante também, ao que é rebatido por Scott com: “Mas os amigos do Jay-Z dessa época não foram presos ou mortos?… Não dá pra haver quatro Jay-Z’s. Isso não faz sentido!”
Tirando as situações estapafúrdias, típicas de comédias, há muita verdade naquilo que é mostrado em “O Rei de Staten Island”, nas conversas entre velhos e novos amigos, nos conflitos familiares e na dificuldade em se lidar com o crescimento e amadurecimento. Isso se deve também ao fato do ator Pete Davidson co-escrever a história com Apatow e Davi Sirus e dar a ela um ar autobiográfico. O pai dele também foi um bombeiro e morreu em serviço enquanto trabalhava para atender as vítimas do atentado às Torres Gêmeas em 11 de setembro de 2001. Davidson entrega um personagem complexo e crível, e o elenco inteiro faz um bom trabalho, como é o caso de Maude Apatow, mas é Bill Burn quem mais se destaca. O comediante consegue controlar a carga emocional e fornece uma ótima performance ao dizer o que sente de forma branda, deixa transparecer o que ele pensa e diria muito mais se pudesse.
“O Rei de Staten Island” é mais um projeto que carrega o tema e a assinatura de Judd Apatow. É mais uma história de amadurecimento, necessário em diversos momentos da vida, na profissão e nos relacionamentos, e que pode demorar para ocorrer, seja aos 24 ou aos 40 anos, mas é sempre inevitável.